domingo, janeiro 27, 2008

A Bolsa ou a Vida

"- O que eu perdi, acho eu, foi uma outra vida inteira.

- Acontece com todos nós. A cada momento de cada dia. Cada decisão que tomamos, cada vez que respiramos, abre algumas portas e fecha várias outras. Não percebemos a maioria, mas notamos algumas. Acho que você percebeu uma delas.

- Ah, sim, e como — respondeu Tricia. — Vamos lá, eu vou contar. É muito simples. Há vários anos eu conheci um cara em uma festa. Ele disse que era de outro planeta e perguntou se eu queria ir embora com ele. Eu disse tá, tudo bem. Era uma senhora festa. Pedi pra ele esperar um pouquinho enquanto eu ia buscar minha bolsa, depois iria com ele numa boa para outro planeta. Ele disse que eu não ia precisar da bolsa. Respondi que ele com certeza devia vir de um lugar muito atrasado ou então saberia que uma mulher sempre precisa carregar sua bolsa. Ele ficou meio impaciente, mas eu não ia me fazer de fácil só porque ele tinha dito que era de outro planeta. Fui até o segundo andar. Demorei um tempo para encontrar a bolsa e depois o banheiro estava ocupado. Quando desci, ele tinha ido embora. - Tricia fez uma pausa.

- E...? — perguntou Gail.

- A porta do jardim estava aberta. Fui lá fora. Havia umas luzes, uma coisa brilhante. Cheguei a tempo de vê-la levantar vôo, partir silenciosa pelas nuvens e desaparecer. E foi isso. Fim da história. Fim de uma vida, início de outra. Mas não passo um minuto desta vida sem imaginar como teria sido a outra Tricia. A que não teria voltado para apanhar a bolsa. Fico achando que ela está lá fora, em algum lugar, e que sou apenas a sua sombra".

Trecho de "Praticamente Inofensiva", a quinta parte do Mochileiro das Galáxias de Douglas Adams.


Analogias válidas.
Contingências?
Resignação?
E por que será que não me convenço?

sexta-feira, janeiro 25, 2008

Old Love


Para ouvir, clique em Play

I can feel your body
When I'm lying in my bed
There's too much confusion
Going around through my head

And it makes me so angry
To know that the flame still burns
Lord, why can't I get over?
Man when will I ever learn?

Old love, leave me alone
Old love, just go on home

I can see your face
But I know that it ain´t real
Just an illusion
Caused by how I used to feel

And it's making me so angry
I know that the flame will always burn (flame will always burn)
I ain't never gonna get over
I know now that I'll never learn (never learn)

Old love, leave me alone
Old love, just go on home

quarta-feira, janeiro 23, 2008

That's Death

Quando me conectei hoje cedo, levei um susto: o Ego, aquele site deprimente de fofocas, tinha me adicionado no Twitter. Eu, hein? Aí, quando fui lá conferir se era aquela merda mesmo, li que o Heath Ledger tinha morrido - susto parte II. Chocante, um cara tão novo, tão bonito, tão vivo. E nem se trata de comoção, nem é por ser ele, nem é aquela questão ridícula de "morreu e virou santo, vamos falar bem dele". Apenas acho triste tamanho desperdício de vida, seja dele ou de qualquer outro.

Aí, estávamos eu e a Jo falando sobre isso no msn, quando abri o email e li um texto do Zander que me doeu. Aliás, o Zander é mestre em me enfiar a faca com as coisas que ele escreve. E, na verdade, eu deveria falar um pouco sobre esses dois personagens, mesmo que o tema do post seja meio esquisito pra isso. Jo me chegou através de um cara que não vale absolutamente a pena, caiu de pára-quedas no meio da lona do meu circo se dizendo minha fã e o resultado é que hoje eu sou apaixonada por ela. Uma pessoa de sensibilidade, inteligência e senso de humor raros. Nem sei se ela se dá conta, mas o fato dela gostar do que eu escrevo é um elogio gigante que prescinde de palavras, porque eu a tenho na mais alta conta. Zander, por outro lado, é uma farsa. Ou isso é o que ele gostaria que as pessoas pensassem. Ele é meu Amigo e quem é fã nesse caso sou eu porque ele consegue dizer umas coisas fantásticas de um jeito todo particular. Mas isso só nas crônicas fodas que ele escreve que acabam com a minha vida, porque no msn ele é monossilábico, nos comentários dos blogs alheios é um chato de galocha, por email ele pede votos pro IBest e na mesa do bar diz coisas absurdas como, por exemplo, ter um "anjinho barroco". Anyway.

