segunda-feira, abril 30, 2007

Música, maestro!

Até hoje eu não tinha postado letra de música aqui. Mas hoje a letra está pedindo:

Vim, gastando meus sapatos,
Me livrando de alguns pesos
Perdoando meus enganos,
Desfazendo minhas malas
Talvez assim, chegar mais perto

Vim, achei que eu me acompanhava
E ficava confiante
Outra hora era o nada
A vida presa num barbante
E eu quem dava o nó

Eu lembrava de nós dois
Mas já cansava de esperar
E tão só eu me sentia
E seguia a procurar
Esse algo, alguma coisa, alguém
Que fosse me acompanhar

Se há alguém no ar
Responda se eu chamar
Alguém gritou meu nome?
Ou eu quis escutar?

Vem, eu sei que tá tão perto
E por que não me responde?
Se também suas esperas
Te levaram pra bem longe
É longe esse lugar

Vem nunca é tarde ou distante
Pra te contar os meus segredos
A vida solta num instante
Tenho coragem, tenho medo sim
Que se danem os nós!



*Lívia que nem uma boba. Feliz, leve, livre, solta. Incrível que depois de um tapa na cara se possa se sentir tão bem! Incrível que a gente tenha que passar por traumas pra se dar conta das coisas. Pra perceber que o nosso julgamento e o nosso bom senso estavam sendo toldados. Ah, agora eu poderia voar! E estou quase rindo sozinha, porque de repente, depois de muito tempo, eu me sinto viva de novo. Eu queria que ninguém estivesse na merda, mas se eu pude bater a cara no chão pra voltar a emergir, qualquer um pode. E agora eu percebi que só podemos fazer isso sozinhos, quem tenta ajudar acaba respingado com a lama. E não tem jeito de ninguém gostar de quem se esquece de si mesmo pra só pensar no outro. Ah, eu finalmente entendi! E me livrei daquela casca pesada e sem sentido!!! Cara, que alívio! Que euforia!

quinta-feira, abril 26, 2007

Trâmites Legais

Hoje, senhoras e senhores, eu acordei feliz. Não cantando, mas bem. NORMAL, como há muito não me sentia. E me deu vontade de trabalhar. Fui pro escritório, atendi clientes, aceitei casos novos, empilhei códigos abertos sobre a mesa para pesquisar e declarei imposto de renda. Parecendo gente grande, né não?

Mas o motivo do post é contar um acontecimento inusitado. Estava eu aqui me deliciando com a preliminar de inépcia que eu ia tacar num advogado burro que escreve AUTOS com L, quando bateram na porta. Fui atender e encontrei uma menina baixinha, com vários furos nas orelhas e uma carinha infantil. Devia estar vendendo bombons ou algo assim.

- Oi - fiz eu.
- Oi - fez ela. E emendou - Eu quero casar.

Hein??? Eu quase perguntei horrorizada: COMIGO? Mas me contive e pedi que ela entrasse e se sentasse. Outra coisa que parecia insólita: casar? Pra mim ela tinha cara de quinta série e vinha me falar em casar? O mundo tava perdido mesmo.

A despeito das intensas considerações íntimas, sorri e pedi que ela me explicasse melhor, afinal de contas, ela tinha batido na porta de um escritório de advocacia e não de um cartório pra se casar. Ou seja, tinha caroço nesse angu.

Aí ela explicou:

- Eu tenho quinze anos e meu noivo tem dezessete. A gente quer casar.
Eu: Sua mãe sabe?
Ela: Sabe.
Eu: Ela concorda?
Ela: Concorda.
Eu: Quanto tempo de relacionamento? - confesso que isso foi apenas curiosidade, nada interessava no processo.

Ela: Sete meses. - com cara de quem acha sete meses uma eternidade.

Ai, Deus. Mas ok, é a vontade do freguês, né?

Nesse ponto eu quase abri a minha bocona pra dizer que era fácil, era só fazer uma autorização judicial. E felizmente eu lembrei a tempo de que o Direito de Família estabelece como idade mínima pra casar os dezesseis anos, mesmo com autorização dos pais. Droga.

- Falta muito pra você fazer dezesseis? - eu tive esperança.
- Falta. Um ano, eu faço quinze agora dia 30 de abril.

