sexta-feira, janeiro 11, 2008

Epifania

O dia em que encontrei esse poema numa prova antiga da UFRJ, meu coração até bateu mais rápido. Parecia que ele dizia o que eu estava tentando desencavar de algum lugar. Algo que circulava com o meu sangue e eu ficava tentando transformar em palavras.

DE MANHÃ

O hábito de estar aqui agora
aos poucos substitui a compulsão
de ser o tempo todo alguém ou algo.

Um belo dia – por algum motivo
é sempre dia claro nesses casos –
você abre a janela, ou abre um pote

de pêssegos em calda, ou mesmo um livro
que nunca há de ser lido até o fim
e então a idéia irrompe, clara e nítida.

É necessário? Não. Será possível?
De modo algum. Ao menos dá prazer?
Será prazer essa existência cega
e latejar na mente o tempo todo?

Então por quê?
E neste exato instante
você por fim entende, e refestela-se
a valer nessa poltrona, a mais cômoda
da casa, e pensa sem rancor:
Perdi o dia, mas ganhei o mundo.

(Mesmo que seja por trinta segundos.)

Paulo Henriques de Brito - As Três Epifanias.

Um comentário:

Andréa Paes εїз disse...

Foda! Fiquei fã do poema tb! ^^