sexta-feira, maio 30, 2008

Anywhere



Anywhere
Avantasia
Composição: Tobias Sammet


Gabriel:
I remember it was long ago
But when I think of her I fell it grow
Something begs me to come home again
Something I can hardly stand

But I'm to defy, I have to ignore her cry
I don't know what to do, I'm missing you so bad

Waiting for tomorrow, for a little ray of light
Waiting for tomorrow just to see your smile again
Take away my sorrow from a blistered heart of mine
Where are you now if you are there anywhere

Please forgive me for how I decide
But before I can come with rapid strides
Don't expect you'll have to understand
Jakob needs my helping hand

First I have to go one out of two ways
Which both are wrong and I'm to go
So afraid, so ashamed
So deranged - but I know...

Waiting for tomorrow, for a little ray of light
Waiting for tomorrow just to see your smile again
Take away my sorrow from a blistered heart of mine
Where are you now if you are there anywhere

Waiting for tomorrow, for a little ray of light...
I can't wait for you - Are you there - anywhere

quinta-feira, maio 29, 2008

O fato é que hiatos sempre vão existir, por menores que sejam, por ridículos que sejam, por sanáveis que sejam. E acho que um dos meus maiores problemas no fim das contas é tentar não encher o saco das pessoas mesmo quando sinto essa necessidade. Eu tenho essa mania besta de respeitar a vontade e o espaço dos outros e a falha grave de não saber reivindicar atenção quando ela não me é dada voluntariamente. Também não sei colocar em palavras com facilidade as coisas irracionais que eu sinto, pelo menos não de pronto. Eu sempre preciso de uns momentos pra mastigar. Mas às vezes não tenho esses minutos, o tempo acaba, o gongo soa e acabo tendo que dormir com um nó na garganta. Como agora.

segunda-feira, maio 26, 2008

O Mundo, o sábio e o leão.

Era uma vez uma menina que desejava abraçar o mundo com as pernas e por isso sonhava com pernas que fossem mais compridas. Tentou de muitos jeitos alongar as pernas pra conseguir abarcar o mundo. Perdeu a conta das tentativas frustradas e dos estiramentos musculares. E quando tinha começado a imaginar se o segredo não seria achar um mundo que lhe fosse mais proporcional, encontrou um sábio sentado sob uma árvore e ele lhe contou um grande segredo: o mundo não era pra ser abraçado. Era pra ser sorvido, em grandes goles e largos haustos. Mas, pra isso, ela precisava atravessar um deserto planáltico sob um sol efervescente e matar o leão mágico que morava numa caverna escura e que renascia todos os dias, espreitando à espera de uma brecha pra abocanhá-la pelo pescoço. O sábio falou demoradamente sobre o sol e as areias causticantes, as garras e presas do leão, pintou os perigos em cores fortes e vivas. Foi duro, cruel e por momentos pareceu seriamente decidido a dissuadir a menina da travessia. Mas se ela desistisse, não haveria mais pra onde caminhar nem o que buscar. Tudo perderia o sentido. E, apesar de apavorada com as palavras do sábio, ela proferiu uma prece muda pra que os deuses a amparassem e pra que fosse forte o suficiente. Olhou nos olhos do sábio e vaticiou: "Eu vou". E, pra seu espanto total, ele emitiu um suspiro, levantou-se do chão, pegou o cajado e retrucou: "Ta bom. Então eu vou com você. Mas não diga que eu não avisei".

sexta-feira, maio 23, 2008

Pavor

Odeio sentir isso que eu to sentindo agora. Ok, eu sei que esses posts "diário-de-menina-adulta" são um saco e peço que me perdoem. Mas às vezes escrever é a única coisa que me salva e só assim eu consigo colocar as idéias em ordem. Sabe quando você percebe que tá com uma merda de humor e não sabe direito o que foi que deflagrou aquele estado? Qual foi o gatilho pra espiral que culminou naquele desânimo, chateação, tristeza, angústia? Pois é exatamente onde eu me encontro: parada no meio dum caos, cofiando a cabeça e me perguntando como foi que cheguei aqui.

Acho que um pouco deve ter a ver com o meu medo recorrente e indelével de não ser boa o suficiente, em todos os sentidos.

