sexta-feira, outubro 31, 2008

Calor

Não sei se vocês têm acompanhado, mas aqui em Brasília o negócio anda feio. Não, não to falando de política e corrupção, não. To falando de clima. Ou melhor: de CALOR. Cara, cê não tem noção. Só estando aqui mesmo pra ter idéia do drama. Em Uberlândia faz calor. Aliás, faz calor pra cacete, mas é um calor diferente, porque lá existe uma coisa que aqui é raridade, chamada UMIDADE. Lá, nos piores dias, fica uma coisa abafada, em que você sua e o suor fica grudado na pele, dando uma sensação de que de repente você virou...sei lá, um sapo melado e gosmento, daqueles verdinhos com olhos vermelhos (nossa, tem hora que até eu me espanto comigo...que comparação é essa, senhor? misericórdia!).

Bom, aqui em Brasília isso geralmente não acontece. Ou não acontecia. O calor que faz aqui é uma coisa árida, muito parecida com deserto, que você sente que vai morrer afogado no seco. Tem horas que eu chego a sentir a areia escaldante sob os meus pés e o sol torrando a minha cabeça mal escondida por aqueles panos dos beduínos (...gente, a coisa hoje tá séria!) Enfim. Nos últimos dias temos enfrentado aqui temperatura de Rio-de-Janeiro-em-pleno-verão somada à umidade variando em torno de 13%. Ou seja: ta todo mundo desesperado. Só daria pra piorar se estivéssemos MESMO cercados por cariocas (embora aqui tenha mais dessa raça do que eu gostaria).
Mas mesmo tendo começado falando dessas alterações loucas do clima e do aperto que temos passado por isso, não pretendo agora falar do degelo das calotas, do Happy Feet, nem de nada politicamente correto assim. Quero mais é contar duas passagens ensejadas pela altíssima temperatura dos últimos dias.

cena 01

Domingo à tarde, um casal morto de calor e sem coragem pra fazer nada naquele sol de rachar, está deitado imóvel na frente do ventilador, rezando pra cair uma chuvinha e jogando conversa fora pra matar o tempo.

- Sabe, Morena...quando eu morrer eu quero ir pro inferno...
- É? E posso saber por que?
- Ah, é que lá está cheio de diabinhas de biquini com o fio dental enfiado na bunda...
- Humm, sei...mas não acho que seja uma boa idéia, sabe?
- E por que?
- Pensa bem: o inferno é quente, né?
- Aqui também é.
- Tá, mas lá é quente MESMO. E nem tem um ventinho pra aliviar, sabe? É quente E abafado.
- Que nem Belém?
- Muito pior. Lá nem chove, nem nada.
- Eita...
- Pois é. Aí, imagina só...a mulherada semi-nua em volta de você e você suaaaaando, a pulsação aumentando, todo pregando de suor, nojeeeento...
- Creeedo!
- Ta vendo, amor? Melhor ir pro céu...
- No céu tem ar condicionado?
- Não sei, mas deve ser bem fresquinho lá no meio das nuvenzinhas, né?
- Mas o céu é sem graça, vai estar todo mundo vestido!
- Ué, e o seu charme avassalador, fica onde? E a sua capacidade de convencimento, fica como?
- Ah, dá muito trabalho...
- Ih, você não gosta de desafios, não, é?
- To com muita preguiça pra isso...quer saber? Capaz de no purgatório eu achar gatinhas de biquini E bater um ventinho! Pronto, ta resolvido!
- ¬¬...

cena 02

Meio de semana, depois do almoço. A rua movimentadíssima e o calor absurdamente sem noção. Um casal está dentro do carro, no meio do trânsito. Ele de terno e gravata, suando e reclamando do calor, apesar do ar condicionado ligado, de repente se lembra de que tem que parar no banco pra tirar dinheiro. Encosta o carro na porta do Banco do Brasil e sai, deixando-a esperando no carro, com o motor e o ar condicionado ligados. Alguns minutos depois ele volta e coloca o carro em movimento.

