quarta-feira, fevereiro 28, 2007

Desequilíbrio

- Alô?
- Oi!
- Oi... quem tá falando?
- Ah, você não me conhece, eu disquei esse número aleatoriamente!
- Então boa noite, eu tô desligando.
- Não, espera, por favor!
- Espera o que, cara, eu nem te conheço e...
- Eu preciso de ajuda!
- E eu com isso?
- Você não tem compaixão, caramba?
- Não muita. Qual o seu problema?
- Tem dois dias que o meu celular só apita e não acaba a bateria!
- Quê????
- Dois dias, cara! Sabe lá o que é jogar Snake durante dois dias????
- Você não tá falando sério...
- Tô sim! Conversa um pouco comigo, pelamordedeus!
- ...
- Alô?
- tutututu...
(...)
- CVV, boa noite...

domingo, fevereiro 25, 2007

Mesmo que lá esteja chovendo, é pra lá que eu quero ir.

EXÍLIO: O exílio é o estado de estar longe da própria casa e pode ser definido como a expatriação, voluntária ou forçada de um indivíduo. (Wikipédia)

CASA: Uma casa ou uma residência é, no seu sentido mais comum, uma estrutura artificial construída pelo ser humano cuja função é constituir-se de um espaço de moradia para um indivíduo ou conjunto de indivíduos, de tal forma que eles estejam protegidos dos fenômenos naturais exteriores (como a precipitação, o vento, o calor, o frio), além de servir de refúgio contra ataques de terceiros. Abrigo, refúgio, lar. (Wikipédia)

LAR: Ainda que possa ser considerado um sinônimo de casa, o termo lar apresenta uma conotação mais afectiva e pessoal. É a casa vista como o lugar próprio de um indivíduo, onde este tem a sua privacidade e onde a parte mais significativa da sua vida pessoal se desenrola. (wikipédia)


Estou longe do meu lar por tempo indefinido, a sensação é a pior possível. Inadequação, desconforto, angústia. Sinto falta das minhas gatas-enteadas, da cara-metade resmungando de manhã, do caminhão de gás com aquela musiquinha nojenta, do beijo de boa noite antes de dormir. Eu quero voltar. Mesmo que esteja chovendo, é lá que eu quero estar. Aqui não é mais meu lugar. Não tenho paz de espírito pra ler, nem televisão eu consigo assistir aqui. E tenho que me controlar pra não voltar correndo, agora mesmo.

Se alguém souber de um emprego, me coloca na fita.

sábado, fevereiro 24, 2007

Lalalalatuba

Eis que chega a minha vez de fazer o fatídico post de carnaval. Inevitável, mas nem por isso, simples. Seria muito mais fácil se tivessem me carregado prum lugar intragável e eu pudesse fazer um post inteiro reclamando contra a estupidez e o mau gosto da humanidade. Algo assim, hilariante. Mas, não. Fui parar numa casa com cinco outros blogueiros, num lugar que tinha mar, sol, camarão e quase nenhuma música característica de carnaval. Ou seja, pra virar o paraíso, só se tivesse ar condicionado na casa e a gente ainda estivesse lá. Por causa disso, terei que fazer esforço pra evitar o mimimi. Whatever.

Na sexta-feira à meia noite, meus tios passaram pra me pegar. Como eu tô acostumada a ir pra SP de ônibus, mal acomodada, fazendo milagres pra dormir, meus olhos se encheram: um Corola novinho, com ar condicionado e bancos de couro com bastante espaço pra eu me esticar, sem ter que me preocupar se algum maníaco ia me apalpar no escuro ou roubar a minha bolsa. Acomodei a mala no porta malas e tomei o banco traseiro. Tirei os tênis, abracei o travesseiro, dei um sorrisinho e fechei os olhos, pronta pra dormir horrores. E de repente, um susto: assim que o carro começou a rodar, começou a tocar BRUNO E MARRONE no som, num volume que passava muito longe da decência.

Cara, fala sério, né? Quem em sã consciência e de cara limpa consegue dormir ao som de "eu vou fazer um leilão, quem dá mais pelo meu coração"? Ou "do jeito que você me olha, vai dar namoro"? Putaquemepariuderodinhas, viu. A minha noite de sono foi por água abaixo, já que a coisa tocou até às quatro e eu devo ter cochilado no máximo uma meia hora.

