terça-feira, dezembro 16, 2008

Sonho

De acordo com o dicionário, a palavra "estranho" significa desconhecido, que não é usual, curioso, singular, extraordinário, anormal, descomunal, admirável, censurável, repreensível, impróprio, livre, isento, arredio, esquivo. E o sonho que eu tive essa semana foi exatamente assim.

Não me lembro mais dos detalhes da atmosfera nem o que eu estava fazendo, mas sei que a minha mãe estava comigo. E ela me dizia com toda a convicção do mundo, que na minha encarnação anterior - lá pelo século dezoito ou dezenove, pelas roupas - eu tinha tido hanseníase. Quando ela me dizia isso, ela sumia e eu sentia nitidamente a minha pele descamando e caindo, que nem cobra trocando de pele. Aí eu me lembro que pensei: "eu? mas como assim, logo eu?" E bastava eu pensar isso, e eu via meu nariz caindo. Caindo mesmo, que nem um pedaço de massinha que estivesse grudado no meu rosto. Fiquei a cara da esfinge! E aí a minha mãe aparecia do meu lado de novo, eu olhava assombrada pra ela e pegava no meu nariz, como pra conferir que ele estava lá. E então acordei.

Fiquei impressionada com o sonho, confesso. Sentei na cama e vi o Fabrício escovando os dentes. Ele olhou pra mim e disse "ooomm iiiaaa", com a boca cheia de espuma. Eu esfreguei o rosto e falei:

- Bom dia. Nossa, eu sonhei que na encarnação passada eu tive hanseníase e meu nariz caiu.

Ele arregalou os olhos.

- "Q-êêê???"

- É, meu nariz caiu...acho que deve ser por isso que agora ele é tão lindinho, pra compensar...

Aí ele não aguentou. Cuspiu e me olhou indignado:

- Ah, é? Então eu caí inteiro dentro do poço, né, santa?

- Caiu no poço? Uai, por que?

- Porque eu sou lindo inteiro, ora bolas!

Gargalhamos, claro. Aqui em casa quase todas as conversas descambam nisso: em besteira. Eu gosto do malfeito, ele é especialista em piorar todos. E ninguém perde a chance de cutucar o outro.

Mais tarde, falando ao telefone com a própria interlocutora do sonho, contei a ela o lance do nariz caído. Liguei o viva-voz pro Fabrício poder ouvir.

- Hein?

- É, mãe, você me dizia que eu tive hanseníase...aí o meu nariz caiu e eu acordei.

Ela deu risada.

- Deve ser por isso que ele é tão bonitinho agora, né? Pra compensar!

Olhei pra ele e caí na gargalhada.

- Mas mãe, foi EXATAMENTE isso que eu falei pro Fabrício!

- É, mas tem outra interpretação também...

Ele levantou a sobrancelha e ficou prestando atenção, interessado. Eu quis saber:

- É? Qual?

- Que não importa o quanto o nariz seja bonitinho, ele cai um dia!

Fabrício quase caiu da cadeira de tanto rir. E eu tive que dar a mão à palmatória. Do mesmo jeito que declaração de mãe em sonho causa a maior impressão, a interpretação da diaba é que acaba prevalecendo. Depois do telefone desligado, Fabrício vaticinou:

- Rá! Isso é que é sogra!

sexta-feira, dezembro 12, 2008

Moderação

Pessoas, quem lê o blog já há algum tempo, deve ter notado que ele passou por uma fase de comentários moderados. Foi uma fase chata, mas necessária, quando eu precisei restringir determinados comentários que não deveriam ser lidos por todo mundo, para me preservar e preservar também o autor dos comentários. Creio que hoje ele até concorda comigo e está tudo certo.

Passada essa fase, reabri os comentários, inclusive para os anônimos, uma vez que tinha amigos - e inclusive o meu amado namorado - que não conseguiam logar, fosse por causa de erro do sistema ou de bloqueio da conexão. E, além disso, eu sou uma pessoa, em princípio, muito democrática. Desde então eu tenho lido com paciência a spams e comentários de gente sem graça que não entendia a piada, repetindo para mim mesmo que fazia parte, que este era o ônus da democracia e da imparcialidade e que toda unanimidade é burra, e tal.

Entretando, noutro dia, um post da Gabi me fez pensar. Querer ouvir todos os comentários não significa que eu tenho que aturar gente desagradável que não gosta do que eu escrevo e se acha no direito de vir despejar suas suscetibilidades e grosserias nos comentários. Ora, meu amigo, se manque! Este é um blog PESSOAL que reflete as MINHAS opiniões. Não estou pedindo pra você ser meu amigo nem endossar tudo o que eu digo. Mas pelo menos RESPEITO pelo outro você deveria ter. Não gostou, clica ali no X, ó. Não precisa continuar lendo e sequer voltar aqui, será que você consegue entender isso? E HOMBRIDADE você também deveria ter, para não comentar sob a alcunha cômoda de "Anônimo" e assumir em público a sua pequena opiniãozinha. Afinal, quem comenta sempre gosta de jogar tomates, mas raramente quer colocar a bunda na janela pra passarem a mão, né? 

Ufa, chega. Então, pessoas, o lance é o seguinte: a moderação está de volta. Isso não significa que a censura será instaurada, afinal, eu posso muito bem conviver com críticas. Só não posso conviver com desrespeito e engolir gente desagradável e covarde. E tenho dito.

Um beijo pra minha mãe, pro meu pai, pra você leitor identificável e respeitoso e pro meu Anônimo querido, que sempre diz coisas dignas de serem lidas.

quinta-feira, dezembro 04, 2008

quarta-feira, dezembro 03, 2008

Meta-se

Metas não são o meu forte. Não, não confunda metas com sonhos, sonhos eu tenho de sobra. Quando me refiro a metas, estou falando da parte pragmática do sonho - o "como" alcançar o sonho. E quanto mais o tempo passa, mais me convenço de que tem gente que já nasce programado pra traçar metas e ir seguindo, paulatinamente, na direção de alguma coisa, enquanto outras conseguem vislumbrar o final da estrada, mas se atrapalham todas com as pedras do caminho. Meu maior problema, eu já descobri, é que penso em tanta coisa ao mesmo tempo, que às vezes não me envolvo tempo suficiente com as coisas pra conseguir realizá-las - e já estou pensando na próxima coisa. Ironicamente, odeio marasmo e repetições automáticas, mas de tanto equilibrar um monte de bolas no ar ao mesmo tempo, acabo ficando estática, de tão absorta nos meus pensamentos e não realizo nem uma, nem outra.

Para algumas pessoas, metas são algo muito complexo. Além do raciocínio específico e metódico - que eu não tenho - também não ajuda muito o fato de que a maior parte dos atos para se atingir metas acabam sendo justamente os automáticos, os repetitivos, os cansativos e os aborrecidos. Por exemplo, se eu quero comprar um carro, eu tenho que juntar dinheiro. E pra juntar dinheiro, preciso de um emprego. Mas, a maioria dos empregos acaba sendo uma repetição de ações sem fim que, em vez de estimular a criatividade e o intelecto do trabalhador, estimulam a obediência e o conformismo. Ou seja: a ação de comprar um carro se torna necessariamente um sacrifício. Quer outra? Um filho. Pra se ter um filho hoje, começamos com a contabilidade, em vez do sentimento puro e simples. Quanto custa ter um filho? Pré-natal, roupas que me caibam durante a gravidez, enxoval do bebê, o parto, fraldas, fraldas, fraldas, remédios, brinquedos, cadeirinha, um carro maior pra caber a cadeirinha, andador, carrinho, babá ou hotelzinho, escola, roupas, calçados, remédios, video-game, livros, viagens, combustível, comida, porcaritos, sorvete, cinema, jogos, televisão a cabo, internet, cursinho pré-vestibular, faculdade, etc. Aí você conclui que infelizmente não dá pra ter filho enquanto não arrumar um emprego e juntar muito mais dinheiro do que seria necessário pra ter o carro.

Entende o que eu quero dizer? É coisa demais, não cabe na minha cabeça esse tipo de raciocínio. Aí eu fico meio agoniada, porque está justamente na minha hora de encontrar caminhos pra fazer as coisas que eu quero fazer antes que o meu tempo acabe. Já reparou que desde que esse blog existe esse é um assunto recorrente? Droga, virei uma daquelas pessoas que só falam da mesma coisa... Acho que preciso de assessoria especializada (procura no guia médico: psiquiatra).

segunda-feira, novembro 24, 2008

Um blog de utilidade pública

Domingo estava eu na casa de amigos, com uma pilha de filmes na minha frente pra decidir qual assistiríamos. Sabe quando você pega a caixa do dvd, olha e os atores não te dizem nada? Aí você vira a caixa e lê a sinopse e ela continua não te dizendo nada? O que é que a gente faz nessas horas, hein? Corre pro google. MAS E QUANDO NENHUM FILHO DE DEUS SE PRESTOU A RESENHAR DECENTEMENTE A PORRA DO FILME PRA TE DAR UMA LUZ???? 

Assim nasceu o CINEMA LATO (ou CINE MALATO, nunca consigo resolver). Um blog de utilidade pública, um banco de resenhas de todos os tipos de filme. Dos mais podres aos mais iluminados. E, como não podia deixar de ser já que quem escreve o blog sou eu, as opiniões mais tortas e as comparações mais estapafúrdias possíveis.

Já tenho duas bombas pra começar, estou fazendo as resenhas. Estou aceitando sugestões, ok?

Abraços.

quarta-feira, novembro 19, 2008

Abri u olhu amigaaaaa!

Olha só que lindos os DOIS emails SEGUIDOS que eu acabei de receber:

data19 de novembro de 2008 14:22 (50 minutos atrás)
assunto leia com atenção
enviado por erde.ibone.ch

Olá, Desculpe-me pela minha fraqueza! Sinto muito em não poder te falar pessoalmente, fico até meia constrangida em te falar por e-mail, mais me sinto na obrigação de te avisar, abra os olhos, estão traindo você. Eu sei que é difícil de acreditar mais como as imagens valem mais do que as palavras, estou te enviando essas fotos para que você veja com seus próprios olhos. Se cuida... um grande abraço. --> De um amiga que te quer bem!.Ver Aqui as fotos !!!

de queria ter te contado antes...
amigosecreto@email.com para livia.santana@gmail.com
data 19 de novembro de 2008 14:21 (53 minutos atrás)
assunto queria ter te contado antes...
enviado porerde.ibone.ch

Olá, Desculpe-me pela minha fraqueza! Sinto muito em não poder te falar pessoalmente, fico até meia constrangida em te falar por e-mail, mais me sinto na obrigação de te avisar, abra os olhos, estão traindo você. Eu sei que é difícil de acreditar mais como as imagens valem mais do que as palavras, estou te enviando essas fotos para que você veja com seus próprios olhos. Se cuida... um grande abraço. --> De um amiga que te quer bem!.Ver Aqui as fotos !!!


Uuuui...tenebroso, né? Principalmente o português da amiga que me quer bem...como se eu tivesse amigas desse naipe! Mas o que eu achei mais engraçado foi que ao mesmo tempo em que eu abria esses dois disparates, a televisão que eu deixo ligada à tarde pra fazer barulho tava passando uma cena lastimável da Giulia Gam e do Marcelo Anthony na reprise de Mulheres Apaixonadas. Geeente, eu tive que rir. Imaginei o tanto de vírus que não pega no computador das "Heloísas" que existem por aí afora!!!

E cá entre nós: eu confio no meu taco, benhê!

terça-feira, novembro 18, 2008

Frases que eu teria dito

1. "Maldita seja a música de Natal!"
O Grinch.

quarta-feira, novembro 05, 2008

Noites com Sol.