Qua diabo!!! Com certeza aquela tampinha com sorriso de menina não fazia idéia do que era casar. A maluquinha tinha CATORZE anos! E tinha achado um outro louquinho com DEZESSETE pra casar com ela! Ah, ainda existe romantismo no mundo! E impulsividade! E pais permissivos!! E tá cheio de mulher por aí que passa a vida in-tei-ri-nha sem achar uma alma que queira dormir junto e acordar junto todo dia! Minha santa periquita do bigode loiro!

Mas como era meu retorno à labuta causídica, não podia perder a cliente sem insistir mais um pouco. Catei o Código Civil comentado e fui à caça de alguma exceção. E achei: o casamento com menos de dezesseis anos é permitido em caso de gravidez e em caso de SALVAGUARDA DA HONRA, quando o casamento era melhor que cumprir pena.

Eu não aguentei e desatei a rir. A menina arregalou os olhos. Acho que ela nunca pensou em achar uma advogada que usasse vestidão tomara-que-caia com sandália rasteira e desse gargalhada na frente dela. Expliquei:

- Você tem três opções. Ou você espera um ano pra casar, ou você providencia uma gravidez hoje ainda ou...

E dei mais risada. A expressão da menina já era de curiosidade mórbida. Segurei o riso e terminei:

- Ou então a sua mãe vai no Ministério Público e faz uma denúncia pro promotor, dizendo que o seu namorado abusou de você e manchou a sua honra. Aí abre um processo criminal contra ele por sedução de menor e, pra não ser condenado e cumprir pena, ele se propõe a casar com você pra "salvar a sua honra".

Aí ela entendeu o motivo da risada e me acompanhou dessa vez.

- Então eu tenho que falar que ele... - interrompe a gargalhada.

- É. - risada - E melhor que seja verdade, já que corre o risco de fazerem um teste... (aqui novamente a curiosidade. Será que aquela menininha já tinha vida sexual? Bom, devia ter, e das boas, ou do contrário não estaria tão empenhada em botar aliança no dedo do namorado).

- É verdade? - pelo menos eu tive a decência de fazer uma cara bem encabulada. Ela riu e confirmou, sim, o namorado tinha "manchado a honra dela", sim.

Misericórdia. Peguei os dados do casalzinho e me dei uma semana de prazo pra bater um papo com um promotor amigo e ver se o caso era viável. Ela foi embora alegre e saltitante, pelo jeito já imaginando como contaria pro namorado que ele seria processado criminalmente para poderem casar. Um sedutor de menores. Ui, que medo. Capaz de virar até brincadeira de alcova na lua de mel.

E viva a lei, que faz todo o sentido do mundo e não submete ninguém a situações escabrosas!!!!

quarta-feira, abril 25, 2007

T....E...........M...............P...O

tempo
do Lat. tempus

s. m.,
duração limitada, por oposição à ideia de eternidade; período; época; sucessão de anos, dias, horas, momentos, que envolve, para o homem, a noção de presente, passado e futuro; meio indefinido onde se desenrolam, irreversivelmente, as existências na sua mutação, os acontecimentos e os fenómenos na sua sucessão; certo período determinado em que decorre um facto ou vive uma personagem; oportunidade; ensejo; estação ou ocasião própria; prazo; duração; estado atmosférico;

O que mais se ouve dizer sobre tempo, é que cura todas as feridas. Isso porque ele provoca o ESQUECIMENTO. Mas e quando este não é o objetivo e sim o efeito colateral?

domingo, abril 22, 2007

As Relações Perigosas


Quando entrei em casa, ela estava caída no chão, gritando. Uivando seria o verbo mais adequado, acho. Ela se contorcia, como se dor lancinante lhe percorresse o corpo frágil sacudido pelos soluços desesperados. As lágrimas eram tão abundantes que lhe ensopavam o rosto, a blusa branca e começavam a pingar no chão, formando pequenas poças. Não sei por que entendi de pronto que fosse lá o que a estivesse machucando, não era físico. Era moral. Talvez fossem os olhos, que não estariam mais mortos se estivessem ali no chão aos pedaços. A agonia que emanava dela era profunda e comovente, como se a alma estivesse tentando fugir do corpo, como se tentasse apagar algo horrendo que ela parecia repassar repetidamente na mente enlouquecida de dor. Quis perguntar o que tinha havido, mas senti medo. Será que eu queria mesmo saber o que tinha sido tão terrível para transtorná-la daquela forma? Toquei-lhe a testa, tentando acalmá-la e ela se sacudiu com força, fazendo-me recuar. Ela dizia sem palavras que eu não a podia ajudar e, incapaz de sair dali e deixá-la daquele jeito, sentei-me contra a parede, abracei as pernas e esperei. Ela chorou e gemeu durante muito tempo, até que pareceu serenar e, com a expressão desolada, fitou o vazio por longos minutos. Achei que podia tentar me aproximar novamente e tomei-lhe a mão. Ela desviou os olhos alquebrados para mim, balbuciou: “Não posso mais” e antes que eu pudesse perguntar qualquer coisa, fechou as pálpebras e morreu.