Voltando à vaca fria. Ou morta. Estava eu conversando com a Jo, mostrei pra ela o texto do Zander e ela me chamou a atenção sobre como ele também era sobre morte. Mortes estúpidas das pessoas que já fomos, de pedaços nossos que ficaram pra trás, de situações que mudaram, momentos que se perderam. E eu fiquei pensando nisso. Na verdade eu me conformo menos com situações que morrem do que com pessoas, as primeiras me deixam maior pesar e maior saudade que as segundas. Sei lá, morte em si é pra mim um negócio menos mau que pra maioria das pessoas, eu acho. Talvez porque não ache que é o fim de tudo e tals. Claro, ainda acho estranho quem tatua a imagem dela no braço, mas em se tratando de quem é, não poderia esperar nada mais...singular.

A Morte a la Sandman*

Eu tenho a maior pena de algumas coisas da minha vida que morreram. E também das coisas que estão morrendo agora, enquanto eu digito. Minhas esperanças e sonhos, meus amigos, minhas células e idéias, meu tempo. Este último morre o tempo todo, sem menções honrosas ou desonrosas, e muito me angustia que ele morra, porque a sensação de desperdício é ainda maior. Gigantesca na verdade, intolerável. E quando me ponho a refletir sobre a morte do tempo - ou da bezerra, como diria a minha mãe - é inevitável que eu lamente tudo o mais que foi junto com ele e que ainda vai. As Lívias que eu já fui, as risadas que elas deram, os abraços que receberam, as oportunidades que se foram. Morreram e agora só existem na memória - na minha e na das pessoas que estavam lá naquele momento.

Mas o papo com a Jo nunca é linear e nunca pára na superfície. Conversando, chegamos no ponto em que ambas admitimos já termos tido as idéias mórbidas que se têm quando pensamos: "e se eu morrer de repente?" Eu disse que vou elaborar uma lista das pessoas a serem avisadas, pra não serem pegas de surpresa "O QUE? A Lívia morreu?? Mas eu falei com ela ontem!". Ela disse que já escolheu a música do funeral dela - que, diga-se de passagem é um sarro e está no vídeo aí embaixo - e, portanto, pessoas, não copiem a idéia da Jo, escolham suas próprias músicas fúnebres.



That's Death - Letra AQUI

Eu não sei qual das duas é pior. Por via das dúvidas, internem ambas.

Em todo o caso, se você é meu amigo, eu morrer de repente e ninguém te avisar, tenha a certeza: a culpa é da minha mãe, ok? Porque EU certamente lembrei de colocar seu nome na lista.


*desenho de Fábio Yabu, emprestado do blog da Marisa Toma.

segunda-feira, janeiro 21, 2008

Altas Doses de Estrogênio

Esse fim de semana foi introspectivo e solitário. Não que isso seja novidade, mas é que a Nayra viajou na quinta feira e aí a coisa foi mais parada que de costume, um saco. Nem sei como eu vou me virar quando a bichinha mudar de vez pro Rio...Aliás, olha a ironia: eu nunca não quis tanto ir pro Rio como hoje e, no entanto, em breve, três das minhas melhores amigas estarão morando lá. Ainda bem que a ponte aérea só demora cinqüenta minutos!

Aí, aproveitando o excesso de ócio causado pela chuva - ah, tem mais essa! Em Uberlândia faz calor que nem o porão do inferno, com o agravante que é abafado, nem ventar nessa joça venta. Então, durante a semana cozinhamos, tentando não suar aos borbotões dentro de roupas sérias e escritórios fechados, e pensamos: oba, vou tomar um sol no fim de semana, porque bronzeada a gente parece mais magra e tal. Adivinha?

Na sexta à noite começa a ventania, folhas rodopiando pra todo lado e não se vê uma estrela no céu. De madrugada, a fulana acorda por cinco segundos e pensa ter ouvido chuva do lado de fora, mas nem dá tempo de processar a informação e já está capotada babando no travesseiro de novo. Abre os olhos no sábado de manhã e constata: é, choveu o dilúvio, tá tudo cinza e sol nem pensar. O mesmo no domingo, com a diferença que, no cúmulo do requinte de crueldade, o sol abre no finalzinho da tarde, esquentando pra caralho, sem no entanto servir pra nada, a menos que fosse pra subir no telhado pra pegar pelo menos um restinho. Sem chance, né? Meus dias de mulher aranha se foram.