Talvez eu seja muito, muito boba. Mas puxa vida, eu to aqui emocionada.

Há alguns anos – quantos mesmo, hein? Parece outra vida, nossa! – eu me vi chorando com uma sensação parecida com a de agora. Uma coisa meio irracional que faz subir um travo na garganta e não permite maiores questionamentos. Não é pra analisar, é só pra sentir. Há alguns anos, eu me lembro de uma noite em que eu vi acontecer algo que parecia sem precedentes, que parecia uma transformação, que deixou não só a mim, mas a muita gente, esperançosa. Eu me lembro da noite. Muita gente chorava e festejava ao mesmo tempo, até aqueles que eu conhecia bem e sabia serem os mais céticos do mundo. Até esses se permitiram vibrar de esperança, porque há alguns anos, naquela noite, o Lula foi eleito no Brasil pela primeira vez, depois de anos, depois do Collor, depois que tanta coisa tinha acontecido.

Ok, no final nem foi tão transformadora assim, mas naquele dia parecia algo tão especial, uma conquista tão grande. Eu olhava em volta e via todo mundo cantando, rindo e chorando. As pessoas se abraçavam e não precisavam dizer nada – era um sentimento partilhado, o outro entendia muito bem. Aquela coisa esquisita no peito, uma vontade de pular e de cair no chão, de rir e de chorar ainda mais...e eu chorei bastante naquela noite. Não me envergonho de dizer, embora hoje o ceticismo esteja de volta à maioria dos lábios, olhos e corações. Naquele dia eu senti muita esperança e foi bom. Talvez por isso eu me lembre daquilo com tanta nitidez.

Hoje de manhã eu acordei, liguei a televisão e desatei a chorar de novo. Embora eu viesse torcendo por isso há dias, eu realmente não acreditava totalmente que algo tão incrível pudesse acontecer. Cara, Barack Obama é o presidente dos Estados Unidos. DOS ESTADOS UNIDOS!!!! Um país onde mora uma gente – assim eu sempre pensei – arraigada e preconceituosa sem remédio, capaz de atos de ódio incríveis em nome da moral e da respeitabilidade, capaz de apoiar guerras e matar seus jovens por orgulho, presunção e ignorância, capaz de segregar quem é diferente sem dó nem piedade e com requintes de crueldade. Você aí talvez me diga que nem só disso é feito os Estados Unidos, e depois de hoje eu tenho até que concordar. Mas grande parte é sim, e cada vez que entrevistavam alguma daquelas carolas do sul sobre a eleição presidencial e ela discursava sobre Obama não ser um homem de Deus e sobre como a união homossexual é errada e suja, eu sentia um arrepio na espinha. “Meu Deus, não permita que tipos como esse decidam o que será da nação mais poderosa do mundo nos próximos anos”, eu orava em silêncio.

E hoje de manhã, quando ouvi o Renato Machado dizer que o Obama ERA o presidente dos Estados Unidos, eu senti até as pernas fracas. Tinha, afinal, sido uma noite com sol em solo norte americano. Um homem negro!!! O PRIMEIRO HOMEM NEGRO!! Agora, só de escrever isso eu já comecei a chorar de novo. Puxa, isso parece bom demais pra acreditar. Ô, meu Deus, parece que estamos mesmo fadados a evoluir, mesmo quando permanecemos renitentes. Eu me sinto tão feliz em pensar nisso. O país não é meu, o presidente não é meu, mas a emoção por ver que até os casos mais difíceis do mundo são passíveis de melhora, que as idéias (melhores) podem ter tanta força e provocar tantas mudanças, é universal, é inestimável. E agora minha prece muda é que o Obama possa ser o melhor. Pra mostrar pra todos aqueles que votaram no McCain, que a capacidade de um negro é tão grande quanto a de um “branco”. E muitas vezes, até maior.

sexta-feira, outubro 31, 2008

Calor

Não sei se vocês têm acompanhado, mas aqui em Brasília o negócio anda feio. Não, não to falando de política e corrupção, não. To falando de clima. Ou melhor: de CALOR. Cara, cê não tem noção. Só estando aqui mesmo pra ter idéia do drama. Em Uberlândia faz calor. Aliás, faz calor pra cacete, mas é um calor diferente, porque lá existe uma coisa que aqui é raridade, chamada UMIDADE. Lá, nos piores dias, fica uma coisa abafada, em que você sua e o suor fica grudado na pele, dando uma sensação de que de repente você virou...sei lá, um sapo melado e gosmento, daqueles verdinhos com olhos vermelhos (nossa, tem hora que até eu me espanto comigo...que comparação é essa, senhor? misericórdia!).

Bom, aqui em Brasília isso geralmente não acontece. Ou não acontecia. O calor que faz aqui é uma coisa árida, muito parecida com deserto, que você sente que vai morrer afogado no seco. Tem horas que eu chego a sentir a areia escaldante sob os meus pés e o sol torrando a minha cabeça mal escondida por aqueles panos dos beduínos (...gente, a coisa hoje tá séria!) Enfim. Nos últimos dias temos enfrentado aqui temperatura de Rio-de-Janeiro-em-pleno-verão somada à umidade variando em torno de 13%. Ou seja: ta todo mundo desesperado. Só daria pra piorar se estivéssemos MESMO cercados por cariocas (embora aqui tenha mais dessa raça do que eu gostaria).
Mas mesmo tendo começado falando dessas alterações loucas do clima e do aperto que temos passado por isso, não pretendo agora falar do degelo das calotas, do Happy Feet, nem de nada politicamente correto assim. Quero mais é contar duas passagens ensejadas pela altíssima temperatura dos últimos dias.

cena 01

Domingo à tarde, um casal morto de calor e sem coragem pra fazer nada naquele sol de rachar, está deitado imóvel na frente do ventilador, rezando pra cair uma chuvinha e jogando conversa fora pra matar o tempo.

- Sabe, Morena...quando eu morrer eu quero ir pro inferno...
- É? E posso saber por que?
- Ah, é que lá está cheio de diabinhas de biquini com o fio dental enfiado na bunda...
- Humm, sei...mas não acho que seja uma boa idéia, sabe?
- E por que?
- Pensa bem: o inferno é quente, né?
- Aqui também é.
- Tá, mas lá é quente MESMO. E nem tem um ventinho pra aliviar, sabe? É quente E abafado.
- Que nem Belém?
- Muito pior. Lá nem chove, nem nada.
- Eita...
- Pois é. Aí, imagina só...a mulherada semi-nua em volta de você e você suaaaaando, a pulsação aumentando, todo pregando de suor, nojeeeento...
- Creeedo!
- Ta vendo, amor? Melhor ir pro céu...
- No céu tem ar condicionado?
- Não sei, mas deve ser bem fresquinho lá no meio das nuvenzinhas, né?
- Mas o céu é sem graça, vai estar todo mundo vestido!
- Ué, e o seu charme avassalador, fica onde? E a sua capacidade de convencimento, fica como?
- Ah, dá muito trabalho...
- Ih, você não gosta de desafios, não, é?
- To com muita preguiça pra isso...quer saber? Capaz de no purgatório eu achar gatinhas de biquini E bater um ventinho! Pronto, ta resolvido!
- ¬¬...

cena 02

Meio de semana, depois do almoço. A rua movimentadíssima e o calor absurdamente sem noção. Um casal está dentro do carro, no meio do trânsito. Ele de terno e gravata, suando e reclamando do calor, apesar do ar condicionado ligado, de repente se lembra de que tem que parar no banco pra tirar dinheiro. Encosta o carro na porta do Banco do Brasil e sai, deixando-a esperando no carro, com o motor e o ar condicionado ligados. Alguns minutos depois ele volta e coloca o carro em movimento.

- Sabe, querido? Eu cheguei à conclusão de que você é uma pessoa boa...
- É? E como você chegou a essa conclusão?
- Eu tava aqui distraída e percebi que você deixou o carro ligado quando saiu...
- Hum-hum...
- Aí eu pensei: será que é por que ele ia voltar rápido? Não, mesmo pruma parada rápida não seria razoável deixar o carro ligado...
- Hã-hã...
- Aí eu me dei conta de que o ar condicionado é que tinha ficado ligado...então percebi que você pensou "a Morena vai ficar com calor se eu deixá-la fechada aqui me esperando sem o ar"...
- Correção: eu pensei "a Morena vai derreter e vai estar mortinha da silva quando eu voltar se deixar ela esperando aqui no carro sem o ar".
- Então...aí eu pensei: "puxa, esse homem realmente me ama, se preocupa tanto comigo!"...
- Iiisso...muito bom, reconhecimento!
- Mas aí eu fui além!
- É?
- É! Eu me dei conta que, conhecendo você, se eu colocasse qualquer outra pessoa no meu lugar, seu impulso seria o mesmo: o de deixar o ar condicionado ligado pra que alguém te esperando no carro não morresse de calor. Então concluí que você é uma pessoa boa!
- ... Pô, eu gostei mais da conclusão que era porque eu te amava muito!
- Fabríciô...alô-ou...eu concluí que você me ama muito E é uma pessoa boa! É muito melhor, oras!
- Hum...sei não...mas ok, eu sou uma pessoa boa...
Ficam em silêncio durante dois minutos e ele começa a rir.
- Que foi?
- Na verdade...
- ...você deixou o ar condicionado ligado pro carro continuar geladinho pra quando você voltasse, né?
- É! Mas eu só pensei isso agora! - gargalhando.
- Acha que eu não pensei nisso, meu filho?
- Pensou, é?
- Claro! Mas eu prefiro achar que você me ama muito...
- E amo.
- E que é uma pessoa boa...
- Bom...
- Porque do contrário eu vou esconder os controles do Wii durante uma semana!!!!
- Ô, Morena...imagina...é CLARO que eu pensei no seu bem estar, meu amor! Aliás, eu penso no bem estar do mundo inteiro!...
(ele aproveita que parou no sinal vermelho e olha pra ela com o maior cinismo)
- Colou?

quinta-feira, outubro 16, 2008

Menos do que eu pensei, na verdade

Vi na Casa da Gabi e fiquei curiosa...




You Act Like You Are 29 Years Old



You are a twenty-something at heart. You feel like an adult, and you're optimistic about life.

You feel excited about what's to come... love, work, and new experiences.



You're still figuring out your place in the world and how you want your life to shape up.

The world is full of possibilities, and you can't wait to explore many of them.



Mas eu JURAVA que ia dar uns cinquenta!!!

quarta-feira, outubro 15, 2008

Rapidinhas

Eu fico CHOCADA com certas coisas indecorosas que eu recebo por email!!!! A Dona Dehynha me mandou isso, ó:

SUTILEZA MINEIRA

O cumpadi, há muito tempo de olho na cumadi, aproveitô a ausência do cumpadi e resolveu fazer uma visitinha para ver se ela não carecia dearguma coisa...Chegando lá, os dois meio sem jeito, não estavam acostumados a ficar a sós…falaram sobre o tempo…

- Será qui chove?
- Pois é…

Ficô um grande silêncio. Aí, o cumpadi se enche de corage e resorve quebrá o gelo:

- Cumadi….qui qui ocê acha: trepemo ou tomemo um café?
- Ah, cumpadi…cê mi pegô sem pó…

E como se não bastasse, arrematou:

CUNVERSA DE MINEIRIM

- Cumpadi, muié é bicho estranho, num é mêsss??? Num gosta di pescá….Num gosta di futebor… Num sabi contá piada… Num toma umas pinguinha…

- Óia, cumpadi…si num tivesse xoxota, eu nem cumprimentava.

