Eu tenho problemas. É fato, não há o que se discutir. E um deles é o que eu costumo chamar de "mente literária", fato que me rende muitos desaforos do meu consorte, que me olha às vezes como se dissesse: "que diabo de mulher maluca é essa?". Não posso evitar, talvez seja uma deficiência. Uma espécie de autismo, quem sabe. O fato é que se me mandam pensar numa luz, eu penso no dedo do E.T. acendendo e ele dizendo "El...li...ot" ou em alguma outra coisa igualmente pouco razoável. Se conto que na minha sala de pós graduação tem um gordinho sabe-tudo de voz fina absolutamente irritante que sempre chega atrasado e já começa a dar palpite, aproveito pra descrever a tortura medieval a que eu submeteria o filisteu, pendurado pelos polegares em ganchos de açougue. Se paro por um momento observando alguém caminhando, falando, comendo, rindo, fumando, chorando ou sei lá o que, já imagino como seria a descrição daquele personagem, daquelas ações, daquela cena. Se encontro com dois tipos esquisitos que moram no meu condomínio (e SEMPRE que eu boto a cara pra fora lá estão aqueles dois...um deve ser excepcional e o outro, psicopata) está escrito na minha frente que eles seriam o protótipo de vilões assustadores...só não sei se do tipo que usa máscara e se esconde nas sombras, se do tipo que só ataca com facas e tem prazer em ver as vísceras da vítima saltarem, se do tipo que tortura e faz piadinhas irônicas revoltantes, do tipo que tem alguma tara repulsiva e inconfessável. E coisinhas inocentes do tipo.
Aí, como não podia deixar de ser, ontem eu tive um insight desses. Meu amigo RODRIGO NOVAES DE ALMEIDA, um dos brilhantes escritores da nova geração e integrante do Livinrooom (não, o site não morreu, só está de recesso!!!) me mandou um email anunciando a estréia do novo blog dele, o SUPERFÍCIE LÍQUIDA. Eu adorei o nome sem ver nada. Mas antes que eu pudesse me controlar, a mente literária ensandecida pôs-se a divagar. O que me lembra essa expressão, hein?
Superfície Líquida. Um copo de cerveja tombado sobre uma mesa de botequim, a pequena e rasa poça do líquido amarelado de cheiro pungente e enjoativo refletindo as luzes do poste e do par de faróis mais próximo, durante apenas cinco segundos antes de ser engolida pelo guardanapo retirado às pressas e lançado atabalhoadamente sobre o líquido que se espalhava. Superfície Líquida. A água de uma torneira aberta há tanto tempo que se derrama pia abaixo e vai avançando lentamente pelo piso branco do banheiro, alcançando o corpo atingido por algum mal súbito que jaz inerte ali ao lado, sem que ninguém saiba o que aconteceu até que a água ultrapasse a porta de entrada e comece a ser vista pelo corredor. Superfície Líquida. A água do Lago Sul refletindo o ceu absurdamente azul que se estende sobre o planalto central, turvada pelos barcos e lanchas que aceleram e rugem sob o sol de calor absurdo, esturricando até mesmo os jardins pujantes e verdes das imensas casas luxuosas que margeiam placidamente a movimentação do fim de semana. Superficie Líquida. A criança que acorda gritando no meio da noite, suando frio de medo e terror causados pela fera escura e sombria que a persegue no pesadelo, transtornando-a a ponto de perder o controle e se ver em meio a uma grande poça amarela que inunda lençol e colchão, denunciando-lhe a fraqueza e deixando uma marca indelével de vergonha e aviltamento. Superfície Líquida. É o que sente a mão trêmula que apalpa a testa suja de sangue depois do acidente que fez o carro sair da estrada e capotar duas vezes, minutos antes de perder a consciência, ser socorrido e morrer na ambulância a caminho do hospital.
Superfície Líquida. Eu podia continuar indefinidamente, a tarde toda, principalmente se eu soubesse que você, amado leitor, teria paciência de chegar até o fim do post gigante. Ontem, brincando, eu falei pro Rodrigo da história da cerveja e ele me disse que eu o deixei traumatizado, porque conspurquei algo que era uma metáfora pra vida.
Ah, escritores! Bando de malucos. Mas eu sou feliz, ta? Mais louco é quem me diz.
5 comentários:
Dãaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa...
(baba no teclado - superfície líquida)
kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk
Andréa você é GENIAL!!!!!
Nem agradeça Rodrigo!
Beijos, povo!
Eu teria paciência para ler! o/
Saudade. Muita.
Beijão!
"(baba no teclado - superfície líquida)" ahuahhuaahauhauhauhauh
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