- Sabe, querido? Eu cheguei à conclusão de que você é uma pessoa boa...
- É? E como você chegou a essa conclusão?
- Eu tava aqui distraída e percebi que você deixou o carro ligado quando saiu...
- Hum-hum...
- Aí eu pensei: será que é por que ele ia voltar rápido? Não, mesmo pruma parada rápida não seria razoável deixar o carro ligado...
- Hã-hã...
- Aí eu me dei conta de que o ar condicionado é que tinha ficado ligado...então percebi que você pensou "a Morena vai ficar com calor se eu deixá-la fechada aqui me esperando sem o ar"...
- Correção: eu pensei "a Morena vai derreter e vai estar mortinha da silva quando eu voltar se deixar ela esperando aqui no carro sem o ar".
- Então...aí eu pensei: "puxa, esse homem realmente me ama, se preocupa tanto comigo!"...
- Iiisso...muito bom, reconhecimento!
- Mas aí eu fui além!
- É?
- É! Eu me dei conta que, conhecendo você, se eu colocasse qualquer outra pessoa no meu lugar, seu impulso seria o mesmo: o de deixar o ar condicionado ligado pra que alguém te esperando no carro não morresse de calor. Então concluí que você é uma pessoa boa!
- ... Pô, eu gostei mais da conclusão que era porque eu te amava muito!
- Fabríciô...alô-ou...eu concluí que você me ama muito E é uma pessoa boa! É muito melhor, oras!
- Hum...sei não...mas ok, eu sou uma pessoa boa...
Ficam em silêncio durante dois minutos e ele começa a rir.
- Que foi?
- Na verdade...
- ...você deixou o ar condicionado ligado pro carro continuar geladinho pra quando você voltasse, né?
- É! Mas eu só pensei isso agora! - gargalhando.
- Acha que eu não pensei nisso, meu filho?
- Pensou, é?
- Claro! Mas eu prefiro achar que você me ama muito...
- E amo.
- E que é uma pessoa boa...
- Bom...
- Porque do contrário eu vou esconder os controles do Wii durante uma semana!!!!
- Ô, Morena...imagina...é CLARO que eu pensei no seu bem estar, meu amor! Aliás, eu penso no bem estar do mundo inteiro!...
(ele aproveita que parou no sinal vermelho e olha pra ela com o maior cinismo)
- Colou?

quinta-feira, outubro 16, 2008

Menos do que eu pensei, na verdade

Vi na Casa da Gabi e fiquei curiosa...




You Act Like You Are 29 Years Old



You are a twenty-something at heart. You feel like an adult, and you're optimistic about life.

You feel excited about what's to come... love, work, and new experiences.



You're still figuring out your place in the world and how you want your life to shape up.

The world is full of possibilities, and you can't wait to explore many of them.



Mas eu JURAVA que ia dar uns cinquenta!!!

quarta-feira, outubro 15, 2008

Rapidinhas

Eu fico CHOCADA com certas coisas indecorosas que eu recebo por email!!!! A Dona Dehynha me mandou isso, ó:

SUTILEZA MINEIRA

O cumpadi, há muito tempo de olho na cumadi, aproveitô a ausência do cumpadi e resolveu fazer uma visitinha para ver se ela não carecia dearguma coisa...Chegando lá, os dois meio sem jeito, não estavam acostumados a ficar a sós…falaram sobre o tempo…

- Será qui chove?
- Pois é…

Ficô um grande silêncio. Aí, o cumpadi se enche de corage e resorve quebrá o gelo:

- Cumadi….qui qui ocê acha: trepemo ou tomemo um café?
- Ah, cumpadi…cê mi pegô sem pó…

E como se não bastasse, arrematou:

CUNVERSA DE MINEIRIM

- Cumpadi, muié é bicho estranho, num é mêsss??? Num gosta di pescá….Num gosta di futebor… Num sabi contá piada… Num toma umas pinguinha…

- Óia, cumpadi…si num tivesse xoxota, eu nem cumprimentava.