Cheguei em São Paulo meio catatônica, sensação que o Junior compartilhou, já que teve que levantar às seis da madrugada pra ir me buscar. Mas nem deu tempo de descansar, porque tinha um monte de coisas pra arrumar antes de pegar a estrada e não eram onze e meia, o Júlio apareceu porta adentro. Toca carregar o carro e bóra pro...EXTRA. Que foi até rápido, segundo o Junior porque eram DOIS homens e UMA mulher. Cretino.

Finalmente pegamos a estrada, ao som do celular do Júlio que apitava toda hora com mensagem da Mônica querendo saber aonde a gente tava. Pegamos a rodovia e surgiu a questão, suscitada pelo Junior: "Vocês querem ir pelo caminho mais longo que tem uma vista muuuuuito bonita ou pelo caminho mais curto, que não tem vista nenhuma"? Que pergunta, né? Eu e o Júlio respondemos em uníssono: O MAIS CURTO!!!! Ele fez uma cara de "como vocês são sem graça!" e acabou se confundindo - esta é a versão do réu - e pegando, adivinhem, o caminho mais longo.

O tal caminho longo tinha mesmo umas praias lindas pra ver do alto. E tantas curvas que eu lamentei não ter dado remédio anti-enjôo de cachorro pro Júlio, quase levei um "hugo" na nuca. Passamos por Caraguatatuba, Ubatuba, Paraty e, por fim, Tarituba. Pelo caminho, o axé e o forró dominavam, revoltantemente altos, com direito a mulherada seminua dançando em cima de mesas e carros e homens estranhos com bermudões imensos que cobriam o joelho e mostravam o cofrinho. Cruz credo.

O caminho foi proveitoso pra cunhar duas teorias brilhantes, as duas do Junior, é claro. A primeira, "dignidade está em conseguir limpar a própria bunda" - o Júlio foi ao delírio ao ouvir isso, até anotou, o Platãozinho. Não me perguntem o contexto, afinal de contas, já tomei muito sol na cabeça, umas doses de pinga, cerveja e até uma margarita depois disso. A segunda teoria, e essa sim eu lembro da onde saiu, é: "todo proprietário de Honda é um bosta". Explico: toda vez que tinha um maldito carro segurando o trânsito, não dando passagem e fazendo merda, dito e feito, era um Honda Civic. A regra admitiu as seguintes observações: "ah, que merda, o sonho do motorista daquele Tipo ali na frente é ter um Honda!!" e "o único carro da Honda que constitui exceção à regra é o FIT, que é carro de pobre".

A viagem transcorreu sem incidentes, afora o fato de o Júlio quase ter sido expulso do carro quando perguntou pro Junior se a gente tava andando em círculos porque a praia que ele tava vendo lá embaixo parecia a mesma vista por ângulos diferentes. Foi um custo defender o Cabeça. Finalmente (eu já me sentia desfalecer), chegamos. Vilarejo de pescadores com uns dois barezinhos, restaurante do Fran's, mercadinho, duas igrejas e nada mais. Casa pé na areia, finzinho de tarde, sem axé nem forró e uma ducha fresquinha me esperando. Quase chorei. A noite chegou rápida, eu bati na cama e só acordei às sete do dia seguinte. Passei pela sala tentando não fazer barulho, afinal a Gabi e o Eric tinham chegado às duas madrugada e estavam lá, estirados, babando. Ah, minto, o Eric tava babando, a doida da Gabi tava acordada, pulou do colchão e me deu um super abraço de Felícia. Tinha começado o carnaval.

Agora, pra não virar querido diário de carnaval, cito apenas os casos mais interessantes:

