Por vezes os acontecimentos da vida deixam entrever um padrão e, mesmo inconscientemente, acabamos esperando que as coisas aconteçam sempre daquela determinada forma e que as pessoas, mesmo novas, sigam o comportamento de suas precursoras. O que é uma idiotice sem tamanho.
Ela acordou em meio aos lençóis brancos, ouvindo os pássaros cantarem do lado de fora da janela aberta, por onde entrava uma nesga de sol que prometia um dia glorioso. Espreguiçou-se lânguida na cama ampla e respirou fundo, sentindo-se absurdamente feliz. A este pensamento, sentou-se abruptamente na cama, exclamando: “Ai, meu Deus!”. A preocupação estampada no rosto era genuína e, saltando da cama, pôs-se a caminhar de um lado pro outro no quarto, mordendo nervosamente a pele do canto do dedão direito.
Meia hora depois, jogou-se de volta na cama e puxou o telefone no criado mudo pra si. Discou e aguardou ansiosa que atendessem do outro lado.
- Alô?
- Oi, amor...
- Que voz é essa? Aconteceu alguma coisa?
- Não...bom, mais ou menos...
- O que foi? Diz.
- Ah, não é nada demais...
- Quer fazer o favor de me dizer logo o que ta acontecendo? Estou ficando preocupado, caramba!
- É que...eu acordei tão feliz hoje...que fiquei com medo!
- Hein?
- É, fiquei com medo. To tão insegura!
- Insegura?
- É...tá tudo tão bom...que eu sei que vai acontecer alguma coisa!
- Você ta doida? Bebeu?
- Aí, olha como você ta falando comigo! Eu te contando uma coisa séria, que ta me fazendo sofrer e você não ta ligando!
- Querida, ta bom, eu até entendo que você sinta medo e insegurança, isso é normal...eu mesmo sinto isso todos os dias...mas daí a você surtar e sofrer por antecipação por alguma coisa que você nem sabe se vai mesmo acontecer, é loucura!
- Não me chama de louca!
- Não estou te chamando de louca, estou pedindo pra você ser racional, oras!
- Eu sabia, você não me ama mais...está esperando o que pra me deixar?
- Você...já parou pra ouvir o que está dizendo?
- Eu não tenho mais condições de continuar essa conversa...depois eu te ligo, tchau!
Desliga e abraça o travesseiro, chorando copiosamente. O telefone toca, ela ergue um pouco o corpo e olha pro aparelho, imaginando se atenderia. Acaba por estender o braço e balbuciar um alô ininteligível.
- Não acredito que você desligou.
- Des-culpa, m-mas eu n-não que-ria que vo-cê m-me ouvisse cho-chorar...
- Não chora...eu te amo tanto...o que é que mudou, meu amor?
- N-na-da...mas eu tô tão cansada de relacionamentos fracassados! Sempre que eu acho que ta tudo bem, sempre que eu to mais feliz, acontece alguma coisa!
- Se você não acreditar na gente não tem mesmo por que continuar...
- Mas eu acredito...só tenho medo de te perder...
- Não vai me perder.
- Não?
- Não. A gente ta feliz, fazendo planos...não sofra sem motivos!
- Vo-cê m-me ama mesmo?
- Claro que amo! Já não cansei de provar?
- E tudo o que a gente planejou...é pra valer? É de verdade? Você não vai me deixar?
- Claro que é! Eu te amo, dá pra você colocar isso na sua cabeça?
- Ta bom...
- Te pego pra almoçar, ok?
- Ok.
- Beijo, babe.
- Beijo.
Ele desliga e olha o calendário sobre a mesa do escritório, onde vários dias estão assinalados com tinta vermelha. Larga o corpo na cadeira e respira fundo. Maldita TPM.
4 comentários:
Coitado desse cara. Fiquei com dó dele...
Qualquer semelhança com a realidade é mera coincidência?
Hahahahahaha, e tem algumas que são assim todos os dias, portanto, não culpemos apenas a TPM... =P
Ele não te ofereceu uma remedinho azul?
- Quer picanh...valium? (heh)
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