Aí, durante o excesso de ócio, eu zerei um jogo (a coisa menos feminina e mais Lívia que eu fiz), li meio livro da Martha Medeiros e assisti a duas temporadas de Sex and The City. Tanto o livro quanto os dvds me foram emprestados por um amigo, que disse: aqui, ó, eu alimento meu lado gay com isso.

E bota lado gay nisso. Martha Medeiros é a mais mulherzinha de todas. Não que eu não tenha gostado, ao contrário. O livro, Montanha Russa, contém cem crônicas engraçadas, sensíveis e interessantes, me peguei rindo e pensando em muita coisa enquanto lia. Mas sei lá. Eu me sinto meio masculinóide mesmo, às vezes. Excessivamente crítica, desconfortável com romantismos e ingenuidades, sem paciência com otimismo ou simplismo. Fazer o que, né? Uma pessoa cuja opinião eu respeito muito me disse outro dia: "antes cínico que simplório" e eu tive que concordar. Se bem que também ficam me dizendo que eu não sou cínica, que isso é só uma fase, etc. Anyway.

Sex and The City é divertidinho. Porque tem sexo - o tempo todo, como trepam aquelas mulheres! Até parece que a vida é fácil desse jeito mesmo! - e muitas situações engraçadas. Fetiches, tabus, pau grande, pau pequeno, transar no primeiro encontro, sexo tântrico, com sentimento ou sem sentimento, relacionamentos, problemas com relacionamentos, fins de relacionamentos, corações partidos. Ok. Reconheço, mulher fala de tudo isso mesmo. Mas nem é só disso, sabe? E eu me senti meio banalizada por ser retratada daquela forma tão...mulherzinha.

Quem, eu?

Ta certo, eu tenho as minhas manias e tal. Bem sei que já aborreci muita gente com elas e até decepcionei uns e outros por ser capaz de agir assim ou assado. Coisa que eu lamento profundamente, não gosto de ser neurótica, pode acreditar. E, via de regra, tenho horror de mulherzinha. Elas concentram tudo aquilo que eu desprezo nas minhas companheiras de sexo. Frescura, chiliques, ataques de ciúmes, invasão do espaço alheio, manipulação, jogos em vez de relacionamentos, conversas sobre vida alheia ou novela, filmes e livros água com açúcar, revistas e programas de televisão "voltados para o público feminino", essas coisas. As mulherzinhas são o estereótipo negativo feminino, tudo o que torna as mulheres desinteressantes e irritantes. E muito me incomoda ser rotulada com elas, como se fôssemos uma coisa só.

Enfim, andei me expondo demais esse fim de semana a calcinhas e estrogênio. Tô abastecida por meses inteiros. Acho até que tô precisando de antídoto! O jeito é começar hoje à noite o quarto Mochileiro das Galáxias e chamar meu irmão pra jogar Guitar Hero no PS2. ¬¬

quinta-feira, janeiro 17, 2008

Teresinha

Ontem foi um dia foda. Com um espaço de algumas horas encontrei dois amigos de dez anos. Um, sempre presente na minha vida, é o mesmo a que me referi no "meu, seu, nosso". O outro é um que vejo esporadicamente e a última vez em que nos tínhamos encontrado foi no final de 2006, quando eu tava radiante e cheia de planos pro futuro.

Ambos importantes, cada qual a sua maneira. Cada um remete a uma Lívia e isso é algo interessante de se fazer - ao menos pra mim.

O primeiro me chegou (como quem chega do florista - rá, não reclame, esse é um blog referencista!) no fim da tarde, mancando por causa do joelho, sorrindo, mas com um papo sério pra levar. Aliás, um dos papos mais sérios que já levamos. Muros de tensão, raciocínios graves, verdades duras, enxurradas de sentimento. Algo como um pacto, uma aliança. E a maior declaração de confiança ever. São poucas as vezes em que a gente se dá conta de que ama alguém pra caralho, e essa foi uma delas. Foda.

Ele se foi e me deixou com os meus pensamentos, que me entretiveram até que tocou o telefone. Era o segundo, que (trouxe um litro de aguardente tão amarga de tragar) me chamou prum barzinho, onde sentamos e falamos da vida - desde quando não nos víamos e de tempos antes também. Boas risadas, histórias, impressões, lembranças, piadas. De todas as coisas interessantes que ouvi, destaco as seguintes:

"Todos precisamos de holofotes, mas é necessário discernir até que ponto é iluminação e a partir de onde é ofuscação".