Eu sempre me envolvo com pessoas acima da média, com inteligências notáveis, extremamente competentes e capazes. Porque não dá pra se apaixonar por alguém que não se admire, esse é o pressuposto mais básico e imprescindível. E este fator cria alguns efeitos colaterais muito irritantes, como hesitar em ser expontânea e pensar duas vezes antes de dizer algo por medo de parecer boba. Ou como o medo de que aquela pessoa se dê conta de que você tem grandes limitações, se canse e vá embora. Ou o pânico de não conseguir alcançar o ritmo, de ficar pra trás, de falhar.

Por outro lado, eu fiz um curso superior que me trouxe muito sofrimento e do qual gostei muito poucas vezes. Assim, sempre tive consciência de que as minhas deficiências nesse campo eram grandes. Aí tentei rechaçar essa formação e começar de novo, mas percebi que as malhas jurídicas que me envolviam eram mais fortes do que eu tinha pensado e davam mostras de que não me deixariam em paz nunca, ou pelo menos não tão facilmente, não sem lutar. E foi então que em vez de lutar com essa coisa viscosa, eu resolvi abraçá-la, pra ver se eu me sentia melhor comigo mesma. Deu certo durante um tempinho bem curto, porque mediocridade me apavora, me sufoca, e o simples vislumbre dela me deixa desesperada. E é assim que eu tenho me sentido de uns tempos pra cá. Medíocre. Insuficiente.

As pessoas me dizem que eu preciso de tempo, que preciso caminhar e conseguir as coisas gradativamente. MAS EU NÃO SEI FAZER ISSO! Aí me rasgo procurando uma saída em vão, fico que nem naquelas noites em que a gente levanta da cama no escuro e fica tateando no quarto fechado, desorientada, procurando o interruptor de luz sem achar nada. E dá uma vontade doida de gritar pra alguém parar o mundo que a gente quer descer. E parece passar uma eternidade até que a gente consiga acender a luz.

Ultimamente o que mais tem me angustiado e me ferido é a necessidade de encontrar um rumo, um jeito de construir alguma coisa palpável. Eu preciso estudar, desesperadamente. Mas não sei direito o que, nem como. E quando me ponho a pensar ou discutir com alguém sobre isso, me vem de novo o pavor de não dar conta, de não ser boa o suficiente, de fracassar e ter que me conformar em ser uma "zinha" qualquer.

Ai, caceta, nessas horas nem respirar no saco adianta.

segunda-feira, maio 19, 2008

Dez Tiradas Muito Românticas

1. Não discuta comigo que sou homem.
2. Mulher é um bicho muito parecido com um ser humano.
3. Vai na frente, amor, gosto de te ver subir a escada.
4. Ô neguinha insolente! Madita Princesa Isabel!
5. Amor, tenho um vídeo ótimo pra te mostrar. Se chama "Pão cu Manteiga".
6. Livinrooom, a revista de literatura e opinião da mulherzinha moderna.
7. Ah, amor, só por que você é uma advogadazinha recém formada e inexperiente?
8. Puxa, preciso comprar açúcar. Vai que a vizinha vem pedir um pouco, né?
9. Na qualidade de macho dominante da relação eu digo: porque sim.
10. Não existe coisa melhor, guardadas as devidas proporções, que coçar a frieira dos dedos do pé esfregando no punho da rede.

Eu ouvi tudo isso, acredite. E tem gente que duvida quando eu falo da Caravana de Putas...

To pensando em inaugurar uma corrente nova. Queria ver uma lista dessas feita pela Gabi, pelo Luke, pela Jo, pela Rach e pelo Júlio...rs...tem dúvida que vai dar merda?

sexta-feira, maio 16, 2008

Paliativo

Já sabe, né? Post escrito perto da meia noite nunca é bom. É a hora em que todos os sons que agitam o dia silenciam. É quando você deveria ir dormir, mas não está com sono, embora esteja muito, muito cansada. Mas a sensação de quem tem algo faltando é palpável demais pra ignorar e fica latejando no escuro quando você apaga a luz e se deita, buscando, em vão, pelo bálsamo do sono com algumas horas de descanso e inconsciência.