Agora me diz: ELA TA PEDINDO, NÃO TA NÃO???????

quinta-feira, outubro 02, 2008

Superfície Líquida

Eu tenho problemas. É fato, não há o que se discutir. E um deles é o que eu costumo chamar de "mente literária", fato que me rende muitos desaforos do meu consorte, que me olha às vezes como se dissesse: "que diabo de mulher maluca é essa?". Não posso evitar, talvez seja uma deficiência. Uma espécie de autismo, quem sabe. O fato é que se me mandam pensar numa luz, eu penso no dedo do E.T. acendendo e ele dizendo "El...li...ot" ou em alguma outra coisa igualmente pouco razoável. Se conto que na minha sala de pós graduação tem um gordinho sabe-tudo de voz fina absolutamente irritante que sempre chega atrasado e já começa a dar palpite, aproveito pra descrever a tortura medieval a que eu submeteria o filisteu, pendurado pelos polegares em ganchos de açougue. Se paro por um momento observando alguém caminhando, falando, comendo, rindo, fumando, chorando ou sei lá o que, já imagino como seria a descrição daquele personagem, daquelas ações, daquela cena. Se encontro com dois tipos esquisitos que moram no meu condomínio (e SEMPRE que eu boto a cara pra fora lá estão aqueles dois...um deve ser excepcional e o outro, psicopata) está escrito na minha frente que eles seriam o protótipo de vilões assustadores...só não sei se do tipo que usa máscara e se esconde nas sombras, se do tipo que só ataca com facas e tem prazer em ver as vísceras da vítima saltarem, se do tipo que tortura e faz piadinhas irônicas revoltantes, do tipo que tem alguma tara repulsiva e inconfessável. E coisinhas inocentes do tipo.

Aí, como não podia deixar de ser, ontem eu tive um insight desses. Meu amigo RODRIGO NOVAES DE ALMEIDA, um dos brilhantes escritores da nova geração e integrante do Livinrooom (não, o site não morreu, só está de recesso!!!) me mandou um email anunciando a estréia do novo blog dele, o SUPERFÍCIE LÍQUIDA. Eu adorei o nome sem ver nada. Mas antes que eu pudesse me controlar, a mente literária ensandecida pôs-se a divagar. O que me lembra essa expressão, hein?

Superfície Líquida. Um copo de cerveja tombado sobre uma mesa de botequim, a pequena e rasa poça do líquido amarelado de cheiro pungente e enjoativo refletindo as luzes do poste e do par de faróis mais próximo, durante apenas cinco segundos antes de ser engolida pelo guardanapo retirado às pressas e lançado atabalhoadamente sobre o líquido que se espalhava. Superfície Líquida. A água de uma torneira aberta há tanto tempo que se derrama pia abaixo e vai avançando lentamente pelo piso branco do banheiro, alcançando o corpo atingido por algum mal súbito que jaz inerte ali ao lado, sem que ninguém saiba o que aconteceu até que a água ultrapasse a porta de entrada e comece a ser vista pelo corredor. Superfície Líquida. A água do Lago Sul refletindo o ceu absurdamente azul que se estende sobre o planalto central, turvada pelos barcos e lanchas que aceleram e rugem sob o sol de calor absurdo, esturricando até mesmo os jardins pujantes e verdes das imensas casas luxuosas que margeiam placidamente a movimentação do fim de semana. Superficie Líquida. A criança que acorda gritando no meio da noite, suando frio de medo e terror causados pela fera escura e sombria que a persegue no pesadelo, transtornando-a a ponto de perder o controle e se ver em meio a uma grande poça amarela que inunda lençol e colchão, denunciando-lhe a fraqueza e deixando uma marca indelével de vergonha e aviltamento. Superfície Líquida. É o que sente a mão trêmula que apalpa a testa suja de sangue depois do acidente que fez o carro sair da estrada e capotar duas vezes, minutos antes de perder a consciência, ser socorrido e morrer na ambulância a caminho do hospital.

Superfície Líquida. Eu podia continuar indefinidamente, a tarde toda, principalmente se eu soubesse que você, amado leitor, teria paciência de chegar até o fim do post gigante. Ontem, brincando, eu falei pro Rodrigo da história da cerveja e ele me disse que eu o deixei traumatizado, porque conspurquei algo que era uma metáfora pra vida.

Ah, escritores! Bando de malucos. Mas eu sou feliz, ta? Mais louco é quem me diz.

quarta-feira, setembro 17, 2008

Esquentando a barriga no fogão

Nem todo mundo sabe, mas eu sou uma cozinheira de mão cheia. Ok, nem tudo fica perfeito (afinal eu não sou a Tia Nastácia), mas oitenta por cento do que cozinho fica muuito bom, sem falsa modéstia inútil. É assim porque eu GOSTO de cozinhar. Aprendi com a minha mãe, que aprendeu com a minha avó. Sou daquele tipo de cozinheira que mede as coisas no olho, sabe? Pitada de sal, fio de azeite, punhado de salsa, cebolinha e manjericão. Dá um prazer enorme aquela coisa de picar, dourar, misturar, mexer, criar. Sem falar no quanto é terapêutico. E no quanto dá gosto cozinhar pra quem gosta de comer e sabe apreciar.

Desde que essa etapa nova da minha vida começou, eu tenho cozinhado sempre e tem sido extremamente gratificante. O digníssimo consorte e eu temos gostos muito parecidos (não apenas no que se refere a comida) e isso torna divertida até a atividade normalmente enfadonha de fazer supermercado (não, não é paixão besta, é verdade).

Mas tudo tem seus poréns, né? Ainda mais quando o Fabrício mete o dedo torto dele no meio.

Nesse fim de semana fomos visitar minha família em Uberlândia. Pais, irmãos, tios e tias, primos, avô, avó, bebês, cachorro, papagaio, uma zona, uma beleza. No domingo, churrascão no almoço. Minha mãe cobriu o sacripantas de mimos, fez a saladinha de batatas que ele gosta, comprou pãozinho especial pra ele, fez pudim de leite condensado, se preocupou que ele tava bebendo no copo de plástico e não de vidro como devia e blá blá blá. Acha que isso ela intuiu sozinha??? Se não fosse por MIM que reparo nos mínimos detalhes do que diz respeito a ele e dei TODAS AS COORDENADAS, ela teria feito farofa de abobrinha pro almoço com pavê de banana de sobremesa!! (detalhe: ele odeia ambas as coisas)

Mas adivinha se ele reconhece a minha dedicação irrestrita?? Claro que não! Depois de passar dois meses comendo da minha comida em casa, lambendo os beiços, elogiando, fazendo pedidos especiais pra "chef", quando finalmente minha tia se virou pra mim e perguntou: "E então, querida, tá cozinhando em casa?" e eu, ingenuamente disse que ele poderia responder melhor do que eu, o miserável solta essa: "Nossa, Dona Fafa, ela esquenta uma lasanha da Sadia no microondas como ninguém! E a pipoca, então? Ô, beleza!"

***Pausa pra dar um piti só de lembrar da cena. Eu maaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaato!!!!***

Depois, quando eu jurei pra ele que a partir de agora ele ia passar a bolacha cream cracker e água, ainda fez a maior cara de inocente do mundo e disse: "Ué, o que eu fiz?"

EU POSSO COM ISSO??????????

Está de castigo. Nem miojo eu faço mais pra ele, palavra de honra. E sorte dele que não tenho mais firmeza pra fazer greves de outras naturezas. Humpf.

sexta-feira, setembro 05, 2008

Bronqueie, se puder

Alguém aí já tentou passar bronca num namorado sem vergonha? Daqueles que faz cara do gatinho do Shrek e te deixa toda desconsertada no meio do caminho a ponto até de esquecer o que tava falando?? Pois eu descobri que tenho um exemplar dessa raça maldita dentro de casa.

Ontem, o safadinho entrou em casa esbaforido depois do trabalho. Tirou a camisa, me deu um beijo, lavou as mãos e foi passear na cozinha, daquele jeitinho que diz "to morto de fome".

- Ta com fome?
- Eu to, Morena! Morto!
- Ok, eu arrumo algo pra você comer. Mas quero dizer uma coisa muito séria pro senhor antes.

Coloquei a mão na cintura, muito severa. Ele fez aqueeeela carinha de inocente.

- Que foi, Morena?

Como se não bastasse a cara de filhote de cachorro, a voz cheia de dengo.

- Quero dizer que o senhor colocou a máquina de pão no chão...

(ele veio andando no meu rumo com aqueeeela cara)

- ...com a tampa suja de massa e ali, meu amor, ela não vai se limpar sozinha...

(e ele vindo)

- ...e se eu não pegasse e limpasse ela ia ficar lá, né?

- Ô, Morena, perdão...eu to tão arrependido... (digno de Oscar, só faltou bater os dedinhos um no outro) ...imagine se eu ia querer aborrecer a minha morena...eu só quis liberar espaço na pia, meu amor, a máquina estava atrapalhando você e...

Eu caí na gargalhada. Ele deu um sorrisinho safado antes de me estalar um beijo.

- Confessa, isso é estratégia, não é?

E com a cara mais lambida do mundo:

- A gente faz o que pode, né??

terça-feira, setembro 02, 2008

Constatação II - a missão

"Ex" boa, é "ex" morta.

domingo, agosto 31, 2008

Romantismo

Um casal recostado na cama, no domingo, conversando tranquilamente.
- A decoração da festa de ontem estava linda, né?
- É.
- Sabe, amor, eu tava pensando...
- Hum.
- Vou comprar um daqueles candelabros...
- Candelabros?
- É. Cheio de velinhas pequenininhas...
- Sei...e vai colocar isso aonde?
- Ali em cima da mesinha, ué. Imagina só...Todas as luzes apagadas, as velinhas acesas...umas músicas bem românticas tocando...
- Num é muita vela acesa, não?
- Concentra, amor!
- Tá, tá. Desculpa. As músicas românticas...e aí?
- Então...a música, uma venda, amarras...
- Amarras??
- É, oras...e óleo pra fazer massagem...
- Peraí, um pouquinho. Deixa ver se eu entendi: um monte de velas queimando enquanto eu to AMARRADO E VENDADO, é isso?? E ainda besuntado de óleo??? Cê ta me achando com cara de leitão à pururuca?????
- ...
¬¬
Eu mereço.

segunda-feira, agosto 25, 2008

Rapidinha

Ok, então eu casei.

Calma, não é pra tanto. Respira no saco, vai. Um, dois. Pronto... Então, casei. Embora haja uns efeitos suspensivos e condições inerentes ao contrato intensamente discutido- piada interna mode on - e eu suspeite que a minha vida nunca vai ser muito convencional e certinha, ainda mais tendo em vista a minha cara metade politicamente incorreta até o último fio de cabelo.

Outro dia, estava eu colocando em prática meus dotes culinários, enquanto meu consorte planejava uma aula de Direito Islâmico. De repente, ele começou:

- Caaaaralho, vou virar mulçumano!

- HEIN?

- O mulçumano pode ter quantas mulheres ele quiser!! Ora, Mohammed, o profeta, podia ter quantas esposas ele quisesse e aguentasse! Se Mohammed pode, eu também posso!

- Ah, sei...

- E olha que legal... - ele ia lendo os trechos - a mulher deve ser obediente, deve andar coberta, deve ficar sempre em casa e nunca sair sem a companhia do marido, deve cuidar da casa e servir o marido, que deve sustentá-la...

- Ué, por mim tá ótimo...eu páro HOJE de estudar pro concurso, coloco meu burro na sombra e fico só cuidando das suas coisas...tem algum botão aí pra pregar?