"Não dá pra prescindir de um pouco de cinismo e ironia nessa vida".

"Eu não magôo pessoas, elas é que escolhem se sentir magoadas".

"Você faz parte do panteão feminino da minha vida" (Rá!)

Ah, como é bom conversar com gente que gosta de conversar e que tem coisa que preste pra dizer! :-P

quarta-feira, janeiro 16, 2008

Conversas Insólitas II

- Tem noção que nos últimos minutos você gargalhou E amaldiçoou o mundo?
- É, né?
- Cara, você é bicúspide.
- Hein?? Seu cretinoooooo! Eu não sou um molusco!!
- MOLUSCO?
- Putz, eu entendi bivalvo!
- ahahahahaahah...
- E por que você me chamou de bicúspide?
- Eu quis dizer bipolar...
- ... ¬¬

segunda-feira, janeiro 14, 2008

Catarse cinematográfica

Eu to com um pequeno problema. Descobri sexta feira à noite que não estou conseguindo mais assistir a qualquer filme.

Eu sempre gostei de comédia romântica, por mais descartáveis que elas fossem, porque depois de algumas risadas, acabava tudo bem e, afinal de contas, muitas vezes é pra isso que serve o cinema - pra saciar, pelo menos um pouco, a nossa sede por finais felizes. Por outro lado, assistir a filmes cheios de desgraças em que o mocinho só se fode também era bom, porque, além das diversas reflexões que pudessem suscitar, despertavam um sentimento de "ufa, eu tô até bem!" quando subiam os créditos.

Mas isso agora já era. Eu vejo um filme besta que nem é Must Love Dogs, por exemplo, e fico com uma sensação muito ruim, com um puta gosto amargo na boca. Porque por mais que eu ache divertida a parte em que dá tudo errado, aquela sutil transição que ocorre em todo filme desse tipo, quando as coisas começam a melhorar, em que a trilha sonora muda e em que o personagem começa a ficar mais feliz, não me carrega junto mais. Eu assisto totalmente alheia à vida do cara, que era toda ferrada, se ajeitar. Ele fica com a mocinha e vive feliz pra sempre, e eu sequer consigo reclamar. Não, não tem problema nenhum, o roteiro é bom, os atores também (Diane Lane e John Cusack, por exemplo), o filme ficou bem feitinho, mas... não me toca. Aliás, minto, toca sim. A felicidade alheia - mesmo que de mentirinha - me chateia. Eu penso: cara, acho melhor eu me preparar pra virar a bruxa do João e Maria, vivendo sozinha no meio da floresta numa casa de doces e aprisionando crianças na gaiola pra assar no forno e comer.

E isso também rola com um filme cheio de desgraça que nem o o Mrs. Harris (com a Annete Benning), que eu assisti ontem, por exemplo. Um filme em que a mulher se apaixona pelo cara - aliás, pelo careca, baixinho e narigudo do Ben Kingsley, cruz credo! - que não é muito afeito a intimidades, os dois namoram, ele a pede em casamento, muda de idéia e ela fica os próximos quinze anos namorando o cara "sem exclusividade" e vivendo com ele sem estar realmente com ele. Fica paranóica, deprimida, solitária, infeliz e mal amada. Por fim, quando ela resolve se matar, vai até a casa dele pra se despedir, o tiro acaba pegando nele e o cara morre. Resultado: ela é julgada, condenada e fica presa até os 69 anos. Aí você me pergunta: o que isso tem a ver com você, criatura??? Bom... nada, eu provavelmente direi. Mas não é a coisa específica que me atinge, é a desgraça genérica - eu me identifico! Basta o sofrimento. To na merda!


Aí fodeu, né? Porque de filme de guerra eu não gosto - um dos poucos de que eu gostei foi o Círculo de Fogo (Enemy at the Gates) - filme de terror eu não assisto, filme de artes marciais eu abomino...acabam restando:

1. as comédias respeitáveis;
2. os besteiróis
3. as ficções científicas levando em conta que eu não gosto de Star Wars;
4. as nerdices tipo filmes inspirados em heróis de quadrinhos;
5. os filmes tipo The Departed em que morre todo mundo mesmo e pronto, acabou;
6. os musicais em que a estrela é a música e os dramas não passam de pano de fundo;
7. os thrillers de serial killer com o Morgan Freeman;
8. os desenhos animados da Pixar.

