Ontem tentaram me convencer que sou autista.
Nós resolvemos fazer um "programa de adulto" o que, traduzindo, significa sair à noite no sábado, coisa que eu NUNCA faço... Ok, isso soou meio looser demais, vou explicar.
Eu detesto ajuntamento de gente. Multidão, barulheira, falar aos berros, pegar fila, realmente não estão no topo da minha lista de "coisas que eu estou disposta e gosto de fazer". Não, obrigada. Quando eu estava em Uberlândia, uma cidade com 800.000 habitantes, ainda era possível ir pra algum lugar que, não obstante tivesse gente, não tinha gente-pra-caralho. Mas aqui em Brasília, a coisa muda consideravelmente de figura. Entre mais de 2.500.000 de habitantes, não existe lugar pra estacionar o carro, todos os lugares a que se vai tem lista de espera (um dia eu vou escrever detalhadamente sobre como eu ABOMINO e sou INCAPAZ de lidar com listas de espera na porta de restaurantes/bares/lanchonetes/e afins), existe uma quantidade absurda de adolescentes nessa cidade - talvez porque com a quantidade de funcionários públicos que tem aqui as pessoas se sintam livres para procriar com segurança financeira ou talvez porque mesmo as pessoas adultas se comporte como se adolescentes fossem, vai saber, né? - e, pra piorar, a qualidade do serviço cai demais em lugares muito cheios.
Então, desculpem, eu não saio no sábado à noite. Porque eu não to "na prateleira", como diz o Fabrício, porque eu não tenho necessidade de "ver e ser vista", porque eu gosto muito mais de tomar um vinho em casa ou na casa de amigos do que encher a cara na rua, e porque eu tenho muita coisa boa pra fazer em casa, como cozinhar, assistir a bons filmes, ler bons livros e cuidar com afinco da minha vida sexual. *pisc*
Então, voltando. Ontem nós resolvemos fazer "programa de adulto" (aham) e saímos no sábado à noite. Fabrício, eu, Marcus e Maíra. Pausa para falar de Marcus e Maíra. Ok, este será um post cheio de pausas, pelo visto, mas não dá pra simplesmente falar desses dois sem apresentá-los.
Marcus e Maíra são um casal de amigos nossos que costumamos ver frequentemente. Maíra é procuradora da Fazenda Nacional e está com o saco tão cheio daquilo que entrou prum curso de Literatura Russa pra "desanuviar". Como se Dostoiévsky ajudasse alguém a deixar a cabeça mais leve. (um revirar de olhos) Maíra é faladeira, extrovertida e super adepta de ligar para SACs e fazer reclamações veementes. E é a pessoa mais adoravelmente sem noção que eu conheço. Ela diz o que ela pensa na sua cara sem pesar as consequências e você precisa se lembrar de que ela é "A Maíra" e encarar como piada. Um dia ela me disse na cara que eu tenho um gosto cinematográfico duvidoso (oh, Deus, dai-me forças!), noutro dia ela disse que eu tenho paladar de cachorro (porque eu consigo identificar a maioria dos ingredientes que tem na comida), e também me disse que a minha casa é fictícia e que eu moro no carro (porque eu nunca tinha trazido ela aqui). Ontem ela disse pro Fabrício que os lóbulos da orelha dele são esquisitos e colados na cabeça, o que é claramente um indicativo de que o sujeito é um praticante de magia negra. Enfim, Maíra, senhoras e senhores, se eu continuar a lista, mudo o tema do post e falo só dela.
Marcus, por outro lado, é minha alma irmã, tanto que a Maíra está seriamente convencida de que sofremos da mesma doença, talvez uma forma leve de autismo, sei lá. Marcus é doutor em Direito Constitucional, professor universitário e alterna entre a expressão facial mais séria do mundo e uma outra, desdenhosa, que usa quando está se divertindo internamente com alguma ironia-contradição-idiotice que ele tenha detectado no mundo ao redor. Ele não gosta de pessoas, é o terror dos alunos dele porque ele exige que eles façam "raciocínios elementares, oras!", é enjoado com comida e sacaneia a gente (Fabrício e eu) sem dó nem piedade. Na verdade, quando a Maíra disse que a nossa casa era fictícia, foi ele quem completou dizendo que morávamos no carro. Pior: eles foram meus padrinhos de casamento e agora sempre que o Marcus atende ao telefone ou nos encontra, ele sai com um "não vai pedir a bênção do Dindinho?". Filho da Puta. E EU ANDO COM ESSAS PESSOAS.
Mas, enfim. Saímos ontem à noite, Fabrício, Marcus, Maíra e eu pruma coisa prosaica, sabe, meramente comer um hambúrguer e tínhamos duas opções de lugar: o
Respeitável Burger e o
Genaro. Por votação - eu perdi por três a um - fomos primeiro para o Respeitável. LOTADO, com um monte de gente esperando e sem sinal de ninguém levantar das mesas. Adivinha se eu concordei em esperar? Passei a mão no telefone e liguei no Genaro. "Alô, tá cheio aí?" "Está". "Tem gente esperando?" "Só um casal". "Dá pra reservar mesa?" "Dá". "Então reserva aí que estamos chegando em dez minutos".
Bora entrar no carro e tocar pro Genaro. No caminho, bateu a dúvida:
Marcus: - Qual é mesmo o endereço, gente?
Lívia: - Ih, não sei, não. Fabrício, cadê o IPhone pra gente ver na internet?
Fabrício: - Deixei em casa carregando...
Maíra: - Ué, pega o telefone e liga lá pra saber, oras!
Lívia: - Nem morta. Liga você.
Maíra: - Mas por que?
Lívia: - Eu já estourei minha cota de falar no telefone hoje.
Maíra: - Credo, gente, que pobreza! Pega aqui meu telefone, pode ligar!
Nisso o Marcus e o Fabrício, que já tinham entendido, já estavam rindo.
Lívia: - Não é pelo dinheiro, Maíra... Ai, ai, Fabrício, explica pra ela?
Fabrício: - Ela não gosta de falar no telefone, Maíra. Como ela já ligou pra lá hoje uma vez, e SOZINHA, sem ninguém pedir, já foi esforço demais, entende? Acabou a cota.
O Marcus ria. A Maíra virou pra me encarar de olho arregalado:
Maíra: - Cê tá me gozando?
Fabrício: - Não. Ela chega ao cúmulo de escolher a pizza, buscar o telefone, discar e me passar o aparelho pra eu falar. Aí ela arruma os pratos, os talheres, os copos, os guardanapos, abre a porta quando toca o interfone e se esconde quando eu abro a porta pro entregador...
Maíra: - Menino, mas é a mesma doença do Marquinhus!!!!!! Tadinha!!!!
E seguiu tagarelando sobre o meu autismo e sobre Síndrome de Asperger...Não teve um episódio do House em que eles cismaram que ele tinha isso?? Eu mereço, Deus.