Ele continuava lendo e continuou:

- Ihh, mas eu não quero mais ter muitas mulheres não...aqui diz que eu tenho que sustentar TODAS igualmente! Aí eu vou à bancarrota!

Não aguentei, caí na gargalhada.

- Dou o maior apoio. Sustente só a mim e tá bom demais.

- Epa, achei a solução! Se não puder sustentar duas ou mais esposas igualmente, o mulçumano pode ter UMA esposa e tomar para si quantas ESCRAVAS ele quiser! Pra essas só precisa prover a alimentação!

- Aaaahhh, sei...perfeito, né? E o seu seguro de saúde cobre esse tipo de acidente que você está querendo sofrer?? - com a colher de pau na mão.

- Mas meu amor... eu só ia amar você, olha que beleza!

A cara mais cínica do mundo. Eu mereço. Minha mãe já dizia: olha aonde eu vim amarrar o meu burro.

Fazendo côro com o Hitler

Ok, eu juro que atualizo o blog ainda essa semana e não pretendo me eximir das minhas responsabilidades com um videozinho mixuruca à guiza de post. Não, eu tenho dignidade e vergonha na cara. Mas enquanto não sai o post, o vídeo é bom pra caralho e vale a pena.

terça-feira, julho 15, 2008

Tempo de Crescer

Acredite se quiser, eu comecei esse post escrevendo a letra de "Vinte e Poucos Anos" do Fábio Jr. É mole ou quer mais? Mas nem foi por causa do "mimimi, quero saber mais do que meus vinte e poucos anos", não. Quando essa maldita tela branca olhou pra mim, eu comecei a pensar em tudo que tem acontecido nos últimos dias - que tem me impedido de atualizar o blog condignamente - e acabei na frase "tempo de crescer". Pronto, já viu, né? Pruma criatura que pensa no dedo do E.T. aceso quando mandam "imaginar uma luz", era inevitável associar a frase imediatamente com trilha sonora, não importa que seja velha e brega.

No último mês muita coisa aconteceu. Eu pedi demissão, meti o pé na estrada, procurei emprego no jornal, cogitei entre vestibular, especialização e mestrado, trabalhei numa campanha política, fiz entrevistas, estudei pra caramba e to me preparando pra mudanças bruscas na minha vida.

Emocionalmente, nunca estive mais feliz.
Financeiramente, já estive mais quebrada.
Profissionalmente, estou na expectativa.

As coisas têm caminhado, parece que vão finalmente pra algum lugar. Talvez seja o famigerado "primeiro passo" rompendo a inércia e coisa e tal. Não sei. Sei que tenho esperança, muita. E muita vontade de batalhar. Menino, to numa gana! Uma vontade de me colocar à prova, de meter a cara, sabe? Uma coisa que nem Leônidas na beira do penhasco gritando "Spartans! Tonight, we dine in heeeeeeeell!!!!!" E eles respondem com um brado de guerra, uma explosão de coragem, de fúria, de determinação. É meio assim que eu to me sentindo. Aliás, se estivesse podendo, ia até vestir uma roupa de Valkíria estilo "Charmed". Mas, como não é o caso, só posso pedir que acreditem na declaração solene de que o meu espírito está deveras guerreiro. Se bem que, considerando os lugares por onde eu tenho andado e as pessoas com que tenho convivido, receio que não me manterei nerd sedentária pura e intocada mais por muito tempo.

Pra vocês terem uma idéia da gravidade da coisa, sábado retrasado eu fui "dar apoio" prum atleta no Brasília Multi Sport. Minhas senhoras e meus senhores, aquilo não é coisa de Deus. E você aí, incauto que vê o mundo cor de rosa e pensa "ué, que mal tem dar um apoio pro cara? todo mundo precisa de apoio moral", não sei nem começar a te dizer O QUANTO você está enganado. Dar apoio, saibam vocês, pessoas que não "fazem pedal", nem trilha, nem corrida no mato ou no asfalto, ou remam no lago e corredeiras abaixo, é algo muuuuuuuuuuito mais complexo. Trata-se de acordar às cinco horas da manhã num frio do cacete, ir pro meio de um monte de gente revoltantemente malhada, queimada de sol e animadinha a uma hora obscena daquelas. Dada a largada, os atletas saem correndo feito doidos e você vai pra próxima parada da prova, onde tem mais uma porrada de gente malhadinha, queimada de sol, revoltantemente animadinha e que falam uma língua específica da tribo deles. Aí, depois de duas horas na beira de um lago esperando os coitados chegarem remando, você pega um caiaque imenso, amarra no carro e leva pro próximo ponto da prova, pra onde os atletas estão indo de bicicleta. Chegando lá, você coloca o caiaque de volta na água, dessa vez pro cara descer a corredeira. Aí pega a bicicleta, amarra no carro e leva pro próximo ponto da prova, onde você fica horas esperando o coitado chegar correndo do meio do mato, pra pegar a bicicleta de novo e pedalar de volta pro local da largada. Tem mais alguém aí disposto a defender o "apoio moral"?

Ok, eu estava na melhor companhia do mundo, com quem eu poderia ir até pro inferno, achando bom e dançando rumba. Mas que cansa, cansa. E dá uma sensação muito ruim ver todas aquelas mulherzinhas bronzeadas de pernas torneadas em shortinhos curtinhos e sentir na pele que você não é assim. Por outro lado, dá uma sensação muito boa ver que o cara que você gosta é capaz de ajudar não só os amigos dele, como também gente que ele não conhece, com a mesma simplicidade, com o mesmo sorriso. (...)

É, no balanço das coisas, acho que eu tenho tido mais sensações boas que ruins. Ou, se não, pelo menos eu só to conseguindo me lembrar das boas, agora. Será que crescer também significa fazer menos drama? (pensa)

Acho que não. Rá.

segunda-feira, junho 30, 2008

Fragmentos de Alcova

Recebi essa mensagem partida em fragmentos no dia 18 de março desse ano, escrita pelo homem mais incrível que eu conheço.

Lista de Exigências

Um beijo, um cheiro
uma lambida,
uma mordida,
uma assoprada,
um olhar, um sorriso
e uma piscada de olho.
Um pensamento lascivo
uma oração, uma bênção.
Um dia, uma noite, uma hora.
Um copo d'água,
uma gota no seu corpo,
seu gosto em minha boca.
Meu corpo cansado...
Um olhar de quero mais,
um pedido velado,
um gosto explícito,
um lugar sem sol.
Uma cama grande,
uma tarde chuvosa,
roupas íntimas sem fechos,
sutians sem botões,
vestidos amassados no chão.
Seu olhar me chamando pro quarto.
Acho que com isso, eu passo o feriado em paz.

quarta-feira, junho 25, 2008

AHAHAHAHAHA...



Life is Short
When it doesn't rain it snores
Yeah the cookie crumbles but in who's hand?
All things said and all things done
Life is short

Oh I am young but have aged
Waited long to seize the day
All things said and plenty done...life is short

Ooooh could this be....
Ooooh could this be the day I've waited for?

Another door to peek in through
The floor is filthy
But the couch is clean
At the end of the day
That's another day gone
Life is short....Ooo life is short

Ooooh Could this be....
Ooooh Could the be the day I've waited for?
Oh I am young but I have aged
Waited long to seize the day
All things said and plently done
Oh I am young but I have a past
Travelled for to find the start
Yes I am scared and I've been burnt
But life is to short

Ooooh Could this be...
Ooooh Could this be the day I've waited for?

quinta-feira, junho 19, 2008

Tempo

Ok, eu preciso atualizar o blog.

Mas sabe quando a sua cabeça está invadida demais pelas coisas dos outros e dos problemas dos outros, a ponto de você não ter mais paz nem pra lembrar de comprar absorvente, quanto mais pra contar histórias e ser espirituosa?

Pois é.

Me dá um tempinho pra me livrar dos grilhões e me desintoxicar. Vou ali e volto já.

quinta-feira, junho 12, 2008

Update

E o que eu queria dizer pro meu namorado hoje é:



You Raise Me Up
Josh Groban

When I am down and, oh my soul, so weary;
When troubles come and my heart burdened be;
Then, I am still and wait here in the silence,
Until you come and sit awhile with me.

You raise me up, so I can stand on mountains;
You raise me up, to walk on stormy seas;
I am strong, when I am on your shoulders;
You raise me up: To more than I can be.

There is no life - no life without its hunger;
Each restless heart beats so imperfectly;
But when you come and I am filled with wonder,
Sometimes, I think I glimpse eternity.

Dia dos Namorados. Mimimimi.

Saudade é uma palavra que, até onde eu sei, não tem correspondente em outro idioma. No máximo um "miss you", mas nunca saudade. Todo mundo já sentiu ou sente essa coisa que nos acostumamos a chamar de saudade. E tanta gente já falou sobre saudade em tantos textos, de tantos jeitos, que eu percebi ontem que o tema ficou banalizado. Mais até que isso, existe uma tendência a se subestimar essa coisa que chamamos de saudade, a ponto de dizermos que temos saudade de qualquer coisa e chegarmos à conclusão que, apesar disso, conseguimos viver muito bem sem aquela coisa de que temos saudade.

Então eu acho que deveria haver uma gradação pra palavra saudade. Que nem pra palavra amor. Ama-se de tantos jeitos possíveis! Um amigo, um irmão, um filho, um companheiro, uma história, um animal, um sabor. Amamos tudo isso e de diversos jeitos diferentes. Daí eu só posso concluir que também sentimos saudade de muitos e muitos jeitos e que esses jeitos devem ser diferenciados, reconhecidos, justiçados.

Eu tenho saudade da menina que um dia fui. Tenho saudade de alguns amigos que se perderam no meu caminho, de algumas situações que já vivi, de gente que não vejo há muito tempo, de sentimentos que um dia tive. Mas isso é apenas saudade. Do tipo convencional, aquele apertozinho láááá no fundo quando pensamos em algumas coisas. Mas um apertozinho com o qual podemos conviver e do qual muitas vezes nem tomamos conhecimento.

Mas tem um outro tipo de saudade e esse sim merece justiça. Aliás, mereceria um outro nome até, para ser realmente diferenciado. É aquele tipo de sentimento que dói. Dói a ponto de se sentir dor física. A ponto de não se conseguir respirar às vezes, a ponto do mundo inteiro rodar e ficar escuro, a ponto de sentir frio, por fora e por dentro. É uma falta absurda. Que dilacera, que desorienta. Que deixa a gente infeliz.

Sabe, às vezes temos total consciência de algumas coisas. Racionalmente. E aí fazemos listas de prioridades e tentamos nos convencer de conveniências e necessidades. E tentamos, de verdade, todo dia, a todo momento, ignorar o grito surdo que brota de cada inspiração, de cada piscar de olhos, de cada gesto. Tentamos tocar a vida. Mas às vezes acordamos no meio da noite com a certeza de que aquilo é impossível e que não dá mais pra fazer de conta que não dói, simplesmente não conseguimos lidar com aquilo de um jeito "racional" e "razoável".