Ah, claro, isso tudo sem mencionar que outro dia, num arroubo de boa vontade e reverência com o cinema brasileiro, eu me sentei cinco minutos diante da televisão pra assistir "Ó Paí ó". Meus amigos, o que é aquilo, pelamordedeus??? Não há Lázaro Ramos e Wagner Moura, nem ufanismo pelo cinema nacional que compense uma porcaria daquele tamanho, misericórdia!

Aliás, preciso analisar se aqueles minutos não me deixaram mais sequelada do que eu já era!...rs

sexta-feira, janeiro 11, 2008

Epifania

O dia em que encontrei esse poema numa prova antiga da UFRJ, meu coração até bateu mais rápido. Parecia que ele dizia o que eu estava tentando desencavar de algum lugar. Algo que circulava com o meu sangue e eu ficava tentando transformar em palavras.

DE MANHÃ

O hábito de estar aqui agora
aos poucos substitui a compulsão
de ser o tempo todo alguém ou algo.

Um belo dia – por algum motivo
é sempre dia claro nesses casos –
você abre a janela, ou abre um pote

de pêssegos em calda, ou mesmo um livro
que nunca há de ser lido até o fim
e então a idéia irrompe, clara e nítida.

É necessário? Não. Será possível?
De modo algum. Ao menos dá prazer?
Será prazer essa existência cega
e latejar na mente o tempo todo?

Então por quê?
E neste exato instante
você por fim entende, e refestela-se
a valer nessa poltrona, a mais cômoda
da casa, e pensa sem rancor:
Perdi o dia, mas ganhei o mundo.

(Mesmo que seja por trinta segundos.)

Paulo Henriques de Brito - As Três Epifanias.

quarta-feira, janeiro 09, 2008

Teorias de boteco

Ontem eu ri como poucas vezes nos últimos tempos. Bons amigos numa mesa de boteco e bons amigos tocando música boa no palco. E aí rola muito papo furado, muita sacanagem, altas histórias cabeludas, algumas observações sérias e, principalmente, grandes teorias.

Uma das melhores seqüências da noite começou, como de costume, com um solo de guitarra excepcional. No palco, um dos meus amigos tocava meio em transe, de olhos fechados, o corpo acompanhando o movimento - frenético - dos dedos. Espectadores que éramos, fomos junto. Olhos, respiração, pulso. Acelerando. Até que ele tirou as mãos das cordas, agarrou o microfone e soltou um gemido rouco e sentido com a voz potente.

Um suspiro e minha amiga e eu trocamos olhares com a expressão em comum no rosto: Ai, caralho. E a declaração que deflagrou o papo:

- Ai, se ele fosse trinta centímetros mais alto!... - ela se abanou.
- TRINTA centímetros? PRA QUE você precisa disso tudo? - eu arregalei os olhos.
- Ah, cara, minha fase de baixinhos está encerrada oficialmente.
- Ai, senhor, dai-me forças...
- É verdade!... - voltou os olhos pro palco com uma expressão de "ai, que pena".

Os meninos entraram na conversa.

- Cara, isso é preconceito. - disse um.
- Eu não entendo essa onda! - atalhou o outro.
- Ah, mas isso é porque vocês dois são dois Oompa Loompas! - ela alfinetou.

Todo mundo caiu na risada, inclusive eles. Viraram a mira pro meu rumo:

- Ô Loka, diz aí...por onde passa esse negócio de mulher preferir homem alto?
- É, tem a ver com estética ou é aquele lance de se sentir protegida e etc...?

Pronto, sobrou pra mim. Até me endireitei na cadeira.

- Olha só... Só dá pra falar por mim, certo? - eles assentiram - Então. Eu já namorei homens altos e baixos, pra mim tanto faz isso. É fato que algumas observações podem ser feitas...cara, eu sou gordinha, ok? Eu luto com a balança e tenho consciência de que nunca vou ser miudinha...

- Ah, não! - eles tentaram interromper.

- Cala a boca, deixa eu falar, porra. - cortei. - Eu sou. E, por isso, sair com um cara alto, grande, é mais confortável porque faz eu me sentir menor, até mais magra.

