segunda-feira, dezembro 14, 2009

Apareceu a margarida

É, eu não morri. Só estou meio ocupada. Sabe, eu sempre tive medo disso...que a minha vida ficasse tão cheia que eu acabasse perdendo a criatividade, aquela vontade frenética de criar e de escrever, aquela capacidade que eu tinha (tenho?) de me afastar de tudo, de ir prum mundo à parte, de jogar com outras regras. Eu sempre tive medo que as minhas preocupações falassem mais alto que as vozes na minha cabeça, sempre temi a hora em que os dilemas com os quais eu tivesse que me debater fossem coisas prosaicas como fazer supermercado, descongelar carne para o almoço, lavar louça e dizer pra empregada que lençol ela deve colocar na cama essa semana. Medo de crescer? Não, nem é isso. Medo de ser engolida pelo cotidiano, eu acho. De me tornar terrivelmente medíocre, exaurida pelo dia de trabalho, sem senso de humor, de saco na lua, sem nada pra dar, que nem uns e outros que eu conheci ao longo da minha vida. Eu sempre tive medo daquilo. Aliás, top 5 relâmpago! Cinco medos em ordem crescente!

1. Medo de agulha e de qualquer outro objeto perfurante. Medo de sangue, né? Aquilo meio que me tira do sério. É só olhar e estremeço toda. Não vejo filme de terror, não páro na rua que nem urubu pra ver acidente de carro, não aguento nem descrição muito detalhada de acidente.

2. Medo de parto. É, de parir, mesmo, ou de "dar à luz" praqueles mais sensíveis que preferem fazer amor a fazer sexo. Tenho horror dessa idéia. Não existe nada mais enfurecedor pra mim do que a Fernanda-Tive-Filhos-Gêmeos-de-Parto-Normal-e-sou-Descabaçada-Lima fazendo campanha sobre parto normal na televisão. Ah, vai se catar, cara. Dor não é comigo.

3. Medo de passar em concurso público. Não, não é medo da prova, não, é medo de passar mesmo. Estou descobrindo gradativamente que tenho uma séria fobia de repartições e órgãos públicos e, por mais que a perspectiva salarial seja interessante, eu acho que morro se um dia for parar dentro de uma dessas de novo.

4. Medo de deixar a vida me engolir e perder o meu brilho. Pô, eu sou inteligente, sou bem humorada, tenho (tinha?) várias idéias, sou capaz de fazer reclamações que são quase tratados, sinto muita coisa, gosto de muita coisa, amo muita coisa. Tenho pavor de ficar burocrática, burra, vazia, insensível. Pavor de medir a minha vida pelas coisas que eu FAÇO e TENHO em vez de medir pelo que eu SOU, pelo que eu PENSO e pelo que eu SINTO.

5. Medo de não ser boa o suficiente. Puxa, acho que isso é assunto recorrente aqui nesse blog, né? Merda de auto-estimazinha cachorra essa minha. Medo de não conseguir lidar com os meus defeitos, medo de não evoluir, de não chegar a lugar nenhum. Medo de estagnar, medo de não corresponder às expectativas - principalmente às minhas próprias. Medo de não merecer as coisas, as pessoas.

Eu tenho vergonha de muita coisa, sabe? Eu sou desligada, alienada, desorganizada, bagunceira, emocional, cínica, ácida, egoísta, pentelha, narcisista, paranóica, irascível, chata, chata, chata, chata. E eu SEI disso, sabe? Lidar com a gente mesmo todo dia é tão difícil! Gostar de alguém assim é um saco, é preciso se focar arduamente nas qualidades na tentativa de ignorar os defeitos e ainda assim não dá muito certo. Deve ser por isso que a minha auto-estima é tão cretina como é. Ô, Meu Deus...eu preciso de aceitação e determinação na minha vida...preciso aceitar minhas limitações e ter capacidade de lutar contra os meus tristes defeitos. Se não, pra que tudo isso?