E nessas horas, por mais que não dê pra apagar a tristeza dos olhos, tentamos sorrir e fazer de conta que estamos bem. E quando nos perguntam o que temos, respondemos modestamente: "ah, é saudade", daquele jeito prosaico. E temos vontade de morrer em seguida, porque calamos mais uma vez o que tinha que ser dito.

sábado, junho 07, 2008

Verborragia

Tem tanta coisa que eu queria dizer aqui, agora. Um monte de coisas que não deveriam ser misturadas no mesmo post, porque não têm nada a ver uma com a outra. Mas ao mesmo tempo em que eu reconheço isso, a minha cabeça está cheia, transbordando e girando vertiginosamente, misturando pedaços de diálogos, mesclando lágrimas com sorrisos e emendando uma história na outra. Me ocorre tanta bobagem pra dizer e tanta coisa séria! Tenho vontade de contar sobre a merda que foi essa semana, sobre como me doeu algumas injustiças e disparates que me aconteceram, o quanto me indignou certos desmandos, o quanto estou no limite com algumas situações, o quanto é questão de tempo pra eu gritar um sonoro FODA-SE, mandar todo mundo tomar no cu e sair batendo a porta. Tenho vontade também de contar sobre o aniversário na terça feira, o mais triste e solitário que eu já passei e seria o pior de todos não fosse a existência do Fabrício na minha vida. E falando no Fabrício me dá vontade de contar que ele é o cara mais foda do mundo, de dizer que me sinto privilegiada por conhecê-lo e mostrar o presente que eu ganhei. Dá vontade de contar que ontem eu conheci uma menininha no aeroporto que parecia um gnominho em miniatura, que ela não falava coisa com coisa, só pronunciava algumas palavras inteligivelmente (neném, avião, mamãe), e no mais ela grunhia que nem uma matraquinha e juraaaaava que eu tava entendendo tudo. Aí eu fazia de conta que entendia e toquei o terror com ela, faltei correr com ela na sala de embarque. A Luisinha. Me dá vontade de contar que se um dia eu tiver alguma, queria que fosse que nem ela. Danadinha, voluntariosa, simpática, linda e risonha. Acho que a mãe dela teve até medo que eu catasse a menina e saísse correndo. Tenho vontade de contar da saudade que eu to das minhas amigas mais queridas. Dehynha, Dri, Nayra, Gabi, Lilhá... E também das amigas queridas que eu não conheço pessoalmente ainda, que nem a Rocca e a Jo e que me fazem uma falta danada. Ainda mais que a Jo ta montando um grupo de RPG e eu não vou poder participar! aaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa, saco! Dá vontade de contar que eu to ficando mestre numa modalidade de esporte chamada "Cooper de Aeroporto" e que to pensando em organizar uma equipe fixa pra correr por Congonhas, nunca vi pista mais longa, mais cheia de obstáculos e cheia de possibilidades de trajetos. Dá vontade de contar que a GOL é a empresa aérea mais estúpida, desorganizada e mal qualificada que existe e que de repente me acontece algo que nunca aconteceu: toda vez que o avião sobe eu peço a Deus que ele não caia, porque eu ainda tenho muito que fazer, não posso morrer como uma advogadinha anônima e maltratada que não conquistou nada e não posso me conformar ainda que a última vez que eu segurei na mão do Fabrício tenha sido a última vez. Também não posso morrer sem bater o recorde de blogs criados do Júlio. Eu to ainda tô no nono, preciso de tempo pra chegar no vigésimo! Também não posso morrer sem tomar uma Devassa com a Nayra no Leblon, não posso morrer sem ver a sem vergonha da Carla de novo, não posso morrer sem levar a Dehynha pra fotografar cachoeiras na puta que pariu, nem sem ir com a Dri pra Europa. Também não posso morrer sem publicar meu livro. E não posso morrer com o coração cheio de buracos como está hoje. Mas sabe, eu to feliz. Hoje, aqui, sentada nesse apartamento, olhando pra minha vida, pros recados de aniversário que me deixaram no orkut, pensando nos meus amigos, sentindo o ventinho frio entrando pela porta da sacada aberta, sabendo que daqui a pouco a chave vai rodar na fechadura e sentindo que o dia vai ser muito, muito bom. Capaz até de compensar a semana e toda a saudade e todo o vilipêndio. Acho que vou fazer um café. E ligar pra minha mãe.

terça-feira, junho 03, 2008

Will I Ever Make It Home?

I woke up from my sleep to the sound of that voice
From the words that I heard I had no choice
They told me I had to turn around
My assurance slowly faded down
And I wonder

Will I ever make it home
Will I ever leave the ground
Leave this place so far behind

The plans that I had were quickly destroyed
The problem was one I couldn't avoid
They welcomed me to stay overnight
I'm too tired to complain so i just might
And I wonder

Will I ever make it home
To the place I recognize
Far from here and where I've been
And all the places that I've been shown
Will I ever make it home
Can they keep me here for good
Where I hardly know a soul
And my fear keeps going on

My weariness keeps growing inside
My patience is starting to subside
And I hope I'll be there soon
It can't be long or I'll fall through

Will I ever make it home
Will I ever leave the ground
Leave this place so far behind
Till there is no turning back
Will I ever make it home
Get to where I wanna be
Find the ones who wait for me
To the place where I belong
Will I ever make it home

Aviso aos navegantes

Aniversário é só um dia.
E não necessariamente um dia bom.
Mas agradeço a lembrança e os cumprimentos. Mesmo.

Abraços.

segunda-feira, junho 02, 2008

Contos da Carochinha Bêbada

Tudo começou com uma brincadeira. Sabe criança, quando diz: PORQUE SIM e toda a lógica que ela precisa no mundo está ali? Foi mais ou menos isso. O Fabrício me mandou um email, não lembro sobre o que agora, com uma lista enoooooorme de argumentos pra me convencer sei lá do que. No auge da empáfia que me é peculiar, respondi a ele dizendo que na Liviolândia, onde eu era Soberana Absoluta, as coisas não funcionavam daquele jeito não, e que ele podia tirar o cavalinho da chuva. Putz, pra que eu fui fazer isso? Ele me mandou um email maior ainda, execrando os déspotas esclarecidos, clamando por Justiça e falando mal da Liviolândia. Ê, mas aí eu parti pra ignorância. Onde já se viu falar mal da Liviolândia? E da Soberana Absoluta de lá??? Impensável!

(pausa pra risadas)

Bom, tirando a maluquice toda, o que sobra é o seguinte: ele me propôs um desafio. Eu aceitei. E de quebra ainda enfiei a Dehynha e o Eric no meio. E pretendo enfiar mais gente. O fato é que a brincadeira está lançada e promete ser divertidíssima. Criamos o CONTOS DA CAROCHINHA BÊBADA exclusivamente pra contar histórias tortas, mancas e caolhas. E, claro, pro mundo inteiro saber das pirações que acontecem em Liviolândia. Seja lá onde essa porra for.

sexta-feira, maio 30, 2008

Anywhere



Anywhere
Avantasia
Composição: Tobias Sammet


Gabriel:
I remember it was long ago
But when I think of her I fell it grow
Something begs me to come home again
Something I can hardly stand

But I'm to defy, I have to ignore her cry
I don't know what to do, I'm missing you so bad

Waiting for tomorrow, for a little ray of light
Waiting for tomorrow just to see your smile again
Take away my sorrow from a blistered heart of mine
Where are you now if you are there anywhere

Please forgive me for how I decide
But before I can come with rapid strides
Don't expect you'll have to understand
Jakob needs my helping hand

First I have to go one out of two ways
Which both are wrong and I'm to go
So afraid, so ashamed
So deranged - but I know...

Waiting for tomorrow, for a little ray of light
Waiting for tomorrow just to see your smile again
Take away my sorrow from a blistered heart of mine
Where are you now if you are there anywhere

Waiting for tomorrow, for a little ray of light...
I can't wait for you - Are you there - anywhere

quinta-feira, maio 29, 2008

O fato é que hiatos sempre vão existir, por menores que sejam, por ridículos que sejam, por sanáveis que sejam. E acho que um dos meus maiores problemas no fim das contas é tentar não encher o saco das pessoas mesmo quando sinto essa necessidade. Eu tenho essa mania besta de respeitar a vontade e o espaço dos outros e a falha grave de não saber reivindicar atenção quando ela não me é dada voluntariamente. Também não sei colocar em palavras com facilidade as coisas irracionais que eu sinto, pelo menos não de pronto. Eu sempre preciso de uns momentos pra mastigar. Mas às vezes não tenho esses minutos, o tempo acaba, o gongo soa e acabo tendo que dormir com um nó na garganta. Como agora.

segunda-feira, maio 26, 2008

O Mundo, o sábio e o leão.

Era uma vez uma menina que desejava abraçar o mundo com as pernas e por isso sonhava com pernas que fossem mais compridas. Tentou de muitos jeitos alongar as pernas pra conseguir abarcar o mundo. Perdeu a conta das tentativas frustradas e dos estiramentos musculares. E quando tinha começado a imaginar se o segredo não seria achar um mundo que lhe fosse mais proporcional, encontrou um sábio sentado sob uma árvore e ele lhe contou um grande segredo: o mundo não era pra ser abraçado. Era pra ser sorvido, em grandes goles e largos haustos. Mas, pra isso, ela precisava atravessar um deserto planáltico sob um sol efervescente e matar o leão mágico que morava numa caverna escura e que renascia todos os dias, espreitando à espera de uma brecha pra abocanhá-la pelo pescoço. O sábio falou demoradamente sobre o sol e as areias causticantes, as garras e presas do leão, pintou os perigos em cores fortes e vivas. Foi duro, cruel e por momentos pareceu seriamente decidido a dissuadir a menina da travessia. Mas se ela desistisse, não haveria mais pra onde caminhar nem o que buscar. Tudo perderia o sentido. E, apesar de apavorada com as palavras do sábio, ela proferiu uma prece muda pra que os deuses a amparassem e pra que fosse forte o suficiente. Olhou nos olhos do sábio e vaticiou: "Eu vou". E, pra seu espanto total, ele emitiu um suspiro, levantou-se do chão, pegou o cajado e retrucou: "Ta bom. Então eu vou com você. Mas não diga que eu não avisei".

sexta-feira, maio 23, 2008

Pavor

Odeio sentir isso que eu to sentindo agora. Ok, eu sei que esses posts "diário-de-menina-adulta" são um saco e peço que me perdoem. Mas às vezes escrever é a única coisa que me salva e só assim eu consigo colocar as idéias em ordem. Sabe quando você percebe que tá com uma merda de humor e não sabe direito o que foi que deflagrou aquele estado? Qual foi o gatilho pra espiral que culminou naquele desânimo, chateação, tristeza, angústia? Pois é exatamente onde eu me encontro: parada no meio dum caos, cofiando a cabeça e me perguntando como foi que cheguei aqui.

Acho que um pouco deve ter a ver com o meu medo recorrente e indelével de não ser boa o suficiente, em todos os sentidos.

Eu sempre me envolvo com pessoas acima da média, com inteligências notáveis, extremamente competentes e capazes. Porque não dá pra se apaixonar por alguém que não se admire, esse é o pressuposto mais básico e imprescindível. E este fator cria alguns efeitos colaterais muito irritantes, como hesitar em ser expontânea e pensar duas vezes antes de dizer algo por medo de parecer boba. Ou como o medo de que aquela pessoa se dê conta de que você tem grandes limitações, se canse e vá embora. Ou o pânico de não conseguir alcançar o ritmo, de ficar pra trás, de falhar.

Por outro lado, eu fiz um curso superior que me trouxe muito sofrimento e do qual gostei muito poucas vezes. Assim, sempre tive consciência de que as minhas deficiências nesse campo eram grandes. Aí tentei rechaçar essa formação e começar de novo, mas percebi que as malhas jurídicas que me envolviam eram mais fortes do que eu tinha pensado e davam mostras de que não me deixariam em paz nunca, ou pelo menos não tão facilmente, não sem lutar. E foi então que em vez de lutar com essa coisa viscosa, eu resolvi abraçá-la, pra ver se eu me sentia melhor comigo mesma. Deu certo durante um tempinho bem curto, porque mediocridade me apavora, me sufoca, e o simples vislumbre dela me deixa desesperada. E é assim que eu tenho me sentido de uns tempos pra cá. Medíocre. Insuficiente.