- Poooorra!
- Espera, caralho, deixa eu falar!
- Ok, fala.
- Então. Por outro lado, não é todo cara baixo que faz a gente se sentir grande. Vocês dois, por exemplo, são baixos, mas...

- São dois Oompa Loompas! Dois mini-craques cabeçudos! - minha amiga provocou novas risadas e eles a mandaram prum lugar intranscritível. É incrível que a gente consiga levar qualquer conversa a cabo.

- MAS - olhei feio pra ela - o volume, a massa corporal de vocês faz parecerem maiores.
- Faz? - eles se surpreenderam. - Mas a gente é normal!
- Faz sim. Vocês não sabem como um homem da mesma altura de vocês, um pouco mais franzino, pode parecer menor... - fiz uma careta.

- Ah, mas aí também entra o espírito de Pincher! - ressaltou um.
- O QUE? - todo mundo caiu na risada de novo.
- É, ora. Se o cara SE SENTE pequeno, se fica intimidado com uma mulher de salto...
- É, todos os meus namorados baixinhos reclamaram dos saltos... - eu considerei.
- UNS BABACAS! - a indignação dos dois foi tanta que quase falaram em uníssono.
- ... e, principalmente, se o cara não tem postura de homem, claro que a garota vai olhar pra ele e ver um cachorro chato que late fininho pedindo colo! - meu amigo completou.

Depois das gargalhadas, meu outro amigo fez cara séria.

- Mas então, cara - olhando pra mim - isso de se sentir menor com um cara grande é neurose sua, né?

- Claro que é neurose minha. Assim como essa baboseira de "trinta centímetros mais alto" é neurose dela! - apontei pra minha amiga - Todo mundo tem as suas!

- Epa, epa, epa! Já viraram a metralhadora pra mim, é?
- Não, cala a boca, você é neurótica mesmo. - ele mostrou a língua tirando sarro dela e se virou pra mim de novo - Cara, eu vou te dizer, na boa, você me conhece, sabe que não tem nada a ver e tal. Mas não me conformo com essa conversa de gordinha. Eu sempre admirei a sua postura tranquila, sua segurança, seu charme. E nisso você deve concordar comigo - se virou pro outro, que assentiu com a cabeça - Você é bonita e consciente do seu corpo. Dá pra ver pelo jeito que você olha, que sorri, que se move e isso é muito sensual.

Eu estava desconsertada, mas ele continuava sério. Aliás, os dois estavam, parecia que meus amigos tinha tirado a noite pruma intervenção na minha auto-estima.

- E tudo isso combinado com a sua personalidade, faz com que você seja extremamente desejável pra qualquer homem. Então não se engane, cara, ao lado de qualquer um você vai parecer exatamente assim. Só precisa se cuidar pra fugir dos babacas...

- É, não perca tempo com espíritos de Pincher... - o outro riu.

Nesse momento a banda fez uma pausa e a minha amiga se levantou, sacudiu os cabelos e foi saindo.

- Ei, onde você vai? - eu quis saber.

Ela piscou pra mim:

- Vou ali descobrir de que cachorro é o espírito do guitarrista!

segunda-feira, janeiro 07, 2008

Hoje

Hoje é mais ou menos o primeiro dia útil do ano. O que não significa que esteja livre de preguiças e de gente dizendo que ainda falta o carnaval - né, Eric? - pro ano efetivamente começar. Hoje o Zoei Grandão voltou à ativa, porque o Cabeça voltou pra casa e por isso a Mônica deve estar morrendo de saudades dele. Hoje o dia foi puxado pra alguns no trabalho e tem gente que vai fazer serão. Hoje o Zander está de volta da terra de Catarina e Alê Félix está de volta ao Brasil. Hoje a Rach resolveu ser borboleta na próxima vida e a Jo me disse uma coisa que me fez rir muito sobre imbecis e tiros pela culatra. Hoje a Dri veio bater papo comigo lá de Roma pra matar a saudade e me deu uma super idéia. Conto depois.

Hoje é aniversário do Gilberto (parabéns, querido!), mas não posso ligar pra ele porque o danadinho ta em Israel (lindas as fotos, viu? Falamos quando você voltar, então!) Hoje a Gabi insinuou que eu não tenho jeito pra aprender a fazer "pole dance" - Ruiva, me dá um crédito, pô! Hoje o Reginaldo foi extremamente solidário com uma coisa nojenta que contei pra ele. Hoje a Lilhoca começou oficialmente a morar sozinha, acho que vou fazer uma serenata com "Mr. Lonely" do Akon pra ela (ok, ok, é brincadeira, não precisa desse boneco de vodu). Ela me chamou pra fazer uma pós graduação lindona e se eu tivesse qualquer emprego, topava no ato, mas do jeito que as coisas estão, só se eu aderir às "casas de massagem" com "altos ganhos". Foda.

