quinta-feira, janeiro 03, 2008

Meu, Seu, Nosso


Outro dia eu tava batendo papo com um amigo querido. Aliás, O amigo, O cara. O mais antigo, o mais amado, o que mais me conhece, o que mais tem liberdade comigo. Enfim, estávamos os dois afundados no sofá e falamos desde Harry Potter até planos de vida e neuroses (rá, eu devo ter muito a falar sobre isso, né??).

E saiu uma discussão interessante sobre namoros de longo prazo, objetivos em relacionamentos, divisão de espaço, medo de compromisso, essas coisas. Ele defendia que a idéia de um namoro precisar "evoluir", ter algum "objetivo" é uma idéia feminina. Note-se que EU não penso isso, mas como ele mesmo observou: "você tem o cérebro meio masculinóide, né?", então, não sirvo de base. Por minha vez, eu defendia que relacionamento é querer fazer planos juntos, mesmo que seja "vamos pedir uma pizza hoje à noite depois do trabalho?".

Ele argumentava que tecer relacionamentos que sejam estáveis, que envolvam planos e que impliquem em dividir as coisas é complicado porque é necessário o indivíduo abrir mão do SEU espaço em prol de um espaço compartilhado, em que tudo é NOSSO e nada é MEU. E que essa é uma concessão dolorosa.

Eu rebatia dizendo que isso não é absoluto e que decorre necessariamente da experiência pessoal e da maturidade de cada um. Ele, por exemplo, é um cara que teve seu espaço pessoal invadido pelos pais, irmãos, cachorro, vovó, titia e papagaio desde sempre, e que por isso anseia desesperadamente por construir um que seja APENAS seu e onde seja o senhor absoluto. Por outro lado, eu lhe disse, há pessoas (dei o meu exemplo concreto recorrente, ah, os parâmetros!) que conquistaram seu próprio espaço há muito tempo, já passaram por muitas coisas sozinhas, sabem se virar, sabem como se viram e logo não precisam mais se testar perante as coisas que acontecem. Essas pessoas já experimentaram o espaço individual, são senhores dele e da própria vida e concluíram que alguém pra compartilhar esse espaço é algo desejável e factível. Simples assim. E ele teve que concordar comigo.

Eu nunca tive um espaço meu, a não ser este virtual dentro do meu cérebro, onde as idéias se sucedem incessantemente sem censura e frequentemente sem interrupções. Uma pena que no meu espaço mental não dê pra andar só de calcinha, tomar água no gargalo da garrafa da geladeira se eu quiser, desligar o telefone se estiver sem saco pra atender, adotar um gato e convidar alguém pra passar a noite, se me der vontade.

Ok, aqui também não tenho que pagar contas (ao menos não as que se paga em dinheiro), fazer supermercado, lavar a louça, a roupa, o banheiro. Mas nada disso me incomoda. Ainda mais se a idéia for: se eu não fizer, ninguém vai fazer por mim, ao menos não sem eu pagar uma diária, uma vez por semana. Essa perspectiva é ótima, na verdade. Nesse caso, eu tenho o poder absoluto até de viver num chiqueiro, se me convier (BLARGH!).

Por outro lado, o fato de tem sempre tido meu espaço invadido não me torna radical a esse respeito, como quem sustenta discursos inflamados contra casamento, filhos, e etc. Na verdade, eu andava meio em pânico com essa conversa, porque meus relacionamentos andaram se rompendo muito facilmente nos últimos tempos. Então, eu morria de medo de me tornar uma Elizabeth Taylor, cheia de maridos descartáveis. Também ficava apavorada com a perspectiva de ter filhos e nem era pelo fato de que uma vez colocado no mundo, nunca mais aquele moleque me daria sossego. Não, nada disso. A minha parca maturidade só me permitia ir até a perspectiva do parto, da dor excruciante, do quão violento me parecia a idéia de passar uma melancia pelo buraco onde cabe uma laranja.

E dia desses isso mudou, a idéia me pareceu maravilhosa, tanto de dividir meu espaço e meus planos com alguém, como de formar o caráter de uma criança e vê-la crescer. Claro, a idéia me parece boa, mas remota, porque despertar confiança suficiente pra querer isso não é papel pra qualquer um. Não basta querer brincar de casinha. E o momento em que o pacote (casamento + filhos) mudou de figura se foi e não sei se voltará.

E por falar nisso, o meu amigo mencionou que mulheres são condicionadas a brincar de casinha desde cedo. Engraçado, eu brinquei de casinha, sim. Aí raspei a cabeça de todas as bonecas, amarrei um rabo de cavalo e fui correr na rua pra ralar o joelho...

Meu, Seu, Nosso. O que importa mesmo, acabamos concluindo na tal conversa, é que o imprescindível em qualquer relacionamento, da profundidade que for, é a emoção. A capacidade de olhar pro outro e sentir enternecimento, apesar de ele ter deixado a toalha molhada em cima da cama, apesar dela não tirar os cabelos do sabonete. O que conta mesmo, no fim das contas, é a intimidade, o carinho e a admiraçao. O resto é resto.

4 comentários:

Anônimo disse...

Alçado a recorrente =p

Carla disse...

Pois é... emoção, carinho. Lindas palavras. Até enchem nossos olhos de água ao chegar nessa parte do texto. Aí eu me lembrei de pentelhos grudados no sabonete e tudo desabou!

Andréa Paes εїз disse...

Qual o telefone do gatinho?
*o gatinho da foto, besta!
*Ok... besta foi forte...mal mal...
*Mas passa o telefone do gatinho!
*jurei que essa foto do gatinho era um anúncio de: "ADOTEI UM GATINHOOOOOOOOOOOOO!!! SOU MÃAAAAAAAAEEEEEEEEE!!!"

Jo disse...

Peguei emprestado o seu último parágrafo para colocar lá no meu bróguio... porque ando prá lá de preguiçosa e bastante enternecida ultimamente. ^__^

Beijão! o/