Agora me diz: ELA TA PEDINDO, NÃO TA NÃO???????

quinta-feira, outubro 02, 2008

Superfície Líquida

Eu tenho problemas. É fato, não há o que se discutir. E um deles é o que eu costumo chamar de "mente literária", fato que me rende muitos desaforos do meu consorte, que me olha às vezes como se dissesse: "que diabo de mulher maluca é essa?". Não posso evitar, talvez seja uma deficiência. Uma espécie de autismo, quem sabe. O fato é que se me mandam pensar numa luz, eu penso no dedo do E.T. acendendo e ele dizendo "El...li...ot" ou em alguma outra coisa igualmente pouco razoável. Se conto que na minha sala de pós graduação tem um gordinho sabe-tudo de voz fina absolutamente irritante que sempre chega atrasado e já começa a dar palpite, aproveito pra descrever a tortura medieval a que eu submeteria o filisteu, pendurado pelos polegares em ganchos de açougue. Se paro por um momento observando alguém caminhando, falando, comendo, rindo, fumando, chorando ou sei lá o que, já imagino como seria a descrição daquele personagem, daquelas ações, daquela cena. Se encontro com dois tipos esquisitos que moram no meu condomínio (e SEMPRE que eu boto a cara pra fora lá estão aqueles dois...um deve ser excepcional e o outro, psicopata) está escrito na minha frente que eles seriam o protótipo de vilões assustadores...só não sei se do tipo que usa máscara e se esconde nas sombras, se do tipo que só ataca com facas e tem prazer em ver as vísceras da vítima saltarem, se do tipo que tortura e faz piadinhas irônicas revoltantes, do tipo que tem alguma tara repulsiva e inconfessável. E coisinhas inocentes do tipo.

Aí, como não podia deixar de ser, ontem eu tive um insight desses. Meu amigo RODRIGO NOVAES DE ALMEIDA, um dos brilhantes escritores da nova geração e integrante do Livinrooom (não, o site não morreu, só está de recesso!!!) me mandou um email anunciando a estréia do novo blog dele, o SUPERFÍCIE LÍQUIDA. Eu adorei o nome sem ver nada. Mas antes que eu pudesse me controlar, a mente literária ensandecida pôs-se a divagar. O que me lembra essa expressão, hein?

Superfície Líquida. Um copo de cerveja tombado sobre uma mesa de botequim, a pequena e rasa poça do líquido amarelado de cheiro pungente e enjoativo refletindo as luzes do poste e do par de faróis mais próximo, durante apenas cinco segundos antes de ser engolida pelo guardanapo retirado às pressas e lançado atabalhoadamente sobre o líquido que se espalhava. Superfície Líquida. A água de uma torneira aberta há tanto tempo que se derrama pia abaixo e vai avançando lentamente pelo piso branco do banheiro, alcançando o corpo atingido por algum mal súbito que jaz inerte ali ao lado, sem que ninguém saiba o que aconteceu até que a água ultrapasse a porta de entrada e comece a ser vista pelo corredor. Superfície Líquida. A água do Lago Sul refletindo o ceu absurdamente azul que se estende sobre o planalto central, turvada pelos barcos e lanchas que aceleram e rugem sob o sol de calor absurdo, esturricando até mesmo os jardins pujantes e verdes das imensas casas luxuosas que margeiam placidamente a movimentação do fim de semana. Superficie Líquida. A criança que acorda gritando no meio da noite, suando frio de medo e terror causados pela fera escura e sombria que a persegue no pesadelo, transtornando-a a ponto de perder o controle e se ver em meio a uma grande poça amarela que inunda lençol e colchão, denunciando-lhe a fraqueza e deixando uma marca indelével de vergonha e aviltamento. Superfície Líquida. É o que sente a mão trêmula que apalpa a testa suja de sangue depois do acidente que fez o carro sair da estrada e capotar duas vezes, minutos antes de perder a consciência, ser socorrido e morrer na ambulância a caminho do hospital.

Superfície Líquida. Eu podia continuar indefinidamente, a tarde toda, principalmente se eu soubesse que você, amado leitor, teria paciência de chegar até o fim do post gigante. Ontem, brincando, eu falei pro Rodrigo da história da cerveja e ele me disse que eu o deixei traumatizado, porque conspurquei algo que era uma metáfora pra vida.

Ah, escritores! Bando de malucos. Mas eu sou feliz, ta? Mais louco é quem me diz.