  1. Alguém já viu a Gabi acordando o Eric? (aqui uma pausa pela crise de riso que me deu só de lembrar da cena) Ela é uma pentelha de marca maior e ele é um comerciário preguiçoso de gabarito. Ou seja, o embate é feio, mas ela SEMPRE ganha, mesmo ele gritando, se debatendo, grunhindo ameaças, se fazendo de morto. Nada adianta. Aliás, eles são o casal perfeito: o Calvin e o Haroldo. Claro, ele é o Calvin, ela o Haroldo.
  2. Tentamos de todo jeito enterrar o Júlio na areia, eu e o Eric até cavamos o buraco, mas ele se recusou terminantemente a deitar dentro dele. Mesmo com ameaça da Gabi e do Junior, nada surtiu efeito. Mas ele nadou, minha gente. Eu juro. Em vez de ficar gritando que nem menininha na margem quando a água pegava no tornozelo dele, a Mônica foi levando o moço cada vez mais pra frente e, com beijinhos ele não se importou com a água pegando no peito. Incompreensível, né?
  3. Fomos pra Almada, a praia no fim da ladeira - em território paulista. Petiscos ótimos, borrachudos vorazes (ai) e obra da Odebrecht na areia. Eu e Eric cuidamos do fosso e dos dutos de escoamento de água, Gabi e Júlio construíram as torres. E o tempo todo tivemos que proteger o castelinho do Godzilla de Sunga que ameaçava pisar nele de dez em dez minutos.
  4. Um siri mordeu no pé da Gabi.
  5. A Mônica fez um jellyshot de pinga com gelatina de cereja que envenenou todo mundo.
  6. Tivemos menu caprichado do Chef e da Sous-Chef oficiais da Blogagi.
  7. Perdemos a Gabi em Paraty, porque a Porpeta foi servir de intérprete pruma turista numa loja de artesanato.
  8. Eu e o Ju comemos parrillada de frutos do mar...ai que lagosta boa!
  9. Comemos todos os porcaritos (ruffles, doritos, cheetos, etc) possíveis.
  10. Nadamos no escuro na última noite e os camarões ferroaram todo mundo.
  11. Acordamos na quarta feira de madrugada pra voltar antes da hora por causa do Júlio.

E o mimimi, pra encerrar: pessoal, amo vocês. Tô com saudades.

sexta-feira, fevereiro 16, 2007

Progressão

15: sorriso fácil, sensação de invencibilidade e um metabolismo fantástico.

16: olhos tristes, confusão mental, medo e impulsos autodestrutivos.

17: expressão de deboche, baixa auto-estima, frustração e... vodca.

18: ausência de expressão, alienação, sensualidade e... cigarro.

19: olheiras, instabilidade, cansaço, desespero e... silêncio.

20: sorrisos fugidios, idéias mirabolantes, esperanças, ilusão e... vazio.

21: expressão radiante, criatividade, velocidade, imprudência e... angústia.

22: olhar sereno, autoconhecimento, trabalho, amizade e... resignação.

23: sobrancelhas franzidas, preocupação, esperança, apoio, luta e... bacharelado.

Hoje.

quarta-feira, fevereiro 14, 2007

Enquete

Aconteceu há algum tempo já, acho que terceiro ou quarto ano de faculdade. Intervalo entre aulas, a turma reunida em torno do nosso sagrado banco de concreto em frente ao bloco do Direito. Mulherada aglomerada e alguns homens, os que permitíamos no nosso convívio. Mulher junta só sai besteira e da grossa, isso é fato sabido. Mas aqueles caras em particular conseguiam piorar a coisa toda, embora houvesse os que ficassem encabulados com a putaria.

Foi idéia do D2 a enquete que agitou o pessoal de um jeito sem precedentes. Com aquele jeito marrento e debochado característico dele, disparou à queima roupa: Engole, cospe ou esfrega na cara?

Primeiro o choque, ninguém acreditava que ele tinha dito aquilo. Depois as gargalhadas, inevitáveis. E por fim, as respostas insólitas.

- Cuspo.
- Engulo.
- Depende do dia.
- Nem um, nem outro: eu uso camisinha!

A esta última resposta a assistência foi ao delírio. Chegou mais gente, a pergunta foi repetida aos quatro cantos e de repente estávamos todas teorizando a respeito do assunto. Técnicas, preferências, práticas inaceitáveis, situações inusitadas, teorias mirabolantes.

Nesse dia descobrimos uma virgem que queria deixar de ser, outra que só dava casando, uma que colecionava desastres hilariantes, outra que pensava que sexo tinha que ser limpinho ou era pecado, uma que tinha mania de transar de meias e várias chegadas numa sacanagem. Os meninos mantinham os olhos arregalados, nunca tinham ouvido tanta confissão junta.

Sei lá por que a mulherada resolveu abrir o jogo nesse dia. E sei lá por que TODAS entraram na brincadeira, tinha algo perverso no ar que estimulava as confidências. E eu lembro que poucas vezes ri tanto durante os meus anos de faculdade.

Taí. Responda à enquete você também: engole, cospe ou esfrega na cara?

sexta-feira, fevereiro 09, 2007

Feliz

Tô aqui às voltas com livros, apostilas, papéis, provas, uma garrafinha de Ninho Soleil de banana e maçã, duas gatas - uma dela é gorda e quer comer minha sandália novinha, já tirei a fofa de cima delas três vezes! - e uma ruazinha fora de mão ENGARRAFADA (é o Apocalipse!) com um monte de gente doida e mal educada BUZINANDO como se disso dependesse a paz no Oriente Médio ou como se fosse adiantar alguma coisa pra desintegrar o caminhão que tá prensado ali no meio da rua, atravancando o fluxo.

