
Talvez eu seja muito, muito boba. Mas puxa vida, eu to aqui emocionada.
Há alguns anos – quantos mesmo, hein? Parece outra vida, nossa! – eu me vi chorando com uma sensação parecida com a de agora. Uma coisa meio irracional que faz subir um travo na garganta e não permite maiores questionamentos. Não é pra analisar, é só pra sentir. Há alguns anos, eu me lembro de uma noite em que eu vi acontecer algo que parecia sem precedentes, que parecia uma transformação, que deixou não só a mim, mas a muita gente, esperançosa. Eu me lembro da noite. Muita gente chorava e festejava ao mesmo tempo, até aqueles que eu conhecia bem e sabia serem os mais céticos do mundo. Até esses se permitiram vibrar de esperança, porque há alguns anos, naquela noite, o Lula foi eleito no Brasil pela primeira vez, depois de anos, depois do Collor, depois que tanta coisa tinha acontecido.
Ok, no final nem foi tão transformadora assim, mas naquele dia parecia algo tão especial, uma conquista tão grande. Eu olhava em volta e via todo mundo cantando, rindo e chorando. As pessoas se abraçavam e não precisavam dizer nada – era um sentimento partilhado, o outro entendia muito bem. Aquela coisa esquisita no peito, uma vontade de pular e de cair no chão, de rir e de chorar ainda mais...e eu chorei bastante naquela noite. Não me envergonho de dizer, embora hoje o ceticismo esteja de volta à maioria dos lábios, olhos e corações. Naquele dia eu senti muita esperança e foi bom. Talvez por isso eu me lembre daquilo com tanta nitidez.
Hoje de manhã eu acordei, liguei a televisão e desatei a chorar de novo. Embora eu viesse torcendo por isso há dias, eu realmente não acreditava totalmente que algo tão incrível pudesse acontecer. Cara, Barack Obama é o presidente dos Estados Unidos. DOS ESTADOS UNIDOS!!!! Um país onde mora uma gente – assim eu sempre pensei – arraigada e preconceituosa sem remédio, capaz de atos de ódio incríveis em nome da moral e da respeitabilidade, capaz de apoiar guerras e matar seus jovens por orgulho, presunção e ignorância, capaz de segregar quem é diferente sem dó nem piedade e com requintes de crueldade. Você aí talvez me diga que nem só disso é feito os Estados Unidos, e depois de hoje eu tenho até que concordar. Mas grande parte é sim, e cada vez que entrevistavam alguma daquelas carolas do sul sobre a eleição presidencial e ela discursava sobre Obama não ser um homem de Deus e sobre como a união homossexual é errada e suja, eu sentia um arrepio na espinha. “Meu Deus, não permita que tipos como esse decidam o que será da nação mais poderosa do mundo nos próximos anos”, eu orava em silêncio.
E hoje de manhã, quando ouvi o Renato Machado dizer que o Obama ERA o presidente dos Estados Unidos, eu senti até as pernas fracas. Tinha, afinal, sido uma noite com sol em solo norte americano. Um homem negro!!! O PRIMEIRO HOMEM NEGRO!! Agora, só de escrever isso eu já comecei a chorar de novo. Puxa, isso parece bom demais pra acreditar. Ô, meu Deus, parece que estamos mesmo fadados a evoluir, mesmo quando permanecemos renitentes. Eu me sinto tão feliz em pensar nisso. O país não é meu, o presidente não é meu, mas a emoção por ver que até os casos mais difíceis do mundo são passíveis de melhora, que as idéias (melhores) podem ter tanta força e provocar tantas mudanças, é universal, é inestimável. E agora minha prece muda é que o Obama possa ser o melhor. Pra mostrar pra todos aqueles que votaram no McCain, que a capacidade de um negro é tão grande quanto a de um “branco”. E muitas vezes, até maior.