As pessoas me dizem que eu preciso de tempo, que preciso caminhar e conseguir as coisas gradativamente. MAS EU NÃO SEI FAZER ISSO! Aí me rasgo procurando uma saída em vão, fico que nem naquelas noites em que a gente levanta da cama no escuro e fica tateando no quarto fechado, desorientada, procurando o interruptor de luz sem achar nada. E dá uma vontade doida de gritar pra alguém parar o mundo que a gente quer descer. E parece passar uma eternidade até que a gente consiga acender a luz.

Ultimamente o que mais tem me angustiado e me ferido é a necessidade de encontrar um rumo, um jeito de construir alguma coisa palpável. Eu preciso estudar, desesperadamente. Mas não sei direito o que, nem como. E quando me ponho a pensar ou discutir com alguém sobre isso, me vem de novo o pavor de não dar conta, de não ser boa o suficiente, de fracassar e ter que me conformar em ser uma "zinha" qualquer.

Ai, caceta, nessas horas nem respirar no saco adianta.

segunda-feira, maio 19, 2008

Dez Tiradas Muito Românticas

1. Não discuta comigo que sou homem.
2. Mulher é um bicho muito parecido com um ser humano.
3. Vai na frente, amor, gosto de te ver subir a escada.
4. Ô neguinha insolente! Madita Princesa Isabel!
5. Amor, tenho um vídeo ótimo pra te mostrar. Se chama "Pão cu Manteiga".
6. Livinrooom, a revista de literatura e opinião da mulherzinha moderna.
7. Ah, amor, só por que você é uma advogadazinha recém formada e inexperiente?
8. Puxa, preciso comprar açúcar. Vai que a vizinha vem pedir um pouco, né?
9. Na qualidade de macho dominante da relação eu digo: porque sim.
10. Não existe coisa melhor, guardadas as devidas proporções, que coçar a frieira dos dedos do pé esfregando no punho da rede.

Eu ouvi tudo isso, acredite. E tem gente que duvida quando eu falo da Caravana de Putas...

To pensando em inaugurar uma corrente nova. Queria ver uma lista dessas feita pela Gabi, pelo Luke, pela Jo, pela Rach e pelo Júlio...rs...tem dúvida que vai dar merda?

sexta-feira, maio 16, 2008

Paliativo

Já sabe, né? Post escrito perto da meia noite nunca é bom. É a hora em que todos os sons que agitam o dia silenciam. É quando você deveria ir dormir, mas não está com sono, embora esteja muito, muito cansada. Mas a sensação de quem tem algo faltando é palpável demais pra ignorar e fica latejando no escuro quando você apaga a luz e se deita, buscando, em vão, pelo bálsamo do sono com algumas horas de descanso e inconsciência.

Nada é mais cansativo do que a necessidade de fugir o dia todo de algo que te alcança quando você pára. E tudo o mais, qualquer coisa, é somente paliativo, serve apenas pra te manter em movimento, sem pensar, só agindo e reagindo. E nada faz mais barulho do que aquilo que deve ser calado e que às vezes precisa ser contido pelos dentes e olhos cerrados, bem apertados. Há coisas que não devem ser ditas. Há coisas que você não devia sentir.

O melhor é engolir ávida e alegremente junto com mais uma dose de paliativo o que veio na ponta da língua e das pupilas.

quinta-feira, maio 15, 2008

Sobre a Caravana de Putas...

Inauguro neste momento uma categoria que, suponho, se tornará a mais extensa de todas as presentes nesse blog, só rivalizando com uma outra, a chamada "mimimi". A categoria é "Sobre a Caravana de Putas". Por um simples motivo: eu TENHO CERTEZA que, há mais ou menos dois mil e oito anos eu devo ter organizado uma caravana de putas, vestido todas elas de vermelho cereja, passado perfume "Odara" (imagine aqui um trejeito a la pomba gira), pagado uma rodada de absinto e levado todas pra Santa Ceia, com direito a duas pra cada membro participante da fatídica reunião.

Só pode ter sido isso. Deve estar escrito na minha testa: PECADORA MALDITA - FAVOR TORTURAR. E enquanto eu não descubro como apagar o tal letreiro, vou me fodendo bonito.

Veja a de ontem à noite.

Estou eu no meu computador, assistindo a uma edificante aula de Direito Constitucional, quando o amado namorado chama no msn e pergunta se posso falar com ele um momento antes dele dormir. Óbvio que sim! Só precisava trocar de computador, porque o meu está com um probleminha de áudio - o microfone não funciona nem com reza braba. Assim, fui pro outro, liguei e tentei conectar. Nada, senha e/ou usuário inválido. Hein? Comassim? Fui até a sala de televisão.

- Irmão, qual a senha atual da internet?
- "morena34", Irmã.

Volto lá, testo essa senha e nada.

- Irmão, continua dando senha inválida.
- Tenta reiniciar.

Tento reiniciar. Nada.

- Irmão, essa senha tá expirada.
- Claro que não, eu troquei ela outro dia!
- Só pode estar.
- Que nada. Quer ver? Desconecta o outro computador da internet e vê se reconecta.

Por algum motivo, em vez de notar que era uma sugestão "estúpida+2", eu acatei, mais pra provar a ele que ele tava errado do que pra quaquer outra coisa. Só não pensei direito nas conseqüências: eu ficaria sem conexão nos dois computadores. Dito e feito, a senha estava expirada.

- Isso não é possível, eu troquei essa senha outro dia!
- ...
- Bom, agora é ligar no help desk.
- Ta, e qual é o telefone de lá?
- Não sei.
- Como, não sabe, se você ta repetindo que nem uma coisa enguiçada que trocou a senha outro dia?
- Não sei, ué.
- ¬¬

Toca a procurar o telefone. Acho. A porra do número só dá ocupado. Ligo quatro vezes e só ocupado. Enquanto espero, ligo pro namorado explicando a idiotice e peço pra aguardar um pouco enquanto eu consigo outra senha. Ok, ele espera. Ligo de novo e finalmente, o telefone chama no Help Desk e a secretária eletrônica atende:

- Boa noite! Você ligou para o suporte técnico da "empresa Sbrubles"... Mas neste horário já encerramos nossas atividades hoje e nenhum dos atendentes se encontram disponíveis...Por favor, deixe seu nome e telefone que..

- O QUE??????????? COMO ASSIM ENCERRAMOS NOSSAS ATIVIDADES HOJE???? QUE PORCARIA DE SERVIÇO É ESSE?????????

Bati o telefone antes que ficasse uns palavrões gravados na porra da secretária eletrônica. Afinal, eu sou uma moça educada, apesar de tudo. Mas NÃO DAVA pra eu ficar MAIS PUTA, cara, NÃO DAVA. Como diz o outro, "não é que não dê, é QUE NÃO DÁ"!

Onde já se viu uma merda dessas??? Dá vontade de processar a porra da Empresa Sbrubles, porque eu sou uma consumidora ABSURDAMENTE frustrada!!! Eu contratei um serviço de suporte que NÃO ESTÁ FUNCIONANDO QUANDO EU PRECISO!!!! Será que na terra deles, lá, no planeta "Serviço Ruim", alguém já descobriu que serviços dessa natureza são VINTE E QUATRO HORAS???

PUTA QUE PARIU, QUE ÓDIO! Eu juro, que se eu tivesse tempo pra mais alguma coisa e estivesse precisando de mais algum aborrecimento, eu ia entrar com uma ação contra a Empresa Sbrubles. Mas como eu to atolada de coisa pra fazer e totalmente sem saco, fica mais um item no rol "Sobre a Caravana de Putas" mesmo, e chega. A próxima manifestação do carma ruim não vai demorar a acontecer mesmo, eu sei. Pelo menos posts não hão de me faltar. ¬¬

segunda-feira, maio 12, 2008

Dia 12 de maio

Olhando o calendário, vemos um monte de diazinhos marcados em vermelho além dos finais de semana. Os feriados. Dia da independência do Brasil. Corpus Christi. Natal. Tiradentes. Etc. E na verdade, esses dias, que viraram marquinhas vermelhas no calendário porque deviam significar alguma coisa, não passam de abençoados dias em que não se tem que ir trabalhar, pra maioria das pessoas. Os motivos, via de regra, são dois: festas religiosas católicas e um pretenso civismo decaído. Pra mim, que não sei nada de calendário nem de rituais católicos, nem estou afeta a nenhum órgão que desfile em paradas cívicas, não faz diferença.

Mas se pensarmos em dias com significado, quais seriam eles? O dia em que nascemos, o dia em que nos formamos, o dia em que nos casamos, em que nascem nossos filhos, em que conquistamos grandes sonhos? Claro. Todos esses são dias importantes. Mas, via de regra, esses dias passam anônimos, sem marquinhas no calendário. A não ser no nosso calendário pessoal e nas paredes da nossa memória, onde penduramos os quadros que assinalam as grandes coisas que nos acontecem.

O dia de hoje pra mim merece uma marca e um quadro na minha galeria de coisas importantes. Não que tenha me acontecido nada particularmente bom hoje. Ao contrário, como toda boa segunda feira, o dia está espinhoso e eu respirarei aliviada quando me sentar de novo diante desse computador lá pelas sete da noite. To torcendo pra ele acabar logo.

No entanto, o dia de hoje é um marco importantíssimo na minha vida, na minha história pessoal. Porque no dia de hoje, há 33 anos, nasceu um dos caras mais incríveis que eu já conheci. Uma pessoa cuja entrada na minha vida fez toda a diferença e, suspeito, dada a sua natureza, tenha feito a diferença pra muitas pessoas ao longo desses trinta e três anos. Um cara íntegro, inteligente e corajoso ao extremo. Capaz de arrancar um sorriso nos momentos mais difíceis e de resolver os problemas mais cascudos. Um cara de quem a mãe dele deve morrer de orgulho e de saudade todos os dias. Por minha vez, eu sei que morro.

Feliz aniversário, Fabrício.

sexta-feira, maio 09, 2008

Correndo riscos

Eu falei que ia parar de elogiá-lo aqui no blog, porque senão daqui a pouco vai ter boneco de vodu meu espalhado pra tudo quanto é lado, com a mulherada toda rezando pra eu morrer e ele ficar disponível de novo. Prometi inclusive que qualquer hora dessas solto um post sobre como ele tem chulé, usa um dente de ouro na frente, palita os dentes com a boca aberta e cantarola Reginaldo Rossi no chuveiro. Sei lá se as pessoas vão acreditar, mas vale a tentativa.

Só que hoje vou correr o risco. Tem dias que neguinho se supera e eu tenho que fazer justiça.

Sabe quando você percebe que a pessoa que está do seu lado é diferente dos outros, um homem admirável e um ser humano fantástico? Quando ele é capaz de secar as suas lágrimas pelo telefone, sem te adular, sem te dar sermão, só sendo ele mesmo. Só argumentando e sendo o cara mais amigo do mundo. E de repente, além das lágrimas terem secado, você se pega rindo, fazendo piada, baixando a guarda, confiando. Sentindo de novo uma coragem de viver imensa, se sentindo capaz de tudo. É quando você sabe porque tem medo, mas já retomou o controle. É quando a mão dele e o apoio que ele te dá te impedem de afundar na espiral de pânico. E quando ele tem o condão de te mostrar que nada é tão grave assim e que está do seu lado incondicionalmente. Que ele já sabe das suas neuroses e dos seus medos, mas que não se assusta com eles. Mais ainda, que te ama apesar das suas fraquezas e que faz questão de conhecer tudo a seu respeito, mesmo o que não é muito agradável.