Nada é mais cansativo do que a necessidade de fugir o dia todo de algo que te alcança quando você pára. E tudo o mais, qualquer coisa, é somente paliativo, serve apenas pra te manter em movimento, sem pensar, só agindo e reagindo. E nada faz mais barulho do que aquilo que deve ser calado e que às vezes precisa ser contido pelos dentes e olhos cerrados, bem apertados. Há coisas que não devem ser ditas. Há coisas que você não devia sentir.

O melhor é engolir ávida e alegremente junto com mais uma dose de paliativo o que veio na ponta da língua e das pupilas.

quinta-feira, maio 15, 2008

Sobre a Caravana de Putas...

Inauguro neste momento uma categoria que, suponho, se tornará a mais extensa de todas as presentes nesse blog, só rivalizando com uma outra, a chamada "mimimi". A categoria é "Sobre a Caravana de Putas". Por um simples motivo: eu TENHO CERTEZA que, há mais ou menos dois mil e oito anos eu devo ter organizado uma caravana de putas, vestido todas elas de vermelho cereja, passado perfume "Odara" (imagine aqui um trejeito a la pomba gira), pagado uma rodada de absinto e levado todas pra Santa Ceia, com direito a duas pra cada membro participante da fatídica reunião.

Só pode ter sido isso. Deve estar escrito na minha testa: PECADORA MALDITA - FAVOR TORTURAR. E enquanto eu não descubro como apagar o tal letreiro, vou me fodendo bonito.

Veja a de ontem à noite.

Estou eu no meu computador, assistindo a uma edificante aula de Direito Constitucional, quando o amado namorado chama no msn e pergunta se posso falar com ele um momento antes dele dormir. Óbvio que sim! Só precisava trocar de computador, porque o meu está com um probleminha de áudio - o microfone não funciona nem com reza braba. Assim, fui pro outro, liguei e tentei conectar. Nada, senha e/ou usuário inválido. Hein? Comassim? Fui até a sala de televisão.

- Irmão, qual a senha atual da internet?
- "morena34", Irmã.

Volto lá, testo essa senha e nada.

- Irmão, continua dando senha inválida.
- Tenta reiniciar.

Tento reiniciar. Nada.

- Irmão, essa senha tá expirada.
- Claro que não, eu troquei ela outro dia!
- Só pode estar.
- Que nada. Quer ver? Desconecta o outro computador da internet e vê se reconecta.

Por algum motivo, em vez de notar que era uma sugestão "estúpida+2", eu acatei, mais pra provar a ele que ele tava errado do que pra quaquer outra coisa. Só não pensei direito nas conseqüências: eu ficaria sem conexão nos dois computadores. Dito e feito, a senha estava expirada.

- Isso não é possível, eu troquei essa senha outro dia!
- ...
- Bom, agora é ligar no help desk.
- Ta, e qual é o telefone de lá?
- Não sei.
- Como, não sabe, se você ta repetindo que nem uma coisa enguiçada que trocou a senha outro dia?
- Não sei, ué.
- ¬¬

Toca a procurar o telefone. Acho. A porra do número só dá ocupado. Ligo quatro vezes e só ocupado. Enquanto espero, ligo pro namorado explicando a idiotice e peço pra aguardar um pouco enquanto eu consigo outra senha. Ok, ele espera. Ligo de novo e finalmente, o telefone chama no Help Desk e a secretária eletrônica atende:

- Boa noite! Você ligou para o suporte técnico da "empresa Sbrubles"... Mas neste horário já encerramos nossas atividades hoje e nenhum dos atendentes se encontram disponíveis...Por favor, deixe seu nome e telefone que..

- O QUE??????????? COMO ASSIM ENCERRAMOS NOSSAS ATIVIDADES HOJE???? QUE PORCARIA DE SERVIÇO É ESSE?????????

Bati o telefone antes que ficasse uns palavrões gravados na porra da secretária eletrônica. Afinal, eu sou uma moça educada, apesar de tudo. Mas NÃO DAVA pra eu ficar MAIS PUTA, cara, NÃO DAVA. Como diz o outro, "não é que não dê, é QUE NÃO DÁ"!