quarta-feira, abril 18, 2007

Lívia no País dos Classificados de Emprego

No começo desse mês (em SP) eu comprei uma tonelada de jornais e saí caçando emprego. De qualquer coisa, só importava mesmo que pagasse uma graninha razoável, essa vontade de ir sem poder ir tá acabando com a minha vida. Anyway, da experiência eu pude constatar algumas coisas extremamente interessantes.

Primeira observação: eu nunca tinha reparado no TANTO que manusear jornal é nojento, a gente fica com as unhas pretas!!! A cada duas páginas que eu lia, subia a escada correndo pra lavar a mão com sabonete. Cheguei a pensar que tava desenvolvendo um TOC. Imagina só a quantidade de exercício que eu não fiz numa semana?

Segunda observação: o que não falta, pra todo lado naquela cidade, é emprego pra pagar quinhentos reais por mês. O que seria lindo se eu fosse mais nova e não estivesse procurando autonomia e independência.

Terceira observação: preciso urgentemente voltar pro inglês e FICAR lá até pegar o certificado. Talvez até uma terceira língua. Afinal, aparentemente não se valoriza muito no mercado atual se eu sei usar crase, se eu sei escrever exceção ou se eu sei falar sem comer os Rs e os Ss. O lance é segundo idioma, neguinha, trate de rebolar! (Se bem que se for pra rebolar não precisa nem de ensino fundamental concluído, minha linda, vide os ícones da música popular e até alguns escritores brasileiros atuais...oh, céus).

Quarta observação: os períodos de experiência exigidos pelos empregadores são, pra dizer o mínimo, ridículos. Como por exemplo um cargo de recepcionista que procurava alguém entre 17 e 30 anos que tivesse mais de três anos de experiência comprovada em carteira. Eles esperam o que? Que a mocinha contratada tenha como ambição de vida ser recepcionista eternamente? Ah, faça-me o favor.

Quinta observação: o que não falta em todos os jornais são anúncios de "Ganhe dinheiro sem sair de casa", o que constitui, sem dúvidas, um golpe baixo. Imagine se você tem síndrome do pânico ou é visceralmente anti social (como eu) e encontra um anúncio para trabalhar sem precisar calçar salto alto, escovar os dentes, nem pegar ônibus. Imaginou? Pois é, eu tive que me enfiar num chuveiro gelado diversas vezes pra me impedir de "mandar dois selos de um centavo" pruma caixa postal qualquer.

Sexta observação: nesses jornais têm pelo menos uns dez advogados que deveriam sofrer alguma penalidade da OAB, cujo estatuto diz claramente que a atividade do advogado NÃO É MERCANTIL e, portanto, É VEDADO qualquer tipo de marketing ou autopromoção. Ouviram, doutores Osvaldo, Leopoldo, Batista, Rodrigo e tantos outros que têm a cara de pau de estampar "AOS DESEMPREGADOS - consiga suas verbas rescisórias com ou sem assinatura em carteira"??? Porra, seus clientes nem sabem o que são verbas rescisórias, lamentáveis colegas!

Sétima observação: pra ganhar um salário minimamente decente - entenda por minimamente decente um que pague pelo menos uns mil reais - os cargos são extremamente específicos e limitados: motorista, porteiro, auxiliar de cozinha, vendedor de peças automotivas, babá, empregada doméstica, costureira, cozinheira e prostituta. Vejamos os empecilhos...eu não tenho experiência nem com peças de automóveis, nem com cozinha industrial e nem com confecção de roupas (a menos que conte o vasto guarda roupas que eu fiz pra minha Barbie há anos-luz). Motorista ainda não dá, eu estou apenas na minha sexta aula de direção. Pra porteiro eu receio que, mesmo uns quilos acima do peso, a minha constituição seja delicada demais pro trabalho. O que nos deixa os trabalhos de babá, empregada doméstica e prostituta Você sabe o que os três têm em comum? Não? Nem eu sabia, mas depois da vasta pesquisa, ficou evidente: a maioria das vagas para os três tipos de profissionais requer que a candidata DURMA NO TRABALHO. Nem morta, santa.