É quando você percebe que acertou. E não se sente mais sozinha ou pequena diante dos desafios, porque quando você duvida de si mesma, ele ri e garante que assim que você superar o medo de dar o primeiro passo, "te segurar vai ser uma merda", e que ele vai ter que correr atrás pra poder te acompanhar.

E ainda é modesto, o miserável. ¬¬

terça-feira, maio 06, 2008

Mal Crônico

Sabe, é engraçado. Eu estou feliz. Mesmo, de verdade. Eu faço 25 anos no mês que vem, tenho profissão, amigos, um cara legal do meu lado e, o mais importante, METAS. Sim, você aí, não leu errado. Eu TENHO metas. De curto, médio e de longo prazo. Hã? Como assim, "quem é você e o que você fez com a Lívia?". Eu, hein? Minha avó diria pra você: "me mira, mas me erra". Rá, mineirices rules.

Mas, voltando ao assunto. Eu TO feliz. Mas tem uma coisa que some por algum tempo de vez em quando, mas nunca vai embora de vez. Como se dentro de mim houvesse um bicho. Não, não estou grávida, não me refiro ao Alien e nem a uma tênia solitária (ugh! nojento!). Estou falando de uma coisa que ciclicamente vem à tona, não importa qual seja a minha realidade, não importa que eu esteja realmente feliz no resto do tempo.

É, é isso. Dentro de mim mora um bicho. Que vira-e-mexe estraga minhas coisas, me faz desapaixonar das minhas empreitadas - e não das pessoas, não confunda essa declaração com uma possível mudança na perfeição irritante da minha vida amorosa neste momento - perder a paciência com as pessoas e ficar ainda mais introspectiva durante algum tempo. Também faz as noites ficarem mais frias e mais vazias do que são de verdade, e faz a vidraça embaçar com um misto de respiração e tristeza. Uma tristeza fininha, sem motivo definido, mas que não deixa de colocar um travo na garganta e um suspiro fundo e intermitente grudado no peito que nem catarro (é, hoje estou dada a nojeiras).

Quem me conhece sabe que sou capaz de ficar eufórica e deslumbrada que nem criança. E também sabe que eu vou da crista da onda ao fundo do vale num piscar de olhos. O negócio é que eu preciso constantemente de desafios novos, ou perco o interesse. Se bem que eu acabei de me dar conta de uma coisa: não bastam os desafios, eu preciso é de estímulos, que me instiguem a fazer algo, mas que me proporcionem recompensas, também.

Às vezes dá uma vontade danada de parar de brincar. Sabe, que nem criança? Apelar, pegar a bola, colocar de baixo do braço, chamar todo mundo de "feio, bobo, chato e fedido" e ir embora pra minha casa, com a certeza de que eu estraguei a brincadeira de todo mundo, ou pelo menos, criei um impasse grande o bastante até arrumarem alguém que tenha uma bola pra emprestar e colocarem no meu lugar.

Puxa, vida, tem horas que eu só quero ir pra casa. Onde eu posso chutar longe aqueles sapatos doloridos que fizeram uma bolha no meu pé, tomar um banho quente e me esticar na cama, sem precisar acertar relógio nenhum pra tocar amanhã cedo. Mas isso nem existe, eu não mereço tanto. Ou talvez isso fique em Pasárgada, o que é bom, porque na cama onde eu vou me esticar estará o homem que escolhi, lendo um livro cheio de cientistas e canibais e dando risada de vez em quando.

O mais chato de tudo isso é que quando o bicho se manifesta, trazendo consigo essa sensação de saco-cheio, frustração, solidão, tristeza e saudade, tudo junto e misturado, eu me conheço: não tem nada que dê jeito. A não ser os braços do ogro amado, é claro. Mas como não dá, melhor eu ir pra cama. Porque nesses dias eu fico chata pra caralho.

sábado, maio 03, 2008

Demarcando o território

E então é isso aí...Você está lá, felizinha da vida, achando tudo lindo, vendo elefantes cor-de-rosa dançando rumba em fila indiana no ar... O caso é tão grave que você é capaz de achar a coisa mais linda quando ele recita o Wando... "você é luz...é raio, estrela e...luar...manhã de sol...meu iaiá, meu ioiô...você é sim...e nunca meu não...quando tão louca, me beija na boca, me ama no chão..." Vocês são aquele tipo de casal irritante que está sempre com um sorrisinho no rosto porque certamente sabem de alguma piada que os outros ignoram... vivem de mãos dadas, se procuram com os olhos o tempo todo, compartilham aqueles brownies com sorvete de creme gigantes no mesmo prato com duas colheres, incomodam os vizinhos com gemidos e sussurros. Só uma palavra define isso: perfeição.

E vocês vão sair pra jantar. Tomam um belo banho morno enquanto um samba toca no som, se vestem e se penteiam entre risadas e carinhos. Você abre a porta e sai para o corredor, esperando por ele, que se demora fechando a janela. É então que ela aparece.

Você observa-a se aproximando em câmara lenta. Cabelos longos e loiros a la Gisele Bünchen, nenhuma mancha ou espinha que seja sobre a pele dourada de sol, olhos grandes, boca carnuda, pernas longas e esguias saindo de uma minissaia jeans que vai daquele gordinho da bunda logo acima da coxa até pouco acima dos pêlos púbicos, deixando ver a barriga lisa semi oculta por um top que não dispõe de muito pano. Ela bamboleia em cima de saltos não muito altos e carrega uma sacola cheia de garrafas de vinho que tilintam no ritmo dos quadris dela.

Quando passa por você, ela abre um sorriso largo de orelha a orelha e cumprimenta, toda alegrinha: "boa noite!". Você, algo entre surpresa, fulminada e despeitada se esforça para sorrir de volta com a mesma desenvoltura e simpatia, mas tem sérias dúvidas se consegue esboçar mais que um esgar assassino. A garota tilinta em frente pelo corredor, saca um chaveiro cor de rosa e enfia a chave na fechadura da porta que fica a uma distância intoleravelmente curta de onde você se encontra, grudada no chão invocando mentalmente todas as pragas do Egito.

COMO ASSIM???? AQUELA era a vizinha do seu namorado??? Com QUE direito??? QUEM tinha dado ordem?? Alguém pare o mundo que você quer descer!!!!

Nesse segundo ele sai para o corredor sorrindo e arregala os olhos ao se deparar com a sua expressão:

- Que foi que aconteceu?

Você se arrepia toda, que nem galinha se preparando pra briga:

- A-d-i-v-i-n-h-a. - e indica com a cabeça a porta da loira, que ainda se atrapalha pra abrir a porta segurano a sacola com as garrafas de vinho. Ele, com a cara mais inocente do mundo olha na direção da loira e torna a olhar pra você, perplexo:
- Hein?

- ISSO é sua vizinha? - você coloca as mãos na cintura. Ele arqueia a sobrancelha, subitamente entendendo tudo. Declara solenemente:

- Ah, é...eu também acho isso um absurdo.

- Ah, acha? - é a sua vez de arquear a sobrancelha.

Ele sorri, malicioso:

- Acho sim. Pra que serve ter uma vizinha dessas se ela nunca vem pedir uma xícara de açúcar?

Como mulher esclarecida e confiante que é, você ri da piadinha e desce as escadas junto com ele, em direção ao carro. Mas lá no fundo o instinto continua berrando e você quase dá meia volta pra fazer xixi na porta do apartamento dele. Ou pra bater na porta da loira, arrancar cada fio daquele lindo cabelo e quem sabe, quebrar os dois dentes da frente. Ô, mas foi quase.

sexta-feira, abril 25, 2008

Juízo nenhum

Juízo definitivamente nunca foi o meu forte. Aliás, sempre me faltaram também uns parafusos e eu sempre tive consciência disso. Acho que foi um pouco por isso que sempre pelejei pra manter os meus dentes do ciso. Sabe como é, né? Eu sou uma garota prudente e...

Ok, ok, é mentira, tá? Eu confesso, é mentira! Pronto, satisfeitos? Droga, não posso mentir mais nem no meu próprio blog! Por que vocês não me deixam em paz, hein? Ficam aí, nesse silêncio acusador, como se dissessem "tá, conta outra" com a cara mais cínica do mundo. Seus...seus... malditos leitores!

(inspira...expira...inspiiiiira...expiiiiira...)

Certo, passou o surto. Desculpem o ataque, deve ser a medicação... Hein? Qual medicação? Ah, é, eu ainda não contei.

No sábado passado meu dente do ciso do lado esquerdo superior começou a doer. Ta, isso é normal, eu nem me alarmei. Afinal, venho tolerando a dorzinha deles nascendo não é de hoje, com toda paciência do mundo. Até conversar com eles eu conversava, pra aliviar a dor. O lance é que de jeito nenhum eu ia me submeter à violência de me arrancarem dentes da boca que não davam mostras de quererem sair de livre e expontânea vontade. Aliás, eu já me sentia vilipendiada quando os meus dentes amoleciam e eu era obrigada a arrancá-los, mesmo a contragosto.

Aí o dente começou a doer. Eu ignorei, pensando: "logo isso passa". Ah, quem dera. Ele se revoltou, dessa vez. Foi ficando inflamado, a dor se alastrou para o céu e os cantos da boca, logo eu já nem podia sorrir direito sem fazer careta. Amanheci na segunda feira enlouquecida, corri pra farmácia e pedi um antiinflamatório e um analgésico poderosos. Na saída do caixa - ah, essa eu tenho que contar - quando eu me apresentei pra pagar, o rapazinho se virou pra mim, muuuito educado:

- Olá, bom dia, tudo bom com você?
- Sim, tudo bem. - meio segundo depois comecei a rir e emendei - Se bem que é meio estranho você perguntar a alguém na fila da farmácia carregando remédios pra dor se está tudo bem!

O mocinho corou, gaguejou e acabou rindo junto comigo.

- Desculpe.
- Ah, que nada, eu to só brincando... - Tadinho dele, tão educadinho! Aliás, como todos naquela cidade, ainda escrevo sobre isso outra hora.

De posse dos remédios, me entupi com eles e me senti melhor. Deu pra segurar a onda até o dia seguinte, quando até parecia que a inflamação ia mesmo embora e eu estaria salva pelo gongo. Rá. Ledo engano. Cheguei em casa na quarta à tarde abatida de tanta dor. Na quinta, acordei e liguei no trabalho, avisando que não ia dar pra aparecer. Marquei com o dentista e lá fui eu.

Ele chegou, fuçou na minha boca com aquelas mãozonas cheias de dedos dele - porque essa raça maldita tem dedos tão grandes, hein??? - e disse que o jeito era arrancar. Assim, na lata, sem nem pedir meu telefone ou convidar pra jantar antes. E pra piorar, ele não queria arrancar só o inflamado, queria tirar tudo. Como se pelo fato de eu ter deitado inocentemente na cadeira dele, ele pudesse abusar de mim daquele jeito! Humpf.

Mas o dentista era bom no quesito convencimento. Pintou de tal forma a coisa, que eu quase mandei começar ali mesmo. No entanto, tinha aquela questão, né? Um? Dois? Quatro? Pessoas, o dilema foi grande. Eu nunca tinha ouvido ninguém contar que tinha tirado os quatro dentes de uma vez, eram sempre dois e dois, em duas prestações. Mas também já tinha ouvido gente dizer que tinha tirado um ou dois e nunca mais tinha criado coragem de voltar pra arrancar o resto.