Então, pessoas. Estou em São Paulo desde o dia 03 de fevereiro. Desde então eu já tomei sol de biquini na laje - pasmem, apesar da chuva vou voltar pra casa mais preta do que cheguei! - já joguei RPG com o Eric, a Gabi, o Zé e o Zander (sem links, estou sem saco agora), já assisti ao filme pornô da Gretchen com uma turma imensa, todo mundo dividido entre o riso e o nojo, assisti House pela primeira vez, comi uma tonelada de sushi de uma só vez e fiquei perdida na volta pra casa com Júlio e Alê no carro debaixo de chuva, conheci a Lelê e o Santini, dormi no cinema também pela primeira vez "assistindo" Flag of Your Fathers, que o amado namorado queria MUUUITO ver, mas que acabou decepcionando um pouco. Fui num restaurante Vegan com a Gabi, que me deixou uma hora plantada esperando por ela no Pão de Açúcar e fiz as unhas num salão que parecia casa de bonecas. E o que mais?... Ah, comi Confit de Frango com Chutney de manga (chique demais, né não?) que o Ju fez pra mim...Fala sério, aquele homem na cozinha é um charme só, ele nem sabe o tanto e ficava fazendo caretas pra mim porque eu o estava observando.

Estudei também. Menos do que eu devia e mais do que eu queria. Essa rua tá batendo recorde de barulho essa semana, puta que pariu. Depois de quebrarem a rua inteira com britadeiras pra arrumar o esgoto durante a semana, agora as buzinas. E a Cida tá passando o aspirador de pó. Deixa ver do que mais eu posso reclamar...ah, o sol ainda não saiu pra eu dar um up no bronzeado. Mas só de não chover eu tô descendo a escada de joelhos em agradecimento.

Mas, falando sério, tem nada do que reclamar não. Eu tô feliz pra caramba de estar aqui. E não estar de férias. Porque mesmo que fosse maravilhoso estar de férias e dominar o "love is in the air" ou "abraços e beijinhos e carinhos sem ter fim", também é bom conhecer a realidade além do encantamento. Serve pra saber que não é só encantamento, porque quando há alguém do seu lado que é capaz de provocar tristeza e irritação profundas e ainda assim despertar amor e enternecimento, sabe-se que aquilo é de verdade. E é isso o que eu mais quero: ser capaz de sobreviver aos estremecimentos diários sem deixar nada quebrar.

PS: este post era só pra dizer porque eu fiquei um tempo sem atualizar e porque vou continuar mais um tempo sem atualizar. Sim, porque voltando pra casa dia 12 de fevereiro, começa a contagem regressiva pra formatura com mil coisas pra fazer, e depois o carnaval e...sabe como é. Até lá, então.

sexta-feira, fevereiro 02, 2007

Exame Ginecológico

Pessoas, hoje eu cheguei a uma conclusão tenebrosa: felizes eram as mulheres de antigamente.

Não, calma, isto não é um manifesto nem machista e nem feminista. Eu odeio feminismo (aliás, odeio quase toda manifestação de radicalismo - o que não deixa de ser a minha própria maneira de ser radical) e também odeio machismo, embora tenha uma leve tendência pra este último - tem piada melhor do que as que satirizam o universo feminino, principalmente carregada de maldade, de chauvinismo? Sei lá se tem, sei que essa é uma maneira garantida de me fazer rir, a menos que eu esteja puta com algum ente do sexo masculino. Aí...

Anyway. Este não é uma defesa a nenhum direito, dever, garantia e o caraleo que se possa pensar pela introdução. Não. Isto é apenas uma coisa: uma expressão da meu mais novo hobby: RECLAMAR. Não dizer: oh, vida, oh azar. Não, isso não é comigo, reclamação é uma coisa, lamúria é outra. O que eu gosto é de elaborar construções mentais baseadas em argumentos mirabolantes por causa de...nada.

Retomando minha tese: mulheres felizes eram as de antigamente. Provavelmente você já está imaginando que é porque não trabalhavam fora, não tinham que pagar as contas, não tinham que ser auto-suficientes, tinham cintura e curvas em vez de barriga reta e quadril esquelético e mais uma penca dos motivos tão alardeados todos os dias por aí. Mas não, não se trata de nada disso. Não estou com o menor saco de elaborar nada tão complexo como a situação da mulher no mercado de trabalho, a solidão de ter que se virar antes de ter sossego pra constituir uma família, a frustração com o próprio corpo, e etc. Aliás, o motivo da minha constatação é muito simples: antigamente, as únicas coisas que passavam pelas vaginas das mulheres eram pênis e filhos. E nada mais.