Onde já se viu uma merda dessas??? Dá vontade de processar a porra da Empresa Sbrubles, porque eu sou uma consumidora ABSURDAMENTE frustrada!!! Eu contratei um serviço de suporte que NÃO ESTÁ FUNCIONANDO QUANDO EU PRECISO!!!! Será que na terra deles, lá, no planeta "Serviço Ruim", alguém já descobriu que serviços dessa natureza são VINTE E QUATRO HORAS???

PUTA QUE PARIU, QUE ÓDIO! Eu juro, que se eu tivesse tempo pra mais alguma coisa e estivesse precisando de mais algum aborrecimento, eu ia entrar com uma ação contra a Empresa Sbrubles. Mas como eu to atolada de coisa pra fazer e totalmente sem saco, fica mais um item no rol "Sobre a Caravana de Putas" mesmo, e chega. A próxima manifestação do carma ruim não vai demorar a acontecer mesmo, eu sei. Pelo menos posts não hão de me faltar. ¬¬

segunda-feira, maio 12, 2008

Dia 12 de maio

Olhando o calendário, vemos um monte de diazinhos marcados em vermelho além dos finais de semana. Os feriados. Dia da independência do Brasil. Corpus Christi. Natal. Tiradentes. Etc. E na verdade, esses dias, que viraram marquinhas vermelhas no calendário porque deviam significar alguma coisa, não passam de abençoados dias em que não se tem que ir trabalhar, pra maioria das pessoas. Os motivos, via de regra, são dois: festas religiosas católicas e um pretenso civismo decaído. Pra mim, que não sei nada de calendário nem de rituais católicos, nem estou afeta a nenhum órgão que desfile em paradas cívicas, não faz diferença.

Mas se pensarmos em dias com significado, quais seriam eles? O dia em que nascemos, o dia em que nos formamos, o dia em que nos casamos, em que nascem nossos filhos, em que conquistamos grandes sonhos? Claro. Todos esses são dias importantes. Mas, via de regra, esses dias passam anônimos, sem marquinhas no calendário. A não ser no nosso calendário pessoal e nas paredes da nossa memória, onde penduramos os quadros que assinalam as grandes coisas que nos acontecem.

O dia de hoje pra mim merece uma marca e um quadro na minha galeria de coisas importantes. Não que tenha me acontecido nada particularmente bom hoje. Ao contrário, como toda boa segunda feira, o dia está espinhoso e eu respirarei aliviada quando me sentar de novo diante desse computador lá pelas sete da noite. To torcendo pra ele acabar logo.

No entanto, o dia de hoje é um marco importantíssimo na minha vida, na minha história pessoal. Porque no dia de hoje, há 33 anos, nasceu um dos caras mais incríveis que eu já conheci. Uma pessoa cuja entrada na minha vida fez toda a diferença e, suspeito, dada a sua natureza, tenha feito a diferença pra muitas pessoas ao longo desses trinta e três anos. Um cara íntegro, inteligente e corajoso ao extremo. Capaz de arrancar um sorriso nos momentos mais difíceis e de resolver os problemas mais cascudos. Um cara de quem a mãe dele deve morrer de orgulho e de saudade todos os dias. Por minha vez, eu sei que morro.

Feliz aniversário, Fabrício.

sexta-feira, maio 09, 2008

Correndo riscos

Eu falei que ia parar de elogiá-lo aqui no blog, porque senão daqui a pouco vai ter boneco de vodu meu espalhado pra tudo quanto é lado, com a mulherada toda rezando pra eu morrer e ele ficar disponível de novo. Prometi inclusive que qualquer hora dessas solto um post sobre como ele tem chulé, usa um dente de ouro na frente, palita os dentes com a boca aberta e cantarola Reginaldo Rossi no chuveiro. Sei lá se as pessoas vão acreditar, mas vale a tentativa.

Só que hoje vou correr o risco. Tem dias que neguinho se supera e eu tenho que fazer justiça.