Hoje a Andréa não deu as caras o dia inteiro, a Carla e eu tivemos uma conversa séria sobre um assunto indigesto e choveu às píncaras em Uberlândia, o que não impediu de o sol abrir com a corda toda agora à tarde e já estar quente pra caralho de novo. Hoje a Roberta teve que ir à delegacia e eu sinto muito por ela. Hoje a Nayra me disse que não conseguiu comentar o último post porque se embananou com as letras de verificação e que o Gui pergunta sempre pra ela se ela tem certeza de que foi alfabetizada. Eu até acreditaria nisso se a mente jurídica dessa senhorita não fosse tão ágil e se não fosse uma das pessoas mais geniais que eu conheço (serve de retratação, amiga?).

Hoje meu pai acordou doente, não se sabe o que ele tem. Gripe, dengue, indigestão, ziquizira, sei lá. E sempre que ele fica doente, aqui fica tudo bagunçado, o povo fica meio sem rumo. Minha mãe parece uma galinha acuada no ninho. Hoje eu passei a tarde fuçando na legislação federal e municipal, no INSS e na Receita Federal porque preciso que o meu pai seja reconhecido como deficiente físico. Ele ta detestando isso, mas reconhecer as nossas limitações também é parte da coisa toda, né?

Hoje eu teminei o dia pensando num monte de gente, sentindo saudade, relembrando tantas passagens, tantas particularidades. Certamente um monte de gente ficou de fora do post, eu falei com poucas pessoas hoje. Em todo o caso, o post que eu comecei a escrever mais cedo era sobre como eu não gosto de gente e como amo apaixonadamente os meus amigos. Acho, que no fim das contas, esse acabou ficando melhor.

É isso. Beijo pra quem é de beijo e nada pra quem é de nada.

domingo, janeiro 06, 2008

Conversas Insólitas I

Toca o telefone.

Eu: - Alô?
Ela: - Amiga, eu tô passada!
Eu: - Oi! O que foi?
Ela: - Cara, a Eliana só pode estar colocando botox com o mesmo médico da Hebe!
Eu: - Hein?
Ela: - Só pode! A cara dela já ta ficando meio quadradona daquele jeito!
Eu: Eliana? A dos dedinhos? Parecida com a Hebe Camargo?
Ela: É! Aí, até os olhos já tão ficando apertadinhos!
Eu: Ué, vai ver é fetiche.
Ela: Eu to horrorizada! Afinal, Ivo Pitanguy já disse: gente, pelo menos ALGUMA ruga um rosto tem que ter pra manter a dignidade!
Eu: (risos)
Ela: Se ela começar a dizer "grassssssinha" realmente vai ser o fim!
Eu: Aí você vai descobrir que além do médico, elas têm o mesmo dentista...

quinta-feira, janeiro 03, 2008

Meu, Seu, Nosso


Outro dia eu tava batendo papo com um amigo querido. Aliás, O amigo, O cara. O mais antigo, o mais amado, o que mais me conhece, o que mais tem liberdade comigo. Enfim, estávamos os dois afundados no sofá e falamos desde Harry Potter até planos de vida e neuroses (rá, eu devo ter muito a falar sobre isso, né??).

E saiu uma discussão interessante sobre namoros de longo prazo, objetivos em relacionamentos, divisão de espaço, medo de compromisso, essas coisas. Ele defendia que a idéia de um namoro precisar "evoluir", ter algum "objetivo" é uma idéia feminina. Note-se que EU não penso isso, mas como ele mesmo observou: "você tem o cérebro meio masculinóide, né?", então, não sirvo de base. Por minha vez, eu defendia que relacionamento é querer fazer planos juntos, mesmo que seja "vamos pedir uma pizza hoje à noite depois do trabalho?".

Ele argumentava que tecer relacionamentos que sejam estáveis, que envolvam planos e que impliquem em dividir as coisas é complicado porque é necessário o indivíduo abrir mão do SEU espaço em prol de um espaço compartilhado, em que tudo é NOSSO e nada é MEU. E que essa é uma concessão dolorosa.

