quarta-feira, janeiro 17, 2007

Atrás do Bonde

Todo mundo já ouviu aquela história de que o tempo urge. Lembro-me até que teve um personagem de novela, não me lembro o nome, cujo bordão era um trocadilho a esse respeito: "O tempo ruge". Ultimamente eu tenho mesmo ouvido-o rugir à minha volta como se eu estivesse perdida num daqueles takes vertiginosos, tão populares no cinema, em que o sol nasce e se põe em questão de segundos. E nem dá tempo de levantar da cama e já tenho que me deitar de novo.

Estou com 23 anos, faço 24 no dia 03 de junho próximo. E me sinto abissalmente envelhecida, cansada, como se estivesse carregando pedras numa mochila há tempo demais. E com todo esse peso pendurado nas costas, é como se eu tivesse que perseguir um bonde que vai lá na frente, subindo uma ladeira. Não posso perder o bonde, de algum lugar eu tirei a idéia de que ele não passa duas vezes, nem hoje, nem amanhã. A hora é agora e só se eu correr como louca, a ponto de arrebentar os pulmões, é que conseguirei alcançá-lo.

Mas enquanto corro, me faço as seguintes perguntas: eu quero mesmo alcançar esse troço? Pra que? Pra onde eu estou indo? Por que? E a pior de todas: será que eu sou capaz?

Quando se é adolescente, lá pelos quinze, dezesseis anos, a vida toda se resume em planos de curto e curtísismo prazo. Geralmente passar no vestibular, entrar na faculdade. E pra isso se rala pra caraleo, uns entram, outros não. Whatever. Os que entram soltam um suspiro de alívio, porque algum idiota, não sei quem, incute nos adolescentes a idéia estúpida que o difícil é passar no vestibular, o resto é bico. Logo logo, percebem que o difícil está em ficar no curso que escolheram, o qual 95% das vezes não é nada do que queriam. E depois, tão difícil quanto, é sair de dentro da tal da faculdade, que não motiva ninguém a estudar e nem aprender nada. A maioria passa ilesa pela graduação, e acaba ficando com as festas ou dormindo, porque estão mortos pelo esforço de conciliar trabalho e curso.

Mas, com tudo de ruim que há nesse período, ainda tem algo bom: durante três, quatro, cinco, seis anos, você não tem que decidir nada. Pode até ser um universitário ferrado, duro, andando de ônibus, contando moeda pra tomar uma cerveja, aturando desmando de patrão - estagiário é a sub-raça mor do mundo, só perde pra vendedor de shopping center - e tirando força sei lá da onde pra continuar em frente, mas não tem que escolher rumo NENHUM pra sua vida. É, em última análise, um tempo cômodo. E aí chega o último ano. Somada à euforia de acabar aquela joça, a saudade de alguns bons amigos e algumas boas risadas, a ansiedade: ai, meu Deus, o que eu vou fazer da minha vida agora?

Sim, é hora das decisões de novo. E dessa vez não decisões de curto nem de médio prazo, são decisões pra vida toda. Procurar emprego? Abrir uma empresa? Sair da casa dos pais? Mudar de cidade? Casar? Ter filhos?

Não interessa, meu filho, faça o que fizer, apenas ANDA LOGO, porque o tempo tá passando. E é como se a vida precisasse ser decidida numa mísera semana, levando em conta que o que você escolher fazer tem que pagar direito, tem que ser fonte de sustento. Nada de dar a louca e dizer "ah, vou entrar pro teatro" ou "vou ser músico", caia na real, artista morre de fome, arrume uma profissão de adulto e canalize suas aspirações prum hobby qualquer, é o mais razoável, o mais sensato, o que dará mais orgulho pra mamãe e pro papai, ver o filho bem sucedido, não necessariamente feliz.

Ah, você está apaixonado? Que lindo! Então trate de dar um jeito na vida AINDA MAIS RÁPIDO, afinal, como você vai construir uma família assim? Não, você não pode sair de casa, morar junto com sei lá quem, você é a parte hipossuficiente do relacionamento! Não vai dar certo, meu filho! Pense bem. Mais um incentivo pra correr atrás do bonde com maior gana. E mais uma pedra na mochila.

Mas será?

Eu tenho sentido que a gente precisava poder se importar mais com o que se quer e o que se sente do que com o que se TEM QUE FAZER.

Dá pra ficar feliz assim? Qual o limite de coisas que se tem que suportar calado, engolir? Existe limite pro que se sacrifica "em prol de algo maior, mais importante"?

Sabe, é verdade. O tempo está passando alucinadamente. Agora mesmo, enquanto escrevo tudo isso. Simplesmente passando. Eu não terei 23 anos de novo, não poderei ver a vida pelo prisma que vejo agora em nenhum outro momento. Eu deveria poder parar pra olhar a paisagem, mas em vez disso, preciso continuar a correr. Senão não pego um lugar na janelinha.

5 comentários:

Anônimo disse...

Tem gente que passa mal quando viaja na janela. Tem gente que dorme. Tem gente que simplesmente caga de medo.

E chegam ao destino depois dos que estavam no corredor e desembarcaram primeiro.

Deve ter alguma lição nessas besteiras que eu disse aí em cima. Sinceramente, eu não consegui achar, mas se você conseguir, me avisa :)

Anônimo disse...

Liv,
relaxa. É , eu odeio quando falam isso pra mim, mas as vezes, a gente precisa ouvir. Quem sabe num tá vindo outro bonde, mais vazio, indo pra um lugar melhor, logo ali atrás, mas por vc correr tanto não consegue ver? Pára um pouco pra olhar a paisagem e repete o mantra da Gabi, vc vai ficar bem :)

Lívia disse...

Galera, vocês são adoráveis.

Eric, entendi.

Muffin, você tem toda razão. :-)

Anônimo disse...

Dando uma de Pollyana, antes bonde do que Metrô, não é? Ainda mais aqueles em construção...

No mais, nem adianta eu falar algo porque o bonde já passou algumas vezes e, em todas elas, eu estava lendo alguma coisa ou tinha acabado de acender um cigarro.

Mas enfim, se precisar de alguma coisa, dirija-se ao guichê J da sua janela de MSN. Não não der certo, vá ao guichê C... :oP

Andréa Paes εїз disse...

Vem aqui pra casa cuidar do Shubby, da Pam, do Rick e do Zeus.
Deixa esse bonde passar, muié! Quem disse q esse é o melhor?