Sabe quando você percebe que a pessoa que está do seu lado é diferente dos outros, um homem admirável e um ser humano fantástico? Quando ele é capaz de secar as suas lágrimas pelo telefone, sem te adular, sem te dar sermão, só sendo ele mesmo. Só argumentando e sendo o cara mais amigo do mundo. E de repente, além das lágrimas terem secado, você se pega rindo, fazendo piada, baixando a guarda, confiando. Sentindo de novo uma coragem de viver imensa, se sentindo capaz de tudo. É quando você sabe porque tem medo, mas já retomou o controle. É quando a mão dele e o apoio que ele te dá te impedem de afundar na espiral de pânico. E quando ele tem o condão de te mostrar que nada é tão grave assim e que está do seu lado incondicionalmente. Que ele já sabe das suas neuroses e dos seus medos, mas que não se assusta com eles. Mais ainda, que te ama apesar das suas fraquezas e que faz questão de conhecer tudo a seu respeito, mesmo o que não é muito agradável.

É quando você percebe que acertou. E não se sente mais sozinha ou pequena diante dos desafios, porque quando você duvida de si mesma, ele ri e garante que assim que você superar o medo de dar o primeiro passo, "te segurar vai ser uma merda", e que ele vai ter que correr atrás pra poder te acompanhar.

E ainda é modesto, o miserável. ¬¬

terça-feira, maio 06, 2008

Mal Crônico

Sabe, é engraçado. Eu estou feliz. Mesmo, de verdade. Eu faço 25 anos no mês que vem, tenho profissão, amigos, um cara legal do meu lado e, o mais importante, METAS. Sim, você aí, não leu errado. Eu TENHO metas. De curto, médio e de longo prazo. Hã? Como assim, "quem é você e o que você fez com a Lívia?". Eu, hein? Minha avó diria pra você: "me mira, mas me erra". Rá, mineirices rules.

Mas, voltando ao assunto. Eu TO feliz. Mas tem uma coisa que some por algum tempo de vez em quando, mas nunca vai embora de vez. Como se dentro de mim houvesse um bicho. Não, não estou grávida, não me refiro ao Alien e nem a uma tênia solitária (ugh! nojento!). Estou falando de uma coisa que ciclicamente vem à tona, não importa qual seja a minha realidade, não importa que eu esteja realmente feliz no resto do tempo.

É, é isso. Dentro de mim mora um bicho. Que vira-e-mexe estraga minhas coisas, me faz desapaixonar das minhas empreitadas - e não das pessoas, não confunda essa declaração com uma possível mudança na perfeição irritante da minha vida amorosa neste momento - perder a paciência com as pessoas e ficar ainda mais introspectiva durante algum tempo. Também faz as noites ficarem mais frias e mais vazias do que são de verdade, e faz a vidraça embaçar com um misto de respiração e tristeza. Uma tristeza fininha, sem motivo definido, mas que não deixa de colocar um travo na garganta e um suspiro fundo e intermitente grudado no peito que nem catarro (é, hoje estou dada a nojeiras).

Quem me conhece sabe que sou capaz de ficar eufórica e deslumbrada que nem criança. E também sabe que eu vou da crista da onda ao fundo do vale num piscar de olhos. O negócio é que eu preciso constantemente de desafios novos, ou perco o interesse. Se bem que eu acabei de me dar conta de uma coisa: não bastam os desafios, eu preciso é de estímulos, que me instiguem a fazer algo, mas que me proporcionem recompensas, também.

Às vezes dá uma vontade danada de parar de brincar. Sabe, que nem criança? Apelar, pegar a bola, colocar de baixo do braço, chamar todo mundo de "feio, bobo, chato e fedido" e ir embora pra minha casa, com a certeza de que eu estraguei a brincadeira de todo mundo, ou pelo menos, criei um impasse grande o bastante até arrumarem alguém que tenha uma bola pra emprestar e colocarem no meu lugar.

Puxa, vida, tem horas que eu só quero ir pra casa. Onde eu posso chutar longe aqueles sapatos doloridos que fizeram uma bolha no meu pé, tomar um banho quente e me esticar na cama, sem precisar acertar relógio nenhum pra tocar amanhã cedo. Mas isso nem existe, eu não mereço tanto. Ou talvez isso fique em Pasárgada, o que é bom, porque na cama onde eu vou me esticar estará o homem que escolhi, lendo um livro cheio de cientistas e canibais e dando risada de vez em quando.