Eu rebatia dizendo que isso não é absoluto e que decorre necessariamente da experiência pessoal e da maturidade de cada um. Ele, por exemplo, é um cara que teve seu espaço pessoal invadido pelos pais, irmãos, cachorro, vovó, titia e papagaio desde sempre, e que por isso anseia desesperadamente por construir um que seja APENAS seu e onde seja o senhor absoluto. Por outro lado, eu lhe disse, há pessoas (dei o meu exemplo concreto recorrente, ah, os parâmetros!) que conquistaram seu próprio espaço há muito tempo, já passaram por muitas coisas sozinhas, sabem se virar, sabem como se viram e logo não precisam mais se testar perante as coisas que acontecem. Essas pessoas já experimentaram o espaço individual, são senhores dele e da própria vida e concluíram que alguém pra compartilhar esse espaço é algo desejável e factível. Simples assim. E ele teve que concordar comigo.

Eu nunca tive um espaço meu, a não ser este virtual dentro do meu cérebro, onde as idéias se sucedem incessantemente sem censura e frequentemente sem interrupções. Uma pena que no meu espaço mental não dê pra andar só de calcinha, tomar água no gargalo da garrafa da geladeira se eu quiser, desligar o telefone se estiver sem saco pra atender, adotar um gato e convidar alguém pra passar a noite, se me der vontade.

Ok, aqui também não tenho que pagar contas (ao menos não as que se paga em dinheiro), fazer supermercado, lavar a louça, a roupa, o banheiro. Mas nada disso me incomoda. Ainda mais se a idéia for: se eu não fizer, ninguém vai fazer por mim, ao menos não sem eu pagar uma diária, uma vez por semana. Essa perspectiva é ótima, na verdade. Nesse caso, eu tenho o poder absoluto até de viver num chiqueiro, se me convier (BLARGH!).

Por outro lado, o fato de tem sempre tido meu espaço invadido não me torna radical a esse respeito, como quem sustenta discursos inflamados contra casamento, filhos, e etc. Na verdade, eu andava meio em pânico com essa conversa, porque meus relacionamentos andaram se rompendo muito facilmente nos últimos tempos. Então, eu morria de medo de me tornar uma Elizabeth Taylor, cheia de maridos descartáveis. Também ficava apavorada com a perspectiva de ter filhos e nem era pelo fato de que uma vez colocado no mundo, nunca mais aquele moleque me daria sossego. Não, nada disso. A minha parca maturidade só me permitia ir até a perspectiva do parto, da dor excruciante, do quão violento me parecia a idéia de passar uma melancia pelo buraco onde cabe uma laranja.

E dia desses isso mudou, a idéia me pareceu maravilhosa, tanto de dividir meu espaço e meus planos com alguém, como de formar o caráter de uma criança e vê-la crescer. Claro, a idéia me parece boa, mas remota, porque despertar confiança suficiente pra querer isso não é papel pra qualquer um. Não basta querer brincar de casinha. E o momento em que o pacote (casamento + filhos) mudou de figura se foi e não sei se voltará.

E por falar nisso, o meu amigo mencionou que mulheres são condicionadas a brincar de casinha desde cedo. Engraçado, eu brinquei de casinha, sim. Aí raspei a cabeça de todas as bonecas, amarrei um rabo de cavalo e fui correr na rua pra ralar o joelho...

Meu, Seu, Nosso. O que importa mesmo, acabamos concluindo na tal conversa, é que o imprescindível em qualquer relacionamento, da profundidade que for, é a emoção. A capacidade de olhar pro outro e sentir enternecimento, apesar de ele ter deixado a toalha molhada em cima da cama, apesar dela não tirar os cabelos do sabonete. O que conta mesmo, no fim das contas, é a intimidade, o carinho e a admiraçao. O resto é resto.

quarta-feira, janeiro 02, 2008

Virada

20:00 - tomo sorvete.
20:30 - chegam dois torpedos.
21:00 - Bruce All Might.
21:30 - troco pra Sex And The City.
23:55 - envio o único torpedo da noite.
00:00 - tomo um longo banho morno.
00:15 - chegam mais torpedos.
00:30 - Meu Vizinho Mafioso II.
02:30 - muitas risadas depois, vou pra cama.

Acordei sem ressaca, de bom humor (APOCALIPSE!), cheia de planos e já fiz meu ano andar hoje. :-)

2008 que me aguarde.