Oitava observação: é impressionante a criatividade dos anúncios que envolvem sexo. São centenas deles, procurando "moças tipo modelo", "moças alto nível", "moças lindas", "moças ambiciosas", "moças desinibidas", "moças com boa aparência", "moças habilidosas", "moças motivadas", etc. E os cargos? Acompanhantes, dançarinas, massagistas. Para clínicas de massagem, clubs e casas noturnas, de alto nível, é claro. Sempre com oferecimento de casa e comida, como se não bastasse a garota fazer o programa e precisasse estar sob as vistas do empregador enquanto dormia seu justo sono reparador de beleza também. Que gente mais possessiva, credo.

Nona e última observação: o anúncio mais hilário de todos foi o de uma Clínica de Estética que contratava massagista do sexo feminino, com experiência em massagem terapêutica. E entre parênteses: NÃO É PROGRAMA. A que ponto nós chegamos, não, minha gente?

Dúvida Existencial II

O que é que a gente faz quando a vida não tem alegria?

quinta-feira, abril 12, 2007

Mulher Aranha


Senhoras e senhores: estou de volta. Até que me dê a louca e eu suma outra vez. Mas, por enquanto, algumas histórias pra contar do período de hibernação...

Semana passada estava eu em São Paulo muito feliz da minha vida. Feliz a ponto de encarar de novo um esporte radical que há muito eu tinha abandonado: a escalada de muros e saltos de janelas. Não entendeu nada? Ok, explico.

Há alguns anos eu fiquei trancada fora de casa e cometi a imprudência de bater na casa da vizinha e pedir pra pular pra dentro da minha casa pela área de serviço dela. Pois bem. Estava eu no alto do muro, tentando descer até o chão uma escadinha de alumínio que teimava em enganchar na bicicleta logo abaixo, quando a parte de cima do muro cedeu e veio abaixo - comigo junto. Levantei meio zonza e me arrastei alguns metros, até perceber que o rastro de sangue no chão se assemelhava a cenário de filme de massacre. A escada ficou retorcida, a bicicleta empenada e o meu pé todo estropiado, embora tenha se safado de quebrar por muito pouco.

Depois disso, jurei que nunca mais dava uma de Ethan Hunt. Até esta última quinta feira.

Ventava bastante e eu saí pra "laje" pra ver o lindo céu nublado paulistano (hahaha) e se a Dri já estava chegando. Andei uns poucos passos, me espreguicei e então ouvi o alarme dentro da minha cabeça disparar: putaquepariu! Eu tinha esquecido de travar a porta da sala com o saquinho de areia que ficava ao lado da mesma e tinha esta única função. Resultado: a porta bateu e euzinha me vi trancada do lado de fora.

Desatei a rir, né, fazer o que? E quanto mais eu imaginava a cara do Junior quando chegasse à noite e me visse sentada ali no relento esperando por ele, mais eu ria.

Mas, nem tudo são flores na vida de Joseph Climber. Eis que começa a chover no momento em que a Dri encosta o carro na frente da casa. Gargalhando eu expliquei o ocorrido e avisei que ia pular a janela do segundo andar, que felizmente estava aberta. Subi no muro da vizinha e de lá pra marquise, quando vi a mala da Dri saindo do carro com uma câmera fotográfica, rachando de rir da minha cara.

Eu não sabia se ria ou se me segurava pra não cair. Nisso, veio vindo o carteiro, que estava apressado pra não pegar muita chuva. Viu a Dri rindo, olhou na direção que ela apontava e esqueceu a chuva, ficou por lá mesmo, aplaudindo. "Ótimo", pensei. "Daqui a pouco tenho platéia".

Mas como eu não tava podendo confiar na minha sorte, tratei de acabar com o show rapidinho, pulei a janela, me estabaquei no chão e fui recebida com miados da Ingrid, indignada porque eu quase caí em cima dela.

A Dri riu até dar dor na barriga...o Junior tirou o maior sarro da minha cara...e o carteiro voltou andando devagarinho dia seguinte pra ver se flagrava mais alguma cena...pitoresca. Só eu, mesmo.

Obs: clique na imagem pra dar risada.