O mais chato de tudo isso é que quando o bicho se manifesta, trazendo consigo essa sensação de saco-cheio, frustração, solidão, tristeza e saudade, tudo junto e misturado, eu me conheço: não tem nada que dê jeito. A não ser os braços do ogro amado, é claro. Mas como não dá, melhor eu ir pra cama. Porque nesses dias eu fico chata pra caralho.

sábado, maio 03, 2008

Demarcando o território

E então é isso aí...Você está lá, felizinha da vida, achando tudo lindo, vendo elefantes cor-de-rosa dançando rumba em fila indiana no ar... O caso é tão grave que você é capaz de achar a coisa mais linda quando ele recita o Wando... "você é luz...é raio, estrela e...luar...manhã de sol...meu iaiá, meu ioiô...você é sim...e nunca meu não...quando tão louca, me beija na boca, me ama no chão..." Vocês são aquele tipo de casal irritante que está sempre com um sorrisinho no rosto porque certamente sabem de alguma piada que os outros ignoram... vivem de mãos dadas, se procuram com os olhos o tempo todo, compartilham aqueles brownies com sorvete de creme gigantes no mesmo prato com duas colheres, incomodam os vizinhos com gemidos e sussurros. Só uma palavra define isso: perfeição.

E vocês vão sair pra jantar. Tomam um belo banho morno enquanto um samba toca no som, se vestem e se penteiam entre risadas e carinhos. Você abre a porta e sai para o corredor, esperando por ele, que se demora fechando a janela. É então que ela aparece.

Você observa-a se aproximando em câmara lenta. Cabelos longos e loiros a la Gisele Bünchen, nenhuma mancha ou espinha que seja sobre a pele dourada de sol, olhos grandes, boca carnuda, pernas longas e esguias saindo de uma minissaia jeans que vai daquele gordinho da bunda logo acima da coxa até pouco acima dos pêlos púbicos, deixando ver a barriga lisa semi oculta por um top que não dispõe de muito pano. Ela bamboleia em cima de saltos não muito altos e carrega uma sacola cheia de garrafas de vinho que tilintam no ritmo dos quadris dela.

Quando passa por você, ela abre um sorriso largo de orelha a orelha e cumprimenta, toda alegrinha: "boa noite!". Você, algo entre surpresa, fulminada e despeitada se esforça para sorrir de volta com a mesma desenvoltura e simpatia, mas tem sérias dúvidas se consegue esboçar mais que um esgar assassino. A garota tilinta em frente pelo corredor, saca um chaveiro cor de rosa e enfia a chave na fechadura da porta que fica a uma distância intoleravelmente curta de onde você se encontra, grudada no chão invocando mentalmente todas as pragas do Egito.

COMO ASSIM???? AQUELA era a vizinha do seu namorado??? Com QUE direito??? QUEM tinha dado ordem?? Alguém pare o mundo que você quer descer!!!!

Nesse segundo ele sai para o corredor sorrindo e arregala os olhos ao se deparar com a sua expressão:

- Que foi que aconteceu?

Você se arrepia toda, que nem galinha se preparando pra briga:

- A-d-i-v-i-n-h-a. - e indica com a cabeça a porta da loira, que ainda se atrapalha pra abrir a porta segurano a sacola com as garrafas de vinho. Ele, com a cara mais inocente do mundo olha na direção da loira e torna a olhar pra você, perplexo:
- Hein?

- ISSO é sua vizinha? - você coloca as mãos na cintura. Ele arqueia a sobrancelha, subitamente entendendo tudo. Declara solenemente:

- Ah, é...eu também acho isso um absurdo.

- Ah, acha? - é a sua vez de arquear a sobrancelha.

Ele sorri, malicioso:

- Acho sim. Pra que serve ter uma vizinha dessas se ela nunca vem pedir uma xícara de açúcar?

Como mulher esclarecida e confiante que é, você ri da piadinha e desce as escadas junto com ele, em direção ao carro. Mas lá no fundo o instinto continua berrando e você quase dá meia volta pra fazer xixi na porta do apartamento dele. Ou pra bater na porta da loira, arrancar cada fio daquele lindo cabelo e quem sabe, quebrar os dois dentes da frente. Ô, mas foi quase.