Ela pensou em pendurar uma placa. Escrita em neon vermelho, piscando que nem aquelas antigas propagandas de cigarro. Puxa, isso tinha sido há muito tempo, parecia outra vida. E pensar nessa comparação fazia-a se sentir um pouco velha. Não, velha não. Defasada? Retrógrada? Não. Saudosista. Sim, de fato.
Aliás, ela era assim. Valorizava detalhes, gestos simples, pequenos-grandes significados. Sentia saudade de xícaras de café e sorrisos compartilhados no fim da tarde, lembrava-se comovida de um trecho de livro que lhe tinha sido mostrado, guardava com carinho confidências, histórias e até mesmo piadas bobas.
Gostava de ser assim. Ainda que alguns a julgassem tola, por vezes, era assim que ela sabia sentir as coisas. Pra ela, alguém que tinha um dia sido importante não deixava de sê-lo da noite pro dia, como se apagado pelo pressionar de um botão. Ainda que a vida seguisse seu curso e novos acontecimentos trouxessem sentimentos renovados, a marca das experiências passadas continuava presente, lembrando-a de tudo que já tinha aprendido e incitando-a a fazer direito dessa vez.
E quando se faziam presentes a alegria e a emoção provocadas pelas mudanças, a vontade que tinha era de rir alto e contar pra quem quisesse ouvir. Mais que isso, a vontade era prestar um tributo. E por isso pensou na placa. Penduraria uma, gigantesca, com letreiro em neon vermelho qual o das antigas propagandas de cigarro. E poria nela tudo quanto queria bradar ao mundo, tudo o que lhe supitava pelos olhos e pelos poros, tudo o que fazia brotar aquele sorriso irritante que a acompanhava até mesmo quando caminhava pela rua.
Mas, outra característica marcante da sua personalidade era a sutileza, que, aliada ao gosto pelos pequenos detalhes, a fez mudar de idéia. Em vez da placa, faria uma marca dágua. Discreta, suave, por vezes até mesmo imperceptível. Mas indelével e sempre presente. Que nem o raio do sorriso.
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