Além disso, eu sou fraca pra dor, gente. Isso é fato, pode colocar nas "coisas sobre a Lívia que você sempre quis saber, mas nunca teve coragem de perguntar". Tenho medo de agulha - por isso nunca fiz minha tatuagem, tenho medo de faca, tenho medo de parto - cesariana, lógico, parto normal é inconcebível, nunca, nem fodendo. E tenho medo de dentista. Merda.

De repente eu me dei conta que ou era ali, naquela hora, ou era nunca mais. Eu me conheço. NUNCA voltaria pra fazer os outros dois dentes de arrancasse só dois ontem. Mas antes de eu me pronunciar quanto à dura decisão, o dentista argumentou:

- Imagine que você quebrou os quatro dedos da mão. Estão quebrados, não tem nada pra ser feito quanto a isso, a não ser consertar. Você por acaso vai endireitar dois, passar pelo pós operatório desses dois, pra depois arrumar os outros dois e passar DE NOVO pelo pós operatório?

Ok, doutor, eu me rendo. Vamos lá, se é pra consentir no estupro, por que não incluir um pouco de areia, né?

Ele me deu uma lista enorme de remédios pra comprar. Antiinflamatório, antibiótico, analgésico, antiséptico bucal. Marcamos pra depois do almoço. Ele disse que era melhor eu comer antes da cirurgia. E confesso, pessoas, na hora não entendi bem por que. Pensei que podia ser por causa da anestesia, da medicação. Vim descobrir hoje, do jeito mais duro possível, que era pra eu ME DESPEDIR DE COMIDA SÓLIDA, QUENTINHA E CHEIROSA, porque agora sei lá quando eu vou ver isso de novo. Aliás, to enojada de sorvete já. E de vitamina. E de suco. (aqui eu poderia dar um grito, não fosse a impossibilidade de abrir a boca).

Cheguei pra cirurgia, meia hora antes como recomendado. A assistente do dentista me deu um "remedinho pra ansiedade". Olhei dentro do copinho e tinha um comprimido branco redondo e um outro, verde, partido ao meio. Com certeza aquele ali era o melhor, que mulher mais muquirana. Deu vontade de dizer: "dá a outra metade do meu comprimido, aí, faz favor?". Ora bolas. Bem, tomei o que ela me deu e mais um de cada caixa que o dentista mandou eu comprar. Sentei e esperei aquele coquetel fazer efeito.

O dentista apareceu e aí foi tudo muito rápido. De repente eu tava deitada na cadeira sob uma luz obscena me cegando com os cabelos dentro de uma touquinha. A assistente me deu uma toalha de papel que, ingenuamente, eu pensei que seria pra enxugar alguma baba. Mas eles forraram em cima de mim um tecido azul, que deixou só o meu rosto de fora. Ali eu comecei a sentir a claustrofobia dando sinal. "Calma, Lívia", pensei. Pra me distrair, voltei a pensar no lencinho. Se não era pra baba, era pro que, então? Pra ter o que segurar e apertar na hora do sufoco? Acho que um pouco era por isso sim. Mas eu achei uma utilidade pra ele mais tarde - enxugar as lágrimas.

Eles começaram. Veio a seringa, imeeensa. (Aqui, pausa: adicionem ali na lista de coisas das quais eu tenho medo as injeções e seringas de todos os tipos. Mesmo a que tava cheia de soro, só pra lavar o sangue do dente, me apavorava). Cara, eu ODEIO anestesia na gengiva. ODEIO. Aquilo dá uma vontade de morrer, é a mesma coisa da piada: "qual o cúmulo da agonia? - uma velha desdentada mastigando uma gilete". NÃO DÁ. E o que mais me mata de ódio é o tom que o feladaputa fala com a gente naquela hora. "É só uma picadinha, não vai doer nada..." PICADINHA INDOLOR SÓ SE FOR NO CU DELE!!!!!

Dada a injeção, ele ACHOU que podia começar a carnificina. Bem que ele queria. Precisei de QUATRO injeções EM CADA DENTE pra ele poder mexer. E o desgraçado perguntava: "tem certeza que ta doendo mesmo? você não tá só sentindo eu mexer no dente?". Ah, não, cara. Teve uma hora que eu perdi a fleuma com ele. Quando ele perguntou essa pela terceira vez, eu fiz um sinal pra assistente tirar aquela porra daquele sugador da minha boca e falei, do jeito que dava: "EU DISSE QUE ESTÁ DOENDO. O senhor me desculpe, mas mesmo deitada aqui eu ainda sei diferenciar DOR de SENSIBILIDADE".

Ele ficou meio desconsertado e se empertigou todo. A assistente, talvez vindo em socorro do dentista, tacou a porra do sugador de novo na minha boca. Cara, devia ter teste de habilidade específica pra assistentes de dentista. Depois da seleção elas até poderiam não ser tão boas, mas pelo menos não manejariam os instrumentos como se tivessem Parkinson, esbarrando nos dentes que não tinham nada a ver com a coisa e grudando o sugador na pele da minha boca. Ai, que ódio.

Eu chorei, cara. Confesso. "Ah, mas não doeu, você estava anestesiada". Ah, é? Pra ficar anestesiada foram 16 agulhadas de injeção na gengiva. Isso porque eu ainda não falei da broca. Velho, na boa. Quando o miserável do dentista enfiava aquela merda zunindo dentro da minha boca, era como se ele estivesse polindo a minha cabeça com um esmeril. Ressoava. Não dá pra descrever o desespero. Muitas vezes eu tremi, tive taquicardia, o choro anuviou minhas vias respiratórias e me deu falta de ar. Perdi as contas de quantas vezes eu implorei pra Deus praquilo acabar logo e teve uma hora que segurei a custo o impulso de começar a gritar com aqueles dois, empurrar tudo longe e sair correndo.

Fiquei ali deitada pensando que aquilo era mesmo um estupro. Invasivo, violento, aviltante. Minhas forças foram acabando. As lágrimas escorriam já sem provocar nenhum soluço, os olhos semi-cerrados, incapaz de manter as pálbebras totalmente abertas. A boca ia se fechando sem eu ver, mesmo com o retrator de metal escancarando a pele, machucando ainda mais. Eu tava louca pra urinar, ia explodir a qualquer minuto. E pra piorar, eu tinha que ouvir coisas como:

- Abre grandão agora, Lívia! - a idiota da assistente.
- Abre a boca. Abre mais. Mais um pouco. Parece que você ta meio cansada aí, né? - o imbecil do dentista.

Acabou. Ele me fez recomendações que estão meio nebulosas agora. Gelo. Gaze. Líquido. Sólido. Quente. Repouso. Atestado. Remédio.

Quando a minha mãe chegou pra me pegar, ela comentou sobre o pós operatório do meu irmão, que rolou hemorragia. O dentista parou, pensou um segundo e pediu pra assistente olhar no carro dele se tinha um remédio Y lá. Ela foi e não achou nada. Ele mesmo foi olhar e demorou um pouco. Tinha ido na farmácia. Me deu o comprimido e mandou eu tomar ali, naquela hora. A língua, semi morta pela anestesia, não colaborava, eu quase sufoquei duas vezes e me afoguei com a água. Mas acabou descendo. Mamis me levou pra casa, eu deitei no sofá e apaguei. Acordei meia hora antes de vencer o efeito do analgésico, uivando de dor.

Agora, eu to aqui com a cara do Kiko do Chaves misturado com o Quasímodo. De molho, mas já tive que trabalhar. Descobri que esse negócio de sorvete é superestimado, que a minha avó faz doce de leite de pedaço nos momentos mais impróprios, que a comida da minha mãe é intoleravelmente cheirosa. Mas pelo menos o sangue ta estancado e eu to levando mais ou menos com o analgésico, meu melhor amigo.

Mas o pior é: eu to mais manhosa que homem gripado. Pode isso?

quarta-feira, abril 23, 2008

Noventa e cinco horas

Então é aquela história: duas pessoas um dia se encontram sem querer, conversam muito mesmo pra tentar se conhecer, e vai vindo de repente uma vontade de se ver. E quem um dia irá dizer que existe razão nas coisas feitas pelo coração e bla bla bla. Ok, Eduardo e Mônica é brabo, eu sei. Mas me dá um desconto, hoje eu mereço. Afinal, podia ser pior...eu também lembrei da Sandra de Sá, bem trash cantando "de repente me deu uma louca vontade de estar com você..." e do Fábio Jr. entoando a bendita "Felicidaaaaade" que brilha no ar. Então não reclama, tá?

Um dia, do nada, você conhece alguém que parece nada demais e nem há motivos pra pensar que alguma coisa possa acontecer apenas pelo fato de ter conhecido esta pessoa. Você não pensa muito nisso, tem coisas mais absorventes pra se preocupar. E é quando o tal cidadão que você conheceu daquele jeito despretensioso começa a se mostrar, colocando alegre e inocentemente as asinhas de fora. Você se surpreende, se pega pensando nisso mais vezes do que gostaria e se sentindo mais atraída do que poderia esperar. E então você pára, coça a cabeça e diz a si mesma que não é uma boa idéia, que é melhor deixar isso pra lá. Mas a importância daquilo cresce, diretamente proporcional à inconveniência da situação. E você se dá conta de que está apaixonada.

Até aí, nada muito inédito. Afinal, a maioria das paixões é mesmo uma idéia muito ruim a princípio e poucas batem no primeiro contato. Via de regra, elas chegam de repente, se instalam devagarinho e puxam o seu tapete, acredite.

Mas a partir daí é que a coisa começa a se individualizar. Algumas paixões se mantém platônicas, outras não são correspondidas e redundam num "você está confundindo as coisas", noutras você se joga de cabeça e vive momentos realmente únicos. Aí, nova ramificação. Umas ficam nesse encanto inicial por um tempo, perdem a graça e morrem. Outras evoluem e se transformam em algo maior.

Os primeiros dias são aquela coisa, né? Suspiros, olhos brilhando, sorrisos incontidos, dedos entrelaçados, palavras doces, tesão incontrolável, sacanagem e romantismo mesclados em proporções perfeitas, brincadeiras, enlevo, descobertas. Aí, quando finalmente você consegue desgrudar um pouco, apresenta pros amigos. Nesse ponto, algumas paixões acabam, porque você descobre que ele é chato ou que não entende a piada e banca o bobo ou que é rude e te passa vergonha. Mas nem todos. Alguns se mostram brilhantes e adoráveis e te fazem pensar que você ta coberta de razão em gostar daquele homem.

Aí, por um acidente - afinal, você não queria apresentar sua mãe pra ele, ainda mais tão rápido assim - ele acaba conhecendo a sua família. E, em vez de ser uma tragédia, que nem seria com a maioria, ele tira de letra a saia justa e ainda deixa todo mundo babando por ele. Aí você começa a pensar se aquilo é pegadinha e passa a procurar o Sérgio Malandro enquanto anda na rua. Não dá pra ser aquilo tudo, gente, tem algo errado nessa história! Mas você manda o senso crítico às favas e está de quatro. Se melhorar estraga, você tem certeza disso. E aí faz o que? Vai passar o feriado prolongado com ele.

Noventa e cinco horas. Dormindo e acordando junto. Bastidores, supermercado, lençóis, cinema, refeições, teatro, passeios de mãos dadas, diálogos hilários, jantar com amigos, papos sérios, planos, brincadeiras, suor, saliva, secreção. Uma overdose.

E você descobre que é aquilo mesmo e mais ainda: é de verdade. Real, palpável, de carne e osso. E que gosta dele mais do que nunca.