Não, eu não fiquei louca. Ou pelo menos não piorei. Explico o porquê dessa declaração bombástica: hoje eu fui ao ginecologista.

Desde os doze anos eu vou ao ginecologista. O primeiro era um médico muito bonito, de voz agradável, olhos azuis e grandes mãos brancas manicuradas. Falávamos horas, sobre tudo, era quase uma espécie de terapeuta, aliás, ele sacava tudo de universo feminino e falava com toda a propriedade. Totalmente gay, é claro. Ele preferia plantar bananeira no chão do que fazer exame de lâmina, o que era muito compreensível e desejável. Fiquei com ele durante muito tempo e acabei mudando pro pior tipo de médico do mundo: aquele que é seu parente. Uma prima, uma tosca. Mas parecia competente, daquela que falava tudo olhando na sua cara, sem metáforas, sem delicadeza, sem pudores. Acabou sendo uma intervenção muito positiva na minha vida, mas eu não reclamarei se nunca mais tiver que ver a megera.

Hoje fui na minha nova médica. Oi, tudo bem, como é que vai, histórico de doenças, remédios que toma, dores, intestino, anticoncepcional, ok, vai no banheiro, tira toda a roupa e veste o avental.

Senhores, o avental. O que é aquela coisa, eu pergunto. O de hoje tinha listras azuis, totalmente adorável. Imagina só, entrar num banheiro estranho, tirar toda a roupa, vestir um pedacinho de algodão frágil aberto nas costas e se encaminhar pra outra sala do consultório, onde fica uma cadeira que mais parece instrumento de tortura. Ah, mas antes da cadeira, a balança, o temido ser que sempre nos dá más notícias e suga a nossa auto estima. Maldita.

Depois da balança, não tem mais o que escapar, o jeito é subir na cadeira mesmo. Mas antes de deitar - todos os requintes de crueldade - ela manda você tirar a parte de cima do avental pra examinar os seios. A mão fria, pega daqui, apalpa dali, cutuca, aperta e anuncia que tá tudo bem com "eles". Aí é chegado o momento tenebroso. A cadeira. Reclinada que nem cama, com dois estribos altos pra colocar as pernas. Você dá um jeito de subir naquilo, coloca as pernas no lugar indicado e olha pro teto. Mas não é suficiente a humilhação até ali, você tem que escutar isso: "chega o bumbum mais pra frente, pra abrir mais, senão eu não enxergo". Você contém um suspiro e obedece. Aí ela volta à carga: "não faça movimentos de fechar as pernas nem contraia o bumbum, senão fecha a parede da vagina e vamos ser duas forças opostas brigando uma contra a outra". Oh, céus, eu mereço.

Até ali está bem ruim e você pensa que não pode piorar. Mas piora. Ela enfia um espéculo de metal frio lá embaixo e você tem que lutar firmemente pra não contrair TUDO. E segue piorando. Ela liga um monitorzinho e anuncia que vai fazer um exame chamado colposcopia, que nada mais é que enfiar uma mini câmera dentro da vagina pra examinar o colo do útero de perto. Que prosaico, não? E como se não bastasse ela ficar vendo o cólo do útero pela camerazinha, ainda te coloca pra ver também e vai explicando cada bolinha vermelha que aparece.

PORRA, SE EU QUISESSE SABER QUE CARA TINHA UM COLO DE ÚTERO, EU TINHA FEITO MEDICINA, CARALEO!!!!

Depois daquilo tudo, descer da cadeira, voltar pro banheiro, se vestir, encerrar a consulta. E sai de lá sentindo ainda o ressentimento por causa do espéculo de metal e da camerazinha. Pô, será que é pedir demais querer que apenas CARNE passe por ali, seja saindo ou seja entrando? Ok, alguém vai me dizer que é importante, que previne o câncer, cuida de doenças, se vive mais tempo. E eu respondo: antigamente, as mulheres morriam quando tinham que morrer depois de ter sentido ao longo da vida entre as pernas apenas pênis e filhos, que são as coisas naturais. O resto é invenção humana moderna. E eu não gosto nada nada de objetos não identificados e muito menos não queridos se esgueirando pra dentro de mim, ora